quinta-feira, 21 de agosto de 2025

RECLAMAR OU AGRADECER?
UMA REFLEXÃO À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

O hábito de reclamar acompanha o ser humano ao longo de sua história. É tão comum que muitos o tomam como natural, quase como uma forma de defesa diante das dificuldades cotidianas. Contudo, o Espiritismo, codificado por Allan Kardec, convida-nos a refletir com mais profundidade: será que a reclamação é realmente um caminho legítimo para o progresso espiritual, ou apenas um desvio de foco que nos afasta da gratidão e da compreensão das leis divinas?

A Doutrina Espírita ensina que Deus, soberanamente justo e bom, nada faz de inútil ou injusto (O Livro dos Espíritos, q. 13, 614). Tudo o que recebemos em nossa jornada terrena, seja em forma de bênçãos ou de provas, é instrumento de aprendizado e crescimento. Assim, reclamar é não reconhecer a grandeza da providência divina e o valor pedagógico das experiências que nos são concedidas.

O hábito da reclamação

Em qualquer parte do mundo encontramos os que reclamam. Filhos dos pais, cônjuges entre si, patrões dos empregados e empregados dos patrões, vizinhos e amigos: todos parecem, em determinados momentos, depositar no outro a causa de suas inquietações. Essa postura reflete uma visão estreita da vida, focada nas faltas e não nas conquistas, nas carências e não nas dádivas.

O Espiritismo nos ensina que essa tendência é fruto do nosso estado evolutivo atual. Espíritos ainda imperfeitos, olhamos para a vida pelo prisma das necessidades imediatas, esquecendo-nos da eternidade da alma. Ao invés de percebermos a harmonia do conjunto, fixamo-nos no detalhe que nos contraria.

A ingratidão para com Deus

Esse mau hábito revela-se ainda mais grave quando dirigido ao Criador. Muitos de nós, envolvidos pela ilusão material, acreditamos que temos direito a mais do que recebemos. Desejamos tranquilidade, riqueza, poder, fama e beleza, esquecendo que a verdadeira finalidade da vida terrena é o nosso progresso espiritual.

Na Revista Espírita (dezembro de 1861), Kardec já alertava que a ingratidão para com Deus nasce da ignorância das suas leis. A Providência nos cerca de cuidados incessantes: concede-nos o corpo como instrumento de evolução, permite-nos renascer em famílias adequadas às nossas necessidades, coloca-nos entre irmãos de jornada que nos ajudam a exercitar paciência, afeto e fraternidade. Mesmo quando enfrentamos dificuldades, são oportunidades de redenção e crescimento, frutos da lei de causa e efeito (O Livro dos Espíritos, q. 964).

O valor da gratidão

Se, em vez de reclamar, cultivássemos a gratidão, perceberíamos que muito já nos é dado, a cada instante. A saúde, a inteligência, a convivência familiar, os amigos, o trabalho, as escolas, os professores, a paz relativa em que muitos vivem — tudo isso são bênçãos que tomamos como naturais, quando, na realidade, constituem tesouros.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, Kardec recorda que a verdadeira superioridade do Espírito não está nas posses ou na posição social, mas no uso que fazemos das oportunidades recebidas. Cada experiência, agradável ou dolorosa, é uma lição a ser aproveitada. Assim, a gratidão não deve ser apenas um sentimento, mas uma postura ativa, que se expressa em bondade e solidariedade para com o próximo.

Conclusão

A vida na Terra é uma estação de aprendizado. Uns experimentam a saúde, outros a doença; uns gozam de facilidades materiais, outros vivem em meio à penúria. Mas as posições alternam-se no curso dos séculos, pois a lei da reencarnação nos coloca em diferentes cenários para que aprendamos múltiplas lições.

Diante disso, a postura que mais nos engrandece é a gratidão: reconhecer os cuidados constantes de Deus, cessar as reclamações por bobagens e transformar nossa vida em um hino de confiança e amor. Reclamar é estagnação; agradecer é progresso.

Assim, compreender e praticar a gratidão é também um ato de fé racional, pois nos harmoniza com as leis divinas e nos aproxima da verdadeira felicidade.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos anos.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • Momento Espírita. Os muitos cuidados de Deus. Disponível em: momento.com.br.

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