segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 

QUE A VOSSA MÃO ESQUERDA NÃO SAIBA O QUE FAZ A DIREITA: A CARIDADE À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –
 

“Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita.”
— Jesus (Mateus 6:3)

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, tem como uma de suas colunas fundamentais a prática da caridade desinteressada, isto é, o bem feito com humildade, compaixão e sem ostentação. Esse princípio é profundamente explorado no Capítulo XIII de O Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado: “Que a vossa mão esquerda não saiba o que faz a direita”.

Baseando-se no ensinamento de Jesus registrado por Mateus, esse capítulo desenvolve uma reflexão moral sobre o verdadeiro sentido da caridade cristã. Ao lado dele, as questões 886 a 889 e o item 918 de O Livro dos Espíritos complementam a doutrina, oferecendo uma síntese ética, prática e espiritual do que significa amar ao próximo como a si mesmo.

A Caridade, Segundo Jesus e o Espiritismo

Jesus, em seu ensinamento, advertia contra a vaidade nas boas ações. A caridade verdadeira, dizia Ele, deve ser discreta e silenciosa. Kardec reforça essa ideia ao dizer que toda ação que busca aplauso perde o seu mérito moral, pois passa a ser motivada pelo ego e não pelo amor.

Na questão 886 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores definem a caridade como sendo:

“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

Ou seja, a caridade não se limita à esmola ou à doação material. Ela é uma atitude interior que se manifesta no olhar, na palavra, no julgamento justo e na disposição constante de fazer o bem, mesmo nos pequenos gestos.

A Caridade Material e Moral

Kardec distingue dois tipos de caridade:

  • Material, que se expressa na ajuda física, na doação de recursos, no auxílio concreto ao necessitado;
  • Moral, que se traduz em atitudes como a tolerância, o perdão, o consolo, o bom conselho e o respeito.

Embora ambas sejam importantes, é a caridade moral que mais eleva o Espírito, pois ela exige esforço íntimo, exige abdicar do orgulho e cultivar a humildade.

Na questão 889, os Espíritos ensinam que mesmo o mais pobre pode ser caridoso, pois a caridade não depende de posses, mas da disposição de amar e servir:

“Jesus já dissera: amai-vos uns aos outros. Esse preceito encerra todos os deveres do homem para com o próximo.”

Fazer o Bem sem Ostentação

No Capítulo XIII, Allan Kardec alerta contra a prática do bem com intenções vaidosas. O Espírito de São Vicente de Paulo, que dedicou sua vida à caridade cristã, ensina que:

“A ostentação tira aos olhos de Deus o mérito do benefício.” (Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 15)

Fazer o bem verdadeiramente é agir sem esperar retribuição, sem divulgar o gesto, sem usar a caridade como meio de autopromoção. A verdadeira recompensa não está nos aplausos humanos, mas na paz de consciência e na elevação do Espírito.

A Voz do Coração: Benevolência e Piedade

A caridade começa na benevolência, ou seja, no desejo sincero de fazer o bem, mesmo quando não se tem recursos materiais. Kardec afirma que uma palavra amiga, um gesto de compreensão ou um ouvido atento têm imenso valor diante da dor alheia.

Além disso, destaca a piedade como um sentimento nobre, que nos liga ao sofrimento do próximo e nos impele à ação. Sentir a dor do outro como se fosse nossa é o primeiro passo para desenvolver um coração verdadeiramente compassivo.

O Homem de Bem é Profundamente Caridoso

No item 918 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta qual é o meio prático mais eficaz de se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal. A resposta dos Espíritos é clara e direta:

“Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo.”

Mas no desdobramento dessa resposta, o Espírito de Santo Agostinho nos mostra que o homem verdadeiramente bom é aquele que pratica a caridade com naturalidade, sem orgulho, sem interesses ocultos, movido apenas pelo amor:

“O homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza.”

Esse homem ou mulher é reconhecido(a) por:

  • Respeitar todos os seres, sem distinção;
  • Não revidar o mal com o mal;
  • Ser indulgente com os outros, severo consigo mesmo;
  • Praticar a caridade sem esperar gratidão ou reconhecimento.

Conclusão: A Caridade como Caminho de Regeneração

A caridade, segundo a Doutrina Espírita, é o mais elevado exercício do amor e a via mais segura para o progresso espiritual. Ela não depende de riquezas, mas de sentimentos. Não exige holofotes, mas sinceridade e discrição. É a expressão do coração que aprendeu a amar incondicionalmente.

Portanto, quando praticarmos o bem, que a nossa mão esquerda não saiba o que faz a direita, pois o que importa não é o gesto exterior, mas a intenção interior. A caridade feita no silêncio da alma, com o coração voltado ao bem do outro, é a que realmente conta aos olhos de Deus.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIII — “Que a vossa mão esquerda não saiba o que faz a direita”.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Livro Terceiro — “As Leis Morais”:
     • Questões 886 a 889 — Caridade e amor do próximo.
     • Questão 918 — Caracteres do homem de bem.

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