Para compreender o conceito de "ovóides"
à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, utilizando o método
espírita — ou seja, com base na razão, na observação metódica dos fatos
mediúnicos e na concordância universal dos ensinos dos Espíritos — é necessário
fazer uma distinção clara entre:
- O que pertence ao corpo doutrinário do Espiritismo, sistematizado
por Kardec;
- E o que constitui elaborações ou ampliações posteriores,
oriundas de médiuns ou escolas espíritas, que não fazem parte da
Codificação original.
1. O que
o método espírita nos orienta a fazer
Allan Kardec estabeleceu, especialmente em O
Livro dos Médiuns e em A Gênese, que todo ensinamento espiritual
novo ou incomum deve ser submetido a três critérios fundamentais:
- Controle universal do ensino dos Espíritos — deve ser ensinado por uma pluralidade de Espíritos superiores,
através de médiuns diferentes, em lugares diversos e sem conexão entre si;
- Aprovação da razão — o conteúdo deve ser
logicamente coerente, evitando afirmações que contrariem o bom senso ou as
leis naturais;
- Conformidade com os princípios fundamentais da Doutrina Espírita — não pode contrariar os fundamentos já estabelecidos, como a
imortalidade da alma, o livre-arbítrio, a reencarnação e a lei de causa e
efeito.
2. Kardec
falou sobre ovóides?
Não. O termo "ovóides" não
aparece nas obras da Codificação Espírita, ou seja, em O Livro dos
Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo,
O Céu e o Inferno e A Gênese. Tampouco é mencionado nos textos
publicados por Allan Kardec na Revista Espírita ou em Obras Póstumas.
3. De
onde vem o conceito de ovóides?
O conceito surge principalmente na obra "Evolução
em Dois Mundos" (1958), atribuída ao Espírito André Luiz,
psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira. Nessa obra, descreve-se
que certos Espíritos, ao se fixarem obsessivamente em pensamentos destrutivos e
paixões inferiores, passam por um processo de regressão morfológica, com
atrofia do perispírito, assumindo uma forma ovóide, isto é,
semelhante a um ovo.
Essa condição, segundo a narrativa, pode durar por
longos períodos e está associada a estados profundos de culpa, remorso, ódio ou
apego extremo à matéria.
4. Como
essa ideia pode ser compreendida dentro da Doutrina Espírita?
Embora o conceito de ovóides não esteja na
Codificação, ele pode ser analisado criticamente à luz dos princípios
doutrinários, desde que sob certas condições e ressalvas.
a) Perispírito é plástico e modelável
Kardec afirma que o perispírito
reflete o estado moral do Espírito (ver O Livro dos Médiuns, cap. I,
e A Gênese, cap. XIV). Espíritos inferiores podem apresentar formas
disformes, animalescas ou perturbadas, como descrito em diversos episódios
da Revista Espírita.
Exemplo paralelo doutrinário:
Em O Livro dos Médiuns, há relatos de Espíritos que se apresentam como
sombras, vultos indefinidos ou deformados, em razão de seu estado moral
inferior.
b) Pensamento é criador
A Doutrina ensina que o pensamento
do Espírito age diretamente sobre os fluidos, modelando e influenciando
tanto o seu próprio perispírito quanto o ambiente espiritual ao seu redor (A
Gênese, cap. XIV). Assim, a ideia de que um pensamento fixo, negativo e
obsessivo possa deformar o perispírito encontra base nos princípios
espíritas, ainda que o termo “ovóide” seja posterior.
c) Não há retorno evolutivo (retrogradação)
A Doutrina Espírita é clara ao
afirmar que o Espírito não regride em sua evolução (O Livro dos
Espíritos, questões 118 e 119). Pode ocorrer um estado temporário de
perturbação ou paralisação, mas nunca uma perda do progresso intelectual
ou moral já adquirido.
Portanto, a suposta transformação
em "ovóide" deve ser compreendida não como degradação essencial do
Espírito, mas como manifestação transitória, de natureza fluídica,
refletindo sua autoimagem deteriorada pelo desequilíbrio mental e moral.
5.
Conclusão doutrinária usando o método de Kardec
O conceito de "ovóides":
- Não faz parte da Codificação Espírita, pois não foi elaborado ou sistematizado por Allan Kardec;
- Não passou pelo critério do controle universal do ensino dos
Espíritos, sendo limitado a uma ou poucas fontes
mediúnicas;
- Pode ser compreendido como teoria complementar, não
obrigatória, não essencial à doutrina, mas avaliável
criticamente à luz dos princípios codificados.
Se entendido como um estado fluídico e
temporário, provocado por pensamentos obsessivos sobre o perispírito,
o conceito não fere os princípios fundamentais do Espiritismo. No
entanto, sua aceitação deve ser prudente, e nunca dogmática ou
irrefletida.
6.
Síntese
Ponto |
Doutrina
Espírita Codificada |
Conceito
de Ovóides |
Termo
utilizado por Kardec? |
Não |
Não |
Base
no perispírito e pensamento? |
Sim |
Sim |
Controle
universal dos Espíritos? |
Sim
(para princípios doutrinários) |
Não
(é específico de um médium e obra) |
Compatível
com a Doutrina? |
Sim,
se entendido simbolicamente |
Sim,
com reservas |
Status
doutrinário? |
Doutrina
Espírita (Codificação Oficial) |
Teoria
complementar, especulativa |
Referências
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869). FEB.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. FEB.
Site O Consolador. https://www.oconsolador.com.br
Estudo comparativo com base nos princípios do método espírita expostos em O Livro dos Médiuns, cap. XXVII, item 303.
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