Introdução
Em nossa caminhada terrena, muitas vezes
acreditamos que ser transparente significa apenas não enganar os outros ou ser
sincero em palavras. No entanto, a Doutrina Espírita, codificada por Allan
Kardec, convida-nos a refletir que a verdadeira transparência vai muito além:
trata-se de desnudar a alma, de deixar cair as máscaras do orgulho, da vaidade
e do medo, permitindo que aflore em nós a doçura e a simplicidade que são
expressões da essência espiritual.
Este artigo procura alertar para a dificuldade de
sermos verdadeiros conosco mesmos e com os outros, pois criamos barreiras para
ocultar nossa fragilidade. À luz do Espiritismo, esse movimento é compreensível
como expressão de nossas imperfeições, mas também como oportunidade de
aprendizado e libertação.
A
fragilidade como parte da experiência humana
Em O Livro dos Espíritos, ao abordar as
provas da vida, os Espíritos ensinam que “a vida é uma prova contínua” (q. 132).
Nela, somos chamados a exercitar a humildade, a paciência e a caridade. Mostrar
a fragilidade não é sinal de fraqueza moral, mas de autenticidade. É reconhecer
a nossa condição de espíritos em evolução, que precisam do apoio de Deus e do
próximo.
A Revista Espírita de março de 1863 traz uma
reflexão profunda sobre a fraternidade e a solidariedade como meios de vencer o
isolamento da alma. Kardec comenta que, quando nos fechamos em nossas dores,
nos afastamos das leis divinas que nos conclamam à comunhão e ao amparo mútuo.
A transparência, portanto, é ato de fraternidade, pois permite ao outro
compartilhar conosco o peso das provas e participar de nossas alegrias.
A máscara
do orgulho e a necessidade da humildade
Uma das principais causas de nossa resistência à
transparência é o orgulho. Preferimos parecer fortes e invencíveis a assumir
nossos medos e lágrimas. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo
VII, “Bem-aventurados os pobres de
espírito”, aprendemos que a humildade é a chave para o progresso espiritual.
O orgulho nos leva a criar máscaras de
autoproteção, mas essas máscaras nos afastam da verdade interior e do contato
sincero com Deus. A transparência, pelo contrário, nos aproxima da humildade,
porque é um exercício de desapego da imagem ilusória que construímos de nós
mesmos.
A coragem
de ser verdadeiro e a confiança em Deus
Ser transparente exige coragem espiritual. A
coragem não é ausência de medo, mas confiança em Deus e na Sua Providência. A
prece, ensinada e valorizada por Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo
(cap. XXVII), é o recurso que nos fortalece diante das lutas íntimas.
Ao reconhecermos nossa fragilidade e partilhá-la
com os que nos amam, encontramos não condenação, mas apoio, compreensão e
alívio. Na Revista Espírita de abril de 1866, Kardec observa que a
verdadeira força do Espírito está na confiança no amparo divino, e não na
rigidez que tenta ocultar a dor.
Viver a
brandura e a compaixão
Quando insistimos em parecer invulneráveis,
sufocamos nossa capacidade de brandura, compaixão e ternura. Em O Livro dos
Espíritos (q. 886), a caridade é definida como “benevolência para com
todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas”. Mas
para viver essa caridade plenamente, precisamos antes ser transparentes conosco
mesmos, reconhecendo nossas próprias imperfeições.
A transparência, nesse sentido, é um ato de
libertação: permite-nos reencontrar a pureza e a simplicidade que Jesus nos
convidou a viver quando disse: “Bem-aventurados
os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5:8).
Conclusão
Ser transparente não é ser frágil ou inferior, mas
ser verdadeiro. É abandonar a ilusão de invencibilidade e permitir que a nossa
humanidade, com suas lágrimas e alegrias, se expresse em comunhão com Deus e
com os outros.
À luz da Doutrina Espírita, a transparência é
exercício de humildade, caridade e confiança em Deus. Ao deixarmos cair as
máscaras do orgulho, descobrimos que a nossa verdadeira força está na coragem
de sermos autênticos e de caminharmos amparados pelo amor divino e pelo apoio
fraterno.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos
números citados.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1865.
- Momento Espírita. “Ser Transparente”.
Disponível em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3058&stat=0.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser e do Destino
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