quarta-feira, 27 de agosto de 2025

A CORAGEM DA TRANSPARÊNCIA: UM OLHAR ESPÍRITA
SOBRE A FRAGILIDADE HUMANA
- A Era do Espírito -

Introdução

Em nossa caminhada terrena, muitas vezes acreditamos que ser transparente significa apenas não enganar os outros ou ser sincero em palavras. No entanto, a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, convida-nos a refletir que a verdadeira transparência vai muito além: trata-se de desnudar a alma, de deixar cair as máscaras do orgulho, da vaidade e do medo, permitindo que aflore em nós a doçura e a simplicidade que são expressões da essência espiritual.

Este artigo procura alertar para a dificuldade de sermos verdadeiros conosco mesmos e com os outros, pois criamos barreiras para ocultar nossa fragilidade. À luz do Espiritismo, esse movimento é compreensível como expressão de nossas imperfeições, mas também como oportunidade de aprendizado e libertação.

A fragilidade como parte da experiência humana

Em O Livro dos Espíritos, ao abordar as provas da vida, os Espíritos ensinam que “a vida é uma prova contínua” (q. 132). Nela, somos chamados a exercitar a humildade, a paciência e a caridade. Mostrar a fragilidade não é sinal de fraqueza moral, mas de autenticidade. É reconhecer a nossa condição de espíritos em evolução, que precisam do apoio de Deus e do próximo.

A Revista Espírita de março de 1863 traz uma reflexão profunda sobre a fraternidade e a solidariedade como meios de vencer o isolamento da alma. Kardec comenta que, quando nos fechamos em nossas dores, nos afastamos das leis divinas que nos conclamam à comunhão e ao amparo mútuo. A transparência, portanto, é ato de fraternidade, pois permite ao outro compartilhar conosco o peso das provas e participar de nossas alegrias.

A máscara do orgulho e a necessidade da humildade

Uma das principais causas de nossa resistência à transparência é o orgulho. Preferimos parecer fortes e invencíveis a assumir nossos medos e lágrimas. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo VII, “Bem-aventurados os pobres de espírito”, aprendemos que a humildade é a chave para o progresso espiritual.

O orgulho nos leva a criar máscaras de autoproteção, mas essas máscaras nos afastam da verdade interior e do contato sincero com Deus. A transparência, pelo contrário, nos aproxima da humildade, porque é um exercício de desapego da imagem ilusória que construímos de nós mesmos.

A coragem de ser verdadeiro e a confiança em Deus

Ser transparente exige coragem espiritual. A coragem não é ausência de medo, mas confiança em Deus e na Sua Providência. A prece, ensinada e valorizada por Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXVII), é o recurso que nos fortalece diante das lutas íntimas.

Ao reconhecermos nossa fragilidade e partilhá-la com os que nos amam, encontramos não condenação, mas apoio, compreensão e alívio. Na Revista Espírita de abril de 1866, Kardec observa que a verdadeira força do Espírito está na confiança no amparo divino, e não na rigidez que tenta ocultar a dor.

Viver a brandura e a compaixão

Quando insistimos em parecer invulneráveis, sufocamos nossa capacidade de brandura, compaixão e ternura. Em O Livro dos Espíritos (q. 886), a caridade é definida como “benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas”. Mas para viver essa caridade plenamente, precisamos antes ser transparentes conosco mesmos, reconhecendo nossas próprias imperfeições.

A transparência, nesse sentido, é um ato de libertação: permite-nos reencontrar a pureza e a simplicidade que Jesus nos convidou a viver quando disse: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5:8).

Conclusão

Ser transparente não é ser frágil ou inferior, mas ser verdadeiro. É abandonar a ilusão de invencibilidade e permitir que a nossa humanidade, com suas lágrimas e alegrias, se expresse em comunhão com Deus e com os outros.

À luz da Doutrina Espírita, a transparência é exercício de humildade, caridade e confiança em Deus. Ao deixarmos cair as máscaras do orgulho, descobrimos que a nossa verdadeira força está na coragem de sermos autênticos e de caminharmos amparados pelo amor divino e pelo apoio fraterno.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos números citados.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1865.
  • Momento Espírita. “Ser Transparente”. Disponível em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3058&stat=0.
  • DENIS, Léon. O Problema do Ser e do Destino

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