"Guardar
ressentimento é como segurar uma brasa ardente com a intenção de jogá-la em
alguém — enquanto queima a própria mão."
Essa metáfora, amplamente conhecida, descreve com precisão o sofrimento autoimposto que o ressentimento nos causa. Outra comparação igualmente impactante afirma que “o ressentimento é um veneno que tomamos esperando que o outro morra”. Ambas imagens traduzem a realidade íntima de quem permanece preso à dor do passado, remoendo feridas que o tempo insiste em não curar porque a alma ainda não se decidiu a libertar-se delas.
Na raiz da palavra ressentimento,
encontramos o verbo ressentir, que significa sentir intensamente e
sentir de novo. É exatamente isso que fazemos quando guardamos mágoa:
revivemos, vezes sem conta, a dor de um episódio que já passou. E com isso,
alimentamos uma fonte contínua de desgaste emocional, espiritual e até físico.
A escolha
possível: ressentir ou libertar-se?
À primeira vista, parece que não temos escolha. “Mas é mais forte do que eu”, muitos
dizem. De fato, sentir raiva ou tristeza diante de uma agressão é natural.
Somos seres em aprendizado, sensíveis e imperfeitos. Porém, permanecer
indefinidamente acorrentado a esse estado emocional — aí sim, já é uma decisão
consciente ou inconsciente que precisa ser revista.
A Doutrina Espírita, ao lançar luz sobre as
causas e consequências morais dos nossos sentimentos, nos convida ao autoconhecimento
como chave libertadora. No item 919 de O Livro dos Espíritos, ao ser
perguntado sobre o meio mais prático para melhorar-se nesta vida, o Espírito de
Verdade responde: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti
mesmo.” É esse olhar sincero sobre as próprias emoções que nos permite
perceber que guardar ressentimento é, sim, uma escolha — ainda que difícil —
que pode ser substituída por um processo de cura interior e transformação
moral.
O alerta
de Joanna de Ângelis
Em sua profunda análise psicológica do ser humano, o
Espírito Joanna de Ângelis esclarece, na obra Conflitos, que:
"É compreensível o surgimento de uma certa
frustração e mesmo de desagrado diante de confrontos e de agressões promovidas
por outrem, dando lugar a mágoas, que são uma certa aflição de caráter
transitório. Não, porém, à instalação do ressentimento."
Ou seja, a mágoa pode até surgir como reação
natural, mas o ressentimento — esse sentimento cristalizado e cultivado — é
nocivo e desnecessário. Quando cultivamos o rancor, permanecemos
aprisionados a quem nos feriu, como se entregássemos ao ofensor o poder de
continuar nos ferindo continuamente.
A
libertação pelo perdão
Allan Kardec, em O Evangelho segundo o
Espiritismo (capítulo X), apresenta o perdão como um dos pilares da moral
cristã. Ensina que perdoar não é esquecer artificialmente, mas compreender,
renunciar ao desejo de vingança e libertar-se do peso inútil da mágoa. Ao
contrário do que muitos pensam, perdoar não é beneficiar o agressor — é
beneficiar-se, é devolver-se à paz.
No mesmo sentido, os Espíritos Superiores nos
lembram de que nenhuma injustiça escapa à Lei Divina. Deus, sendo
soberanamente justo e bom, governa o Universo por meio de leis perfeitas de
causa e efeito. Assim, não precisamos nos preocupar com a impunidade dos que
nos ferem. A cada um será dado segundo
suas obras (Mateus 16:27).
Ressentimento
e saúde: uma conexão esquecida
A Doutrina Espírita, ao tratar da ligação entre o
corpo e o espírito, também nos alerta para os efeitos físicos das emoções
negativas. Em A Gênese, Kardec afirma que os fluidos espirituais sofrem
a influência dos nossos pensamentos e sentimentos. Quando estes são
desequilibrados, como no caso do ódio e do ressentimento, produzem
consequências prejudiciais tanto ao perispírito quanto ao organismo físico.
Não à toa, médicos e terapeutas já reconhecem a
influência de sentimentos como a mágoa na gênese de diversas enfermidades
psicossomáticas. O Espiritismo, com sua visão integral do ser humano, antecipa
e aprofunda essa compreensão ao mostrar que o perdão é um recurso de cura
para o Espírito e para o corpo.
Conclusão:
a leveza de ser livre
Deitar a cabeça no travesseiro e poder dizer: “Não
guardo mágoa de ninguém” — eis uma das maiores conquistas do Espírito em
evolução. Trata-se de uma verdadeira vitória íntima, sinal de maturidade
espiritual e de alinhamento com as Leis Divinas.
Relevar, perdoar, seguir adiante... são movimentos
que exigem esforço, mas que trazem uma recompensa impagável: a liberdade
interior.
Assim, à luz da Doutrina Espírita, aprendamos que o
ressentimento é uma prisão sem grades visíveis, mas que nos fere
profundamente — e da qual só nós podemos nos libertar.
Façamos essa escolha: pela paz, pelo amor, pela
saúde e pela liberdade da alma.
Referências doutrinárias e complementares:
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
- JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Conflitos. Psicografia de
Divaldo Pereira Franco. LEAL.
- Artigo base:
momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3372&let=B&stat=0
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