A
parábola e o símbolo: dois relatos, uma mesma essência
A parábola do Filho Pródigo, narrada por Jesus em
Lucas 15:11-32, é uma das mais conhecidas e tocantes lições do Evangelho. Nela,
um jovem, após abandonar o lar paterno, esbanjar sua herança e conhecer a
miséria, retorna arrependido, sendo recebido com amor e perdão por seu pai.
Esse ensinamento, de profunda moral espiritual, tem paralelos impressionantes
com a trajetória simbólica de Samael, descrita na segunda parte do Livro
de Melquisedeque, um evangelho apócrifo de conteúdo espiritualista notável.
À luz da Doutrina Espírita, codificada por
Allan Kardec e ditada pelos Espíritos superiores, e com base no método
espírita — que consiste na análise racional, na observação dos fatos
espirituais e na universalidade dos ensinos —, é possível confrontar essas duas
histórias e extrair lições fundamentais para o entendimento do processo
evolutivo do Espírito.
Samael e
o Filho Pródigo: a ilusão da liberdade e a queda pelo orgulho
O jovem da parábola abandona o lar movido pela
ilusão de autonomia. Samael, por sua vez, corrompe os ensinos de Salém após ser
nomeado guardião do “pergaminho da harmonia”. Ambos, em posições privilegiadas,
desviam-se pela vaidade e pelo orgulho, acreditando-se acima das leis
divinas.
Essa atitude está diretamente ligada à lei de
liberdade e ao livre-arbítrio, como ensina o Espiritismo (cf. O
Livro dos Espíritos, questões 115 a 121). Nenhum Espírito é criado mau; a
queda é uma consequência do mau uso da liberdade — e não um castigo divino.
A miséria
e o remorso: consequências naturais da escolha
O filho pródigo acaba por experimentar a fome e a
humilhação, chegando a desejar a comida dos porcos. Samael, ao trair a confiança
do príncipe, também mergulha em um estado de dissociação espiritual e queda
moral.
Segundo Kardec, em A Gênese (cap. III), o
mal é resultado da imperfeição e da ignorância temporárias do Espírito, não de
uma natureza má. Ambos os personagens colhem os frutos amargos de suas
escolhas, conforme a lei de causa e efeito — um dos pilares da justiça
divina na Doutrina Espírita.
Arrependimento,
retorno e regeneração: a vitória do bem
O ponto de virada em ambas as histórias é o arrependimento.
O filho pródigo reconhece sua condição e volta ao pai. Samael, diante da dor,
busca a reconciliação com a ordem de Salém. Não há punição eterna nem exclusão
definitiva — há educação espiritual e recomeço.
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V,
item 27, afirma:
“Deus sempre deixa aberta a porta do arrependimento. A justiça divina se
exerce sempre com misericórdia.”
Ambos os personagens ilustram a mensagem
fundamental da Doutrina Espírita: o mal não é definitivo, o Espírito é
perfectível e todo sofrimento tem por fim o progresso.
Duas
metáforas do Espírito em prova
Tanto Samael quanto o filho pródigo simbolizam o
Espírito em situação de prova e aprendizado. Cada erro cometido não os
define como entidades condenadas, mas como aprendizes em trânsito. A
queda não é o fim, mas parte do processo de ascensão.
O método espírita nos convida a ler além da
letra, interpretando esses relatos como símbolos universais da
trajetória do Espírito imortal, que caminha de forma livre, mas
responsável, rumo à perfeição.
Reflexões
Finais: o Pai aguarda, a Lei educa, o Espírito desperta
A parábola do Filho Pródigo e a história de Samael
nos recordam que o amor divino é sempre receptivo, e que a Lei de
Deus não castiga: ensina. O Pai não impede a partida, mas aguarda de braços
abertos o retorno. A Justiça, com sua sabedoria infinita, organiza os meios
para que o Espírito desperte, aprenda e se reconcilie com a luz.
Como nos ensina o Espírito de Verdade:
“Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o
segundo.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI)
Para
Refletir:
- Quais são os momentos em que, como Samael ou o filho pródigo, nos
deixamos levar pelo orgulho e pela ilusão?
- Temos consciência de que a dor, muitas vezes, é o caminho de
retorno à nossa origem espiritual?
- Estamos atentos aos sinais do arrependimento sincero em nós mesmos
e nos outros?
“Toda falta cometida, todo mal
realizado, é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não o for em uma
existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes; pois todas as existências são
solidárias entre si.”
— O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 7
Leituras
Complementares:
- Lucas 15:11-32 – A Parábola do Filho Pródigo
- Evangelhos Apócrifos – Livro de Melquisedeque
(Segunda Parte)
- O Livro dos Espíritos – Allan Kardec: questões
115 a 121
- O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. V e VI
- A Gênese – Allan Kardec: cap. III
- Revista Espírita – artigos sobre Espíritos
em queda e regeneração
- O Céu e o Inferno – Parte 2: Exemplos de
Espíritos arrependidos
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