quinta-feira, 31 de julho de 2025

 

RESSENTIMENTO: A PRISÃO SILENCIOSA DA ALMA
- A Era do Espírito – 

"Guardar ressentimento é como segurar uma brasa ardente com a intenção de jogá-la em alguém — enquanto queima a própria mão."

Essa metáfora, amplamente conhecida, descreve com precisão o sofrimento autoimposto que o ressentimento nos causa. Outra comparação igualmente impactante afirma que “o ressentimento é um veneno que tomamos esperando que o outro morra”. Ambas imagens traduzem a realidade íntima de quem permanece preso à dor do passado, remoendo feridas que o tempo insiste em não curar porque a alma ainda não se decidiu a libertar-se delas.

Na raiz da palavra ressentimento, encontramos o verbo ressentir, que significa sentir intensamente e sentir de novo. É exatamente isso que fazemos quando guardamos mágoa: revivemos, vezes sem conta, a dor de um episódio que já passou. E com isso, alimentamos uma fonte contínua de desgaste emocional, espiritual e até físico.

A escolha possível: ressentir ou libertar-se?

À primeira vista, parece que não temos escolha. “Mas é mais forte do que eu”, muitos dizem. De fato, sentir raiva ou tristeza diante de uma agressão é natural. Somos seres em aprendizado, sensíveis e imperfeitos. Porém, permanecer indefinidamente acorrentado a esse estado emocional — aí sim, já é uma decisão consciente ou inconsciente que precisa ser revista.

A Doutrina Espírita, ao lançar luz sobre as causas e consequências morais dos nossos sentimentos, nos convida ao autoconhecimento como chave libertadora. No item 919 de O Livro dos Espíritos, ao ser perguntado sobre o meio mais prático para melhorar-se nesta vida, o Espírito de Verdade responde: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo.” É esse olhar sincero sobre as próprias emoções que nos permite perceber que guardar ressentimento é, sim, uma escolha — ainda que difícil — que pode ser substituída por um processo de cura interior e transformação moral.

O alerta de Joanna de Ângelis

Em sua profunda análise psicológica do ser humano, o Espírito Joanna de Ângelis esclarece, na obra Conflitos, que:

"É compreensível o surgimento de uma certa frustração e mesmo de desagrado diante de confrontos e de agressões promovidas por outrem, dando lugar a mágoas, que são uma certa aflição de caráter transitório. Não, porém, à instalação do ressentimento."

Ou seja, a mágoa pode até surgir como reação natural, mas o ressentimento — esse sentimento cristalizado e cultivado — é nocivo e desnecessário. Quando cultivamos o rancor, permanecemos aprisionados a quem nos feriu, como se entregássemos ao ofensor o poder de continuar nos ferindo continuamente.

A libertação pelo perdão

Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (capítulo X), apresenta o perdão como um dos pilares da moral cristã. Ensina que perdoar não é esquecer artificialmente, mas compreender, renunciar ao desejo de vingança e libertar-se do peso inútil da mágoa. Ao contrário do que muitos pensam, perdoar não é beneficiar o agressor — é beneficiar-se, é devolver-se à paz.

No mesmo sentido, os Espíritos Superiores nos lembram de que nenhuma injustiça escapa à Lei Divina. Deus, sendo soberanamente justo e bom, governa o Universo por meio de leis perfeitas de causa e efeito. Assim, não precisamos nos preocupar com a impunidade dos que nos ferem. A cada um será dado segundo suas obras (Mateus 16:27).

Ressentimento e saúde: uma conexão esquecida

A Doutrina Espírita, ao tratar da ligação entre o corpo e o espírito, também nos alerta para os efeitos físicos das emoções negativas. Em A Gênese, Kardec afirma que os fluidos espirituais sofrem a influência dos nossos pensamentos e sentimentos. Quando estes são desequilibrados, como no caso do ódio e do ressentimento, produzem consequências prejudiciais tanto ao perispírito quanto ao organismo físico.

Não à toa, médicos e terapeutas já reconhecem a influência de sentimentos como a mágoa na gênese de diversas enfermidades psicossomáticas. O Espiritismo, com sua visão integral do ser humano, antecipa e aprofunda essa compreensão ao mostrar que o perdão é um recurso de cura para o Espírito e para o corpo.

Conclusão: a leveza de ser livre

Deitar a cabeça no travesseiro e poder dizer: “Não guardo mágoa de ninguém” — eis uma das maiores conquistas do Espírito em evolução. Trata-se de uma verdadeira vitória íntima, sinal de maturidade espiritual e de alinhamento com as Leis Divinas.

Relevar, perdoar, seguir adiante... são movimentos que exigem esforço, mas que trazem uma recompensa impagável: a liberdade interior.

Assim, à luz da Doutrina Espírita, aprendamos que o ressentimento é uma prisão sem grades visíveis, mas que nos fere profundamente — e da qual só nós podemos nos libertar.

Façamos essa escolha: pela paz, pelo amor, pela saúde e pela liberdade da alma.

Referências doutrinárias e complementares:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Conflitos. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. LEAL.
  • Artigo base: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3372&let=B&stat=0

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