“Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda
o que faz a tua direita.”
— Jesus (Mateus 6:3)
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
tem como uma de suas colunas fundamentais a prática da caridade
desinteressada, isto é, o bem feito com humildade, compaixão e sem
ostentação. Esse princípio é profundamente explorado no Capítulo XIII de O
Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado: “Que a vossa mão esquerda
não saiba o que faz a direita”.
Baseando-se no ensinamento de Jesus registrado por
Mateus, esse capítulo desenvolve uma reflexão moral sobre o verdadeiro sentido
da caridade cristã. Ao lado dele, as questões 886 a 889 e o item 918 de O
Livro dos Espíritos complementam a doutrina, oferecendo uma síntese ética,
prática e espiritual do que significa amar ao próximo como a si mesmo.
A
Caridade, Segundo Jesus e o Espiritismo
Jesus, em seu ensinamento, advertia contra a vaidade
nas boas ações. A caridade verdadeira, dizia Ele, deve ser discreta e
silenciosa. Kardec reforça essa ideia ao dizer que toda ação que busca
aplauso perde o seu mérito moral, pois passa a ser motivada pelo ego e não
pelo amor.
Na questão 886 de O Livro dos Espíritos,
os Espíritos Superiores definem a caridade como sendo:
“Benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”
Ou seja, a caridade não se limita à esmola ou à
doação material. Ela é uma atitude interior que se manifesta no olhar, na
palavra, no julgamento justo e na disposição constante de fazer o bem, mesmo
nos pequenos gestos.
A
Caridade Material e Moral
Kardec distingue dois tipos de caridade:
- Material, que se expressa na ajuda física, na doação
de recursos, no auxílio concreto ao necessitado;
- Moral, que se traduz em atitudes como a tolerância,
o perdão, o consolo, o bom conselho e o respeito.
Embora ambas sejam importantes, é a caridade
moral que mais eleva o Espírito, pois ela exige esforço íntimo,
exige abdicar do orgulho e cultivar a humildade.
Na questão 889, os Espíritos ensinam que
mesmo o mais pobre pode ser caridoso, pois a caridade não depende de posses,
mas da disposição de amar e servir:
“Jesus já dissera: amai-vos uns aos outros. Esse
preceito encerra todos os deveres do homem para com o próximo.”
Fazer o
Bem sem Ostentação
No Capítulo XIII, Allan Kardec alerta contra a
prática do bem com intenções vaidosas. O Espírito de São Vicente de Paulo, que
dedicou sua vida à caridade cristã, ensina que:
“A ostentação tira aos olhos de Deus o mérito do
benefício.” (Evangelho
segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 15)
Fazer o bem verdadeiramente é agir sem esperar
retribuição, sem divulgar o gesto, sem usar a caridade como meio de
autopromoção. A verdadeira recompensa não está nos aplausos humanos, mas na paz
de consciência e na elevação do Espírito.
A Voz do
Coração: Benevolência e Piedade
A caridade começa na benevolência, ou seja, no desejo
sincero de fazer o bem, mesmo quando não se tem recursos materiais. Kardec
afirma que uma palavra amiga, um gesto de compreensão ou um ouvido atento têm
imenso valor diante da dor alheia.
Além disso, destaca a piedade como um
sentimento nobre, que nos liga ao sofrimento do próximo e nos impele à ação.
Sentir a dor do outro como se fosse nossa é o primeiro passo para desenvolver
um coração verdadeiramente compassivo.
O Homem de
Bem é Profundamente Caridoso
No item 918 de O Livro dos Espíritos,
Kardec pergunta qual é o meio prático mais eficaz de se melhorar nesta vida
e resistir ao arrastamento do mal. A resposta dos Espíritos é clara e
direta:
“Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: conhece-te a
ti mesmo.”
Mas no desdobramento dessa resposta, o Espírito de
Santo Agostinho nos mostra que o homem verdadeiramente bom é aquele que
pratica a caridade com naturalidade, sem orgulho, sem interesses
ocultos, movido apenas pelo amor:
“O homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de
amor e de caridade na sua maior pureza.”
Esse homem ou mulher é reconhecido(a) por:
- Respeitar todos os seres, sem distinção;
- Não revidar o mal com o mal;
- Ser indulgente com os outros, severo consigo mesmo;
- Praticar a caridade sem esperar gratidão ou reconhecimento.
Conclusão:
A Caridade como Caminho de Regeneração
A caridade, segundo a Doutrina Espírita, é o
mais elevado exercício do amor e a via mais segura para o progresso espiritual.
Ela não depende de riquezas, mas de sentimentos. Não exige holofotes, mas sinceridade
e discrição. É a expressão do coração que aprendeu a amar
incondicionalmente.
Portanto, quando praticarmos o bem, que a nossa
mão esquerda não saiba o que faz a direita, pois o que importa não é o
gesto exterior, mas a intenção interior. A caridade feita no silêncio da
alma, com o coração voltado ao bem do outro, é a que realmente conta aos olhos
de Deus.
Referências
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo
XIII — “Que a vossa mão esquerda não saiba o que faz a direita”.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Livro Terceiro — “As
Leis Morais”:
• Questões 886 a 889 — Caridade e amor do próximo.
• Questão 918 — Caracteres do homem de bem.
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