segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 

A AÇÃO POLÍTICA E SOCIAL DO ESPÍRITA: UM COMPROMISSO COM A JUSTIÇA, O AMOR E A VERDADE
- A Era do Espírito -

Por que, no mundo, a influência dos maus frequentemente sobrepuja a dos bons?

Essa questão, formulada por Allan Kardec na questão 932 de O Livro dos Espíritos, recebeu uma resposta direta e desconcertante dos Espíritos Superiores:

“Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.”

Esse alerta moral, claro e profundo, nos convida a refletir sobre o papel ativo e transformador do homem de bem na sociedade. O Espiritismo, quando bem compreendido e vivido, não é doutrina de isolamento ou passividade, mas de ação responsável, esclarecida e solidária. O bem precisa ser ativo, operante, corajoso. Se os que desejam o bem se omitem, abrem espaço para que o mal, ousado e barulhento, dite os rumos da sociedade.

O Espiritismo e a Transformação Social

A Doutrina Espírita possui uma dimensão ética e social clara. Os princípios contidos em O Livro dos Espíritos — quando aplicados aos costumes, às instituições e às relações humanas — têm poder para transformar os hábitos, influenciar estruturas sociais e renovar o funcionamento das comunidades humanas com base na justiça, no amor e na verdade.

Como afirmam os Espíritos na questão 917:

“Quando bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais.”

Isso significa que o Espiritismo oferece ao mundo uma contribuição filosófico-política no sentido mais elevado do termo: colaborar para que a sociedade se organize conforme as Leis Divinas, com justiça distributiva, solidariedade, fraternidade e respeito à dignidade de todos.

Felicidade na Terra: um Compromisso Coletivo

Ao tratar da possibilidade de felicidade na Terra, Kardec pergunta, na questão 922, se há alguma soma de felicidade comum a todos os homens. A resposta espiritual é simples, mas profunda:

“Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.”

Essa síntese traduz uma diretriz para a ação espírita: lutar para que todos tenham o necessário à vida física (alimento, vestuário, moradia, saúde, educação), e, ao mesmo tempo, cultivar em si e nos outros a paz da consciência e a confiança na imortalidade.

A Doutrina Espírita amplia esse entendimento ao afirmar, na questão 927, que:

“Verdadeiramente infeliz o homem só o é quando sofre da falta do necessário à vida e à saúde do corpo.”

Portanto, o espírita consciente deve atuar socialmente, não apenas em ações assistenciais isoladas, mas também influenciando as estruturas sociais para que assegurem o mínimo necessário a todos. É ação política no sentido mais nobre: promover o bem comum, contribuir para uma sociedade justa e fraterna.

Uma Sociedade segundo a Lei do Cristo

Na questão 930, os Espíritos advertem:

“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”

A pobreza extrema e a miséria material, segundo os princípios da Doutrina, não são desígnios de Deus, mas resultado das falhas humanas — especialmente da má organização social, do egoísmo e da indiferença.

Kardec, em comentário esclarecedor, observa que numa sociedade justa, “ao homem só por sua culpa pode faltar o necessário”, e mesmo essa culpa, em muitos casos, é consequência do meio onde ele foi colocado.

Logo, a missão do espírita não se resume à transformação íntima pessoal — ela se estende à reforma do mundo em que vive. O verdadeiro espírita busca melhorar a si mesmo para melhor servir, e isso inclui transformar, com amor e coragem, o meio social em que está inserido.

Política: Expressão Coletiva do Amor

O Espírito Lázaro, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IX, item 8, afirma:

“Cada época é, assim, marcada pelo cunho da virtude ou do vício que a devem salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual, seu vício é a indiferença moral.”

A indiferença moral é uma forma disfarçada de conivência com o mal. O espírita, enquanto cidadão do mundo, não pode se omitir. É chamado a agir — com discernimento, humildade e firmeza — para que as instituições sociais, políticas e econômicas reflitam os princípios da caridade e da fraternidade.

Amar é querer o bem do outro. Fazer política, sob esse enfoque, é trabalhar pelo bem de todos. A expressão política do amor é a busca do bem comum. Portanto, participar da vida pública — com ética, espiritualidade e responsabilidade — é um dever do espírita.

O Exemplo que Transforma

Na mesma questão 917, os Espíritos concluem:

“Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem o princípio da caridade e da fraternidade e cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensaram. Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contato.”

Essa influência moralizadora começa com o exemplo pessoal, mas não deve terminar aí. O espírita deve se engajar na construção de uma sociedade que assegure, para todos, dignidade, liberdade, equidade e solidariedade.

A omissão dos bons fortalece os maus. É hora de deixar a timidez e o silêncio, e fazer com que os valores da justiça, da caridade e da verdade ecoem em todas as áreas da vida social.

Conclusão: o Bem Precisa de Voz e Ação

O Espiritismo não é apenas consolo — é também proposta de transformação. Ensina que a transformação íntima e a reforma social não se excluem, mas se completam. Quem compreende e vive os princípios da Doutrina tem o dever de agir no mundo, em favor de um futuro mais justo, fraterno e espiritualizado.

Não basta desejar o bem: é preciso agir em nome dele.

Referências doutrinárias:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 917, 922, 927, 930, 932.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. IX, item 8.
  • NOVAES, Albino A. C. de. “A Política e a Ação Social Espírita”.
  • Federação Espírita Brasileira. Edição digital.
  • momento.com.br — textos doutrinários de apoio.

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