Conta-se que, por volta de 1905, um homem chamado Elezéard
Bouffier, com pouco mais de cinquenta anos, retirou-se para viver só, numa
região montanhosa da Provença, sul da França. As terras estavam
devastadas. Nada crescia, exceto algumas lavandas silvestres. A aridez dominava
o vale. A região, antes habitada, fora aos poucos abandonada pelos que
desistiram de lutar contra o deserto crescente. Mas aquele homem permaneceu.
Extraía água de uma fenda profunda na rocha e, dia
após dia, dedicava-se a uma silenciosa missão: plantar árvores. Com
atenção minuciosa, separava sementes de carvalho, agrupando-as de dez em dez.
Munido de um bastão de ferro e de fé inabalável, subia as colinas, fazia buracos
e depositava as sementes.
Plantava, diariamente, cem grãos de esperança.
Calculava que, de cem mil sementes lançadas à terra, cerca de dez mil se
tornariam árvores adultas. Não era dono da terra. Ninguém o via. Mas seu
coração era movido por uma força que transcendia a lógica do mundo.
A Missão
Silenciosa do Bem
À luz do Espiritismo, esse relato toca
profundamente no conceito da lei de trabalho e da lei de progresso,
como ensinadas em O Livro dos Espíritos. Segundo os Espíritos
Superiores, o trabalho é uma lei natural e, por meio dele, o ser humano
progride material e moralmente (LE, questão 674). O esforço contínuo e
desinteressado de Bouffier mostra o quanto um único Espírito, mesmo sem alarde,
pode contribuir decisivamente para o bem coletivo.
É também um exemplo de ação baseada na lei de
caridade, pois mesmo sem contato direto com os beneficiários futuros de sua
obra, aquele homem plantava para o porvir da humanidade. Sua tarefa silenciosa
pode ser comparada ao trabalho dos bons Espíritos que, invisivelmente,
influenciam para o bem, sem esperar reconhecimento.
A Fé
Racional e a Esperança Ativa
Bouffier orava. Rogava a Deus tempo para continuar
semeando. Sua oração era ativa, encarnava o ensinamento de que a fé
verdadeira se reconhece pela confiança em Deus e pela ação corajosa diante das
dificuldades (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX). Sua fé
não era passiva, mas dinâmica. Ele acreditava e, por isso, plantava.
Como ensina Kardec, “fé inabalável é somente aquela
que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.” (ESE,
cap. XIX, item 7). A fé de Bouffier era assim: sem fanatismo, sem misticismo,
mas profundamente racional e transformadora.
O Homem
Como Co-Criador
Ao final de anos de perseverança, aquela região,
antes seca e esquecida, transformou-se. Os carvalhos cresceram. As faias
resistiram. As bétulas floresceram. Riachos reapareceram. A vida retornou onde
antes havia desolação.
Na Doutrina Espírita, aprendemos que o ser humano é
co-criador em plano menor, conforme os Espíritos Emmanuel e André Luiz nos revelam em
obras como A Caminho da Luz e Evolução em Dois Mundos, por meio
da mediunidade de Chico Xavier. A transformação daquele vale é a materialização
desse princípio: quando nos colocamos a serviço do bem, em harmonia com as leis
divinas, tornamo-nos instrumentos de regeneração e beleza.
Legado
Espiritual
O gesto de Bouffier simboliza também a semeadura
moral que todos podemos realizar: plantando ideias elevadas, bons exemplos,
atitudes fraternas. A terra seca representa o coração humano endurecido pelo
egoísmo; as sementes, o amor em ação.
Como diz o Espírito de Verdade: “Espíritas!
Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” (ESE,
cap. VI, item 5). Aquele homem simples amava a natureza, a vida e, por
consequência, a humanidade. Instruiu-se pela observação, pela paciência, pela
serenidade. E deixou um legado que ultrapassa o físico — legou esperança.
Conclusão
Ao refletirmos sobre essa história sob a ótica
espírita, somos convidados a perseverar no bem, mesmo que invisíveis aos
olhos do mundo. Nossas pequenas ações, repetidas com amor, têm o poder de
transformar desertos em jardins, e corações áridos em fontes de vida.
Assim como Elezéard Bouffier, sejamos semeadores da
esperança, confiantes na lei de Deus, certos de que o bem, mesmo que
silencioso, nunca é em vão.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, pelo Espírito Emmanuel. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido / VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz. FEB.
Inspiração
complementar:
Baseado no conto e curta-metragem O Homem que Plantava Árvores, de Jean
Giono (versão animada premiada com o Oscar em 1988).
YouTube: Link para o
curta
Fonte adicional: www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3584&let=H&stat=0
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