terça-feira, 29 de julho de 2025

O CONCEITO DE “OVÓIDES” À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA 
CODIFICADA POR ALLAN KARDEC
- A Era do Espírito -

Para compreender o conceito de "ovóides" à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, utilizando o método espírita — ou seja, com base na razão, na observação metódica dos fatos mediúnicos e na concordância universal dos ensinos dos Espíritos — é necessário fazer uma distinção clara entre:

  • O que pertence ao corpo doutrinário do Espiritismo, sistematizado por Kardec;
  • E o que constitui elaborações ou ampliações posteriores, oriundas de médiuns ou escolas espíritas, que não fazem parte da Codificação original.

1. O que o método espírita nos orienta a fazer

Allan Kardec estabeleceu, especialmente em O Livro dos Médiuns e em A Gênese, que todo ensinamento espiritual novo ou incomum deve ser submetido a três critérios fundamentais:

  • Controle universal do ensino dos Espíritos — deve ser ensinado por uma pluralidade de Espíritos superiores, através de médiuns diferentes, em lugares diversos e sem conexão entre si;
  • Aprovação da razão — o conteúdo deve ser logicamente coerente, evitando afirmações que contrariem o bom senso ou as leis naturais;
  • Conformidade com os princípios fundamentais da Doutrina Espírita — não pode contrariar os fundamentos já estabelecidos, como a imortalidade da alma, o livre-arbítrio, a reencarnação e a lei de causa e efeito.

2. Kardec falou sobre ovóides?

Não. O termo "ovóides" não aparece nas obras da Codificação Espírita, ou seja, em O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Tampouco é mencionado nos textos publicados por Allan Kardec na Revista Espírita ou em Obras Póstumas.

3. De onde vem o conceito de ovóides?

O conceito surge principalmente na obra "Evolução em Dois Mundos" (1958), atribuída ao Espírito André Luiz, psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira. Nessa obra, descreve-se que certos Espíritos, ao se fixarem obsessivamente em pensamentos destrutivos e paixões inferiores, passam por um processo de regressão morfológica, com atrofia do perispírito, assumindo uma forma ovóide, isto é, semelhante a um ovo.

Essa condição, segundo a narrativa, pode durar por longos períodos e está associada a estados profundos de culpa, remorso, ódio ou apego extremo à matéria.

4. Como essa ideia pode ser compreendida dentro da Doutrina Espírita?

Embora o conceito de ovóides não esteja na Codificação, ele pode ser analisado criticamente à luz dos princípios doutrinários, desde que sob certas condições e ressalvas.

a) Perispírito é plástico e modelável

Kardec afirma que o perispírito reflete o estado moral do Espírito (ver O Livro dos Médiuns, cap. I, e A Gênese, cap. XIV). Espíritos inferiores podem apresentar formas disformes, animalescas ou perturbadas, como descrito em diversos episódios da Revista Espírita.

Exemplo paralelo doutrinário: Em O Livro dos Médiuns, há relatos de Espíritos que se apresentam como sombras, vultos indefinidos ou deformados, em razão de seu estado moral inferior.

b) Pensamento é criador

A Doutrina ensina que o pensamento do Espírito age diretamente sobre os fluidos, modelando e influenciando tanto o seu próprio perispírito quanto o ambiente espiritual ao seu redor (A Gênese, cap. XIV). Assim, a ideia de que um pensamento fixo, negativo e obsessivo possa deformar o perispírito encontra base nos princípios espíritas, ainda que o termo “ovóide” seja posterior.

c) Não há retorno evolutivo (retrogradação)

A Doutrina Espírita é clara ao afirmar que o Espírito não regride em sua evolução (O Livro dos Espíritos, questões 118 e 119). Pode ocorrer um estado temporário de perturbação ou paralisação, mas nunca uma perda do progresso intelectual ou moral já adquirido.

Portanto, a suposta transformação em "ovóide" deve ser compreendida não como degradação essencial do Espírito, mas como manifestação transitória, de natureza fluídica, refletindo sua autoimagem deteriorada pelo desequilíbrio mental e moral.

5. Conclusão doutrinária usando o método de Kardec

O conceito de "ovóides":

  • Não faz parte da Codificação Espírita, pois não foi elaborado ou sistematizado por Allan Kardec;
  • Não passou pelo critério do controle universal do ensino dos Espíritos, sendo limitado a uma ou poucas fontes mediúnicas;
  • Pode ser compreendido como teoria complementar, não obrigatória, não essencial à doutrina, mas avaliável criticamente à luz dos princípios codificados.

Se entendido como um estado fluídico e temporário, provocado por pensamentos obsessivos sobre o perispírito, o conceito não fere os princípios fundamentais do Espiritismo. No entanto, sua aceitação deve ser prudente, e nunca dogmática ou irrefletida.

6. Síntese

Ponto

Doutrina Espírita Codificada

Conceito de Ovóides

Termo utilizado por Kardec?

Não

Não

Base no perispírito e pensamento?

Sim

Sim

Controle universal dos Espíritos?

Sim (para princípios doutrinários)

Não (é específico de um médium e obra)

Compatível com a Doutrina?

Sim, se entendido simbolicamente

Sim, com reservas

Status doutrinário?

Doutrina Espírita (Codificação Oficial)

Teoria complementar, especulativa

Referências
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869). FEB.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. FEB.
Site O Consolador. https://www.oconsolador.com.br
Estudo comparativo com base nos princípios do método espírita expostos em O Livro dos Médiuns, cap. XXVII, item 303.

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