Recebi recentemente um e-mail que denunciava a
matança de golfinhos em um país europeu, ilustrado com imagens perturbadoras e
apelos emocionados por justiça. A comoção foi inevitável. As imagens falavam
por si: uma prática cruel, disfarçada de tradição ou cultura, que fere os olhos
e o coração de qualquer pessoa minimamente sensível.
Movido pela indignação, decidi pesquisar o assunto,
buscando compreender melhor o que ocorre e como as pessoas reagem a isso. A
revolta inicial, que logo se ampliou em tristeza, não foi apenas pela prática
bárbara em si, mas pelas contradições que encontrei nos próprios discursos de
quem protesta.
Muitos se dizem defensores dos animais, abominam a
matança, mas ao mesmo tempo justificam o consumo de carne, o uso de peles, a
exploração de animais em espetáculos, ou mesmo desejam vingança contra os
autores das atrocidades. É nesse ponto que a reflexão precisa ser aprofundada.
A vida é
sagrada — de todos os seres
À luz da Doutrina Espírita, toda forma de
vida é expressão da inteligência divina em processo de evolução. Allan Kardec
ensina em O Livro dos Espíritos, questões 585 a 591, que os animais,
embora não tenham livre-arbítrio como o ser humano, possuem um princípio
inteligente em desenvolvimento. São criaturas de Deus, como nós, e seguem
também seu caminho de progresso.
Assim, quando atentamos contra a vida de qualquer
ser — por prazer, tradição ou conveniência — estamos violentando uma obra do
Criador. Em A Gênese, Kardec afirma que o progresso moral da humanidade
se manifesta, entre outros aspectos, no respeito à vida e na repulsa à
crueldade.
Contudo, conforme reconhecem os Espíritos
superiores, há situações em que o ser humano ainda necessita, por condições
orgânicas e sociais, do consumo da proteína animal. Esse estágio está
relacionado ao nível evolutivo do planeta e das necessidades materiais de cada
indivíduo. O que não se pode admitir, sob nenhuma hipótese, é o sofrimento
deliberado, a matança por diversão ou qualquer forma de crueldade gratuita.
Mesmo quando a alimentação exige o uso de recursos animais, o respeito e a
compaixão devem nortear nossas atitudes.
A
incoerência entre o discurso e a prática
Muitas pessoas reagem à violência contra os animais
com revolta, mas deixam escapar incoerências gritantes. Ficam indignadas com a
matança dos golfinhos, mas consomem diariamente produtos oriundos de práticas
igualmente cruéis com bovinos, suínos, aves e tantos outros animais criados
para o abate em escala industrial.
Como afirma o Espírito Emmanuel, pela psicografia
de Chico Xavier (O Consolador, pergunta 129):
“A
alimentação carnívora será banida da Terra, à medida que a humanidade se
purifique moralmente”.
A transição será gradual, naturalmente, pois faz
parte de um processo evolutivo. No entanto, isso não impede que cada um de nós
reflita sobre suas escolhas e procure agir com mais compaixão.
A cultura
não justifica a crueldade
Matar não se justifica pela cultura, tradição ou
conveniência. O Espiritismo ensina que a verdadeira evolução é moral, e não
técnica ou material. Nenhum avanço científico justifica a perda de valores
humanos. O progresso verdadeiro é o que nos aproxima do bem, do amor e da
justiça.
Não há evolução possível sem o respeito à vida.
Nenhuma sociedade poderá realmente chamar-se civilizada enquanto tolerar, ou
pior, celebrar o sofrimento de qualquer criatura.
Justiça,
sim. Vingança, não
Outro ponto importante é a reação de ódio contra os
que praticam atos bárbaros. Muitos desejam “olho
por olho”, a punição em igual medida. Mas como ensina a Doutrina Espírita,
o bem não se faz com o mal. A lei de causa e efeito é inexorável: cada um
responderá por seus atos, no tempo certo e conforme sua responsabilidade.
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
XII, ensina que “odiar o mal é permitido;
odiar o homem, jamais”. O mal se combate com a educação, a luz, o exemplo.
A justiça verdadeira é a reeducação moral do Espírito, e não a punição
vingativa.
A
responsabilidade individual no processo de regeneração
Estamos atravessando um momento de transição
espiritual na Terra, rumo a um mundo de regeneração. Nessa nova era, como
apontam os Espíritos superiores, o amor será a lei maior. Não haverá lugar para
a violência, a crueldade e a indiferença.
Cada um pode ser um agente desse novo tempo. Não é
necessário esperar grandes movimentos ou revoluções para começar. Pequenos
gestos — como reduzir o consumo de carne, evitar produtos que envolvam testes
ou sofrimento animal, educar com compaixão — já são sementes de transformação.
Como disse Leonardo da Vinci:
“Virá
o dia em que a matança de um animal será considerada crime tanto quanto o
assassinato de um homem”.
Que esse dia venha com a ajuda de todos nós. A cada
escolha consciente, aceleramos o progresso moral da humanidade.
Conclusão:
por um mundo mais justo e compassivo
O Espiritismo nos convida a viver com consciência,
responsabilidade e amor. Amar ao próximo não se limita ao ser humano. O “próximo” é todo ser vivo que
compartilha conosco a vida neste planeta.
A sacralidade da vida é uma lição espiritual profunda, e o respeito aos animais é parte desse aprendizado. Que possamos refletir sobre nossas ações, rever hábitos, e construir, pouco a pouco, um mundo mais justo, fraterno e compassivo.
Referências doutrinárias:KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questões 585 a 591.
KARDEC, Allan. A Gênese, capítulo XI.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XII.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel, pergunta 129.
Revista Espírita (Allan Kardec), diversos artigos sobre moral e evolução.
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