quinta-feira, 31 de julho de 2025

O FILHO PRÓDIGO E SAMAEL: DOIS CAMINHOS, 
UM SÓ DESTINO ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -


“Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado.”
— Allan Kardec, A Gênese, cap. I, item 14.

A parábola e o símbolo: dois relatos, uma mesma essência

A parábola do Filho Pródigo, narrada por Jesus em Lucas 15:11-32, é uma das mais conhecidas e tocantes lições do Evangelho. Nela, um jovem, após abandonar o lar paterno, esbanjar sua herança e conhecer a miséria, retorna arrependido, sendo recebido com amor e perdão por seu pai. Esse ensinamento, de profunda moral espiritual, tem paralelos impressionantes com a trajetória simbólica de Samael, descrita na segunda parte do Livro de Melquisedeque, um evangelho apócrifo de conteúdo espiritualista notável.

À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e ditada pelos Espíritos superiores, e com base no método espírita — que consiste na análise racional, na observação dos fatos espirituais e na universalidade dos ensinos —, é possível confrontar essas duas histórias e extrair lições fundamentais para o entendimento do processo evolutivo do Espírito.

Samael e o Filho Pródigo: a ilusão da liberdade e a queda pelo orgulho

O jovem da parábola abandona o lar movido pela ilusão de autonomia. Samael, por sua vez, corrompe os ensinos de Salém após ser nomeado guardião do “pergaminho da harmonia”. Ambos, em posições privilegiadas, desviam-se pela vaidade e pelo orgulho, acreditando-se acima das leis divinas.

Essa atitude está diretamente ligada à lei de liberdade e ao livre-arbítrio, como ensina o Espiritismo (cf. O Livro dos Espíritos, questões 115 a 121). Nenhum Espírito é criado mau; a queda é uma consequência do mau uso da liberdade — e não um castigo divino.

A miséria e o remorso: consequências naturais da escolha

O filho pródigo acaba por experimentar a fome e a humilhação, chegando a desejar a comida dos porcos. Samael, ao trair a confiança do príncipe, também mergulha em um estado de dissociação espiritual e queda moral.

Segundo Kardec, em A Gênese (cap. III), o mal é resultado da imperfeição e da ignorância temporárias do Espírito, não de uma natureza má. Ambos os personagens colhem os frutos amargos de suas escolhas, conforme a lei de causa e efeito — um dos pilares da justiça divina na Doutrina Espírita.

Arrependimento, retorno e regeneração: a vitória do bem

O ponto de virada em ambas as histórias é o arrependimento. O filho pródigo reconhece sua condição e volta ao pai. Samael, diante da dor, busca a reconciliação com a ordem de Salém. Não há punição eterna nem exclusão definitiva — há educação espiritual e recomeço.

O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 27, afirma:
“Deus sempre deixa aberta a porta do arrependimento. A justiça divina se exerce sempre com misericórdia.”

Ambos os personagens ilustram a mensagem fundamental da Doutrina Espírita: o mal não é definitivo, o Espírito é perfectível e todo sofrimento tem por fim o progresso.

Duas metáforas do Espírito em prova

Tanto Samael quanto o filho pródigo simbolizam o Espírito em situação de prova e aprendizado. Cada erro cometido não os define como entidades condenadas, mas como aprendizes em trânsito. A queda não é o fim, mas parte do processo de ascensão.

O método espírita nos convida a ler além da letra, interpretando esses relatos como símbolos universais da trajetória do Espírito imortal, que caminha de forma livre, mas responsável, rumo à perfeição.

Reflexões Finais: o Pai aguarda, a Lei educa, o Espírito desperta

A parábola do Filho Pródigo e a história de Samael nos recordam que o amor divino é sempre receptivo, e que a Lei de Deus não castiga: ensina. O Pai não impede a partida, mas aguarda de braços abertos o retorno. A Justiça, com sua sabedoria infinita, organiza os meios para que o Espírito desperte, aprenda e se reconcilie com a luz.

Como nos ensina o Espírito de Verdade:
“Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI)

Para Refletir:

  • Quais são os momentos em que, como Samael ou o filho pródigo, nos deixamos levar pelo orgulho e pela ilusão?
  • Temos consciência de que a dor, muitas vezes, é o caminho de retorno à nossa origem espiritual?
  • Estamos atentos aos sinais do arrependimento sincero em nós mesmos e nos outros?

“Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não o for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes; pois todas as existências são solidárias entre si.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 7

Leituras Complementares:

  • Lucas 15:11-32 – A Parábola do Filho Pródigo
  • Evangelhos Apócrifos – Livro de Melquisedeque (Segunda Parte)
  • O Livro dos Espíritos – Allan Kardec: questões 115 a 121
  • O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. V e VI
  • A Gênese – Allan Kardec: cap. III
  • Revista Espírita – artigos sobre Espíritos em queda e regeneração
  • O Céu e o Inferno – Parte 2: Exemplos de Espíritos arrependidos

 

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