segunda-feira, 28 de julho de 2025

 

O HOMEM QUE PLANTAVA ESPERANÇA: 
UMA REFLEXÃO À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –

Conta-se que, por volta de 1905, um homem chamado Elezéard Bouffier, com pouco mais de cinquenta anos, retirou-se para viver só, numa região montanhosa da Provença, sul da França. As terras estavam devastadas. Nada crescia, exceto algumas lavandas silvestres. A aridez dominava o vale. A região, antes habitada, fora aos poucos abandonada pelos que desistiram de lutar contra o deserto crescente. Mas aquele homem permaneceu.

Extraía água de uma fenda profunda na rocha e, dia após dia, dedicava-se a uma silenciosa missão: plantar árvores. Com atenção minuciosa, separava sementes de carvalho, agrupando-as de dez em dez. Munido de um bastão de ferro e de fé inabalável, subia as colinas, fazia buracos e depositava as sementes.

Plantava, diariamente, cem grãos de esperança. Calculava que, de cem mil sementes lançadas à terra, cerca de dez mil se tornariam árvores adultas. Não era dono da terra. Ninguém o via. Mas seu coração era movido por uma força que transcendia a lógica do mundo.

A Missão Silenciosa do Bem

À luz do Espiritismo, esse relato toca profundamente no conceito da lei de trabalho e da lei de progresso, como ensinadas em O Livro dos Espíritos. Segundo os Espíritos Superiores, o trabalho é uma lei natural e, por meio dele, o ser humano progride material e moralmente (LE, questão 674). O esforço contínuo e desinteressado de Bouffier mostra o quanto um único Espírito, mesmo sem alarde, pode contribuir decisivamente para o bem coletivo.

É também um exemplo de ação baseada na lei de caridade, pois mesmo sem contato direto com os beneficiários futuros de sua obra, aquele homem plantava para o porvir da humanidade. Sua tarefa silenciosa pode ser comparada ao trabalho dos bons Espíritos que, invisivelmente, influenciam para o bem, sem esperar reconhecimento.

A Fé Racional e a Esperança Ativa

Bouffier orava. Rogava a Deus tempo para continuar semeando. Sua oração era ativa, encarnava o ensinamento de que a fé verdadeira se reconhece pela confiança em Deus e pela ação corajosa diante das dificuldades (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX). Sua fé não era passiva, mas dinâmica. Ele acreditava e, por isso, plantava.

Como ensina Kardec, “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.” (ESE, cap. XIX, item 7). A fé de Bouffier era assim: sem fanatismo, sem misticismo, mas profundamente racional e transformadora.

O Homem Como Co-Criador

Ao final de anos de perseverança, aquela região, antes seca e esquecida, transformou-se. Os carvalhos cresceram. As faias resistiram. As bétulas floresceram. Riachos reapareceram. A vida retornou onde antes havia desolação.

Na Doutrina Espírita, aprendemos que o ser humano é co-criador em plano menor, conforme os Espíritos Emmanuel e André Luiz nos revelam em obras como A Caminho da Luz e Evolução em Dois Mundos, por meio da mediunidade de Chico Xavier. A transformação daquele vale é a materialização desse princípio: quando nos colocamos a serviço do bem, em harmonia com as leis divinas, tornamo-nos instrumentos de regeneração e beleza.

Legado Espiritual

O gesto de Bouffier simboliza também a semeadura moral que todos podemos realizar: plantando ideias elevadas, bons exemplos, atitudes fraternas. A terra seca representa o coração humano endurecido pelo egoísmo; as sementes, o amor em ação.

Como diz o Espírito de Verdade: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” (ESE, cap. VI, item 5). Aquele homem simples amava a natureza, a vida e, por consequência, a humanidade. Instruiu-se pela observação, pela paciência, pela serenidade. E deixou um legado que ultrapassa o físico — legou esperança.

Conclusão

Ao refletirmos sobre essa história sob a ótica espírita, somos convidados a perseverar no bem, mesmo que invisíveis aos olhos do mundo. Nossas pequenas ações, repetidas com amor, têm o poder de transformar desertos em jardins, e corações áridos em fontes de vida.

Assim como Elezéard Bouffier, sejamos semeadores da esperança, confiantes na lei de Deus, certos de que o bem, mesmo que silencioso, nunca é em vão.

Referências doutrinárias:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, pelo Espírito Emmanuel. FEB.
XAVIER, Francisco Cândido / VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz. FEB. 

Inspiração complementar:
Baseado no conto e curta-metragem O Homem que Plantava Árvores, de Jean Giono (versão animada premiada com o Oscar em 1988).
YouTube: Link para o curta
Fonte adicional: www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3584&let=H&stat=0

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