domingo, 20 de julho de 2025

 



SERENIDADE À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA:
UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA SUPERIOR
- A Era do Espírito –


SERENIDADE
Elio Mollo
03 dez 2007

Sereno é o voo elevado do pássaro;
da nuvem alta que se desloca no céu;
do movimento da água do córrego,
que, sem qualquer violentação,
ensina ao que o contempla
o significado da pacificação.

Ser sereno significa:
estar claro, simples,
sem qualquer animosidade.
É ser ponderado
e ter suavidade na ação,
consciente de que a paz
não é nenhuma ilusão.

Serenidade é diferente de inquietação,
mas é semelhante à brisa que agita as flores,
ou de um lago com suas águas em modulação,
batendo às margens, entoando suave canção.

A serenidade está na espontaneidade
que faz parte de cada individualidade,
com a completa ausência da superioridade,
envolvendo suas relações com gentil amabilidade. 

A serenidade está na certeza do amanhã;
na convicção da boa ação;
no sorriso que brota voluntário e sincero;
no abraço do amigo irmão;
no sentir Deus no fundo do coração.

* * * 

Introdução 

A serenidade é frequentemente confundida com passividade ou fuga da realidade, mas, sob a ótica da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, ela representa muito mais: é um estado de consciência elevado, uma conquista do espírito em evolução que aprendeu a harmonizar razão, sentimento e ação diante dos desafios da existência. 

Inspirado por um texto poético e filosófico que evoca imagens de paz e equilíbrio — como o voo do pássaro, a fluidez da água e a suavidade da brisa — este artigo propõe uma reflexão espírita sobre o que significa verdadeiramente ser sereno, à luz da filosofia espiritual que integra ciência, moral e fé raciocinada. 

Serenidade: Não Fuga, Mas Enfrentamento Consciente 

Segundo os ensinamentos espíritas, a serenidade não é escapismo, mas uma postura interior que permite ao espírito enfrentar as dificuldades da vida terrena com equilíbrio e lucidez. 

Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, ressalta que o verdadeiro discípulo do Cristo se reconhece por sua paciência, resignação e coragem diante das provas, virtudes que caracterizam um espírito sereno. Tal serenidade não ignora o sofrimento, mas compreende seu papel no processo evolutivo. 

“Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados.”  (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V)

A Serenidade como Estado de Consciência 

No Espiritismo, os estados interiores não são ilusões, mas expressões do grau de adiantamento do espírito. A serenidade, portanto, é um estado de consciência compatível com espíritos que já compreendem: 

- a transitoriedade das dores materiais;

- o valor da fé raciocinada;

- a confiança nas Leis Divinas;

- a certeza de que o bem sempre prevalecerá, ainda que aos olhos humanos tudo pareça injusto ou incerto. 

Essa serenidade consciente é fruto do entendimento espiritual que o Espiritismo oferece, ao elucidar questões fundamentais da existência, como a imortalidade da alma, a reencarnação, a lei de causa e efeito e a justiça divina. 

Serenidade e a Construção do Ser 

A serenidade também está ligada à busca do autoconhecimento e do sentido da vida — ou seja, à construção do Ser. 

Segundo Herculano Pires, filósofo espírita, a individualização espiritual se dá em um processo contínuo, onde o espírito passa do estado de ignorância e instinto para a plena consciência de si e de sua relação com o Todo. Esse percurso, que ele define como a “espiral da ipseidade”, é marcado por: 

- interexistência (a relação dinâmica entre o eu e o mundo),

- coesão interna (coerência entre pensamento e ação),

- e suavidade na expressão (benevolência no trato com os outros).

A serenidade, nesse contexto, é o reflexo de uma alma que encontrou sua posição no universo e vive de forma consciente e ética, em harmonia com os demais seres e com as Leis Naturais. 

Serenidade e Reforma Íntima 

Kardec ensina que o verdadeiro espírita é aquele que se esforça constantemente para domar suas más inclinações. Esse esforço faz parte do que a Doutrina chama de reforma íntima — o trabalho de lapidação do espírito encarnado. 

A serenidade surge como resultado desse processo, pois o espírito que se conhece, que entende o valor das experiências e que vive com gratidão, caridade e perdão, naturalmente se torna mais sereno. Ele não se agita pelas contrariedades do mundo, pois sabe que tudo passa, e que o essencial é a paz da consciência e o cumprimento do dever. 

Sinais de Serenidade: Um Espírito em Paz com Deus e com o Mundo 

A serenidade se manifesta em gestos simples: 

- no sorriso espontâneo;

- no silêncio respeitoso diante da ofensa;

- no abraço sincero;

- na escuta atenta;

- na oração sem desespero, mas com confiança.

É o que o poema evoca ao dizer que a serenidade está: 

“No sentir Deus no fundo do coração.” 

É um estado que não nega a dor, mas a compreende como parte do caminho. É a “brisa que agita as flores”, e não a tempestade que as destrói. É o “lago com suas águas em modulação”, que toca com doçura e não com violência. 

Conclusão 

A serenidade é uma conquista espiritual que se desenvolve na convivência com os outros, no trabalho diário, nas provas e nas lutas da existência humana. Não é resignação cega nem indiferença, mas uma força silenciosa, que brota da fé esclarecida e da certeza de que somos todos espíritos em marcha rumo à perfeição. 

À luz da Doutrina Espírita, ser sereno é saber que: 

- o sofrimento é temporário;

- o mal não tem a última palavra;

- a paz interior é reflexo da harmonia com as Leis Divinas;

- a transformação do mundo começa na transformação de si mesmo. 

Como resume Allan Kardec: 

“A calma, em meio às lutas da vida, é sempre um indício de fé, porque denota confiança no futuro.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 12) 

Referências

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. Paris: 1857.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed. Paris: 1864.
PIRES, José Herculano. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo: Edicel.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. O Céu e o Inferno. Brasília: FEB.

 

 

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