Introdução
Quando alguém nos pergunta a estatura física,
respondemos de imediato. Mas, se a indagação fosse sobre a nossa estatura
espiritual, teríamos condições de responder? A Doutrina Espírita nos ensina
que essa medida não se encontra nos centímetros que marcam o corpo físico, mas
sim na amplitude da visão, nos sentimentos que nutrimos e nas ações que
realizamos em favor do bem comum.
Fernando Pessoa, em um de seus versos, afirmou: “Eu
sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”. Essa reflexão
literária encontra eco profundo no Espiritismo, que nos convida a pensar na
evolução do Espírito como resultado do esforço constante para superar o
egoísmo e o orgulho, ampliando os horizontes da alma rumo à fraternidade
universal.
A Estatura
Espiritual na Perspectiva Espírita
Segundo O Livro dos Espíritos (questões 776
e 785), a lei do progresso é inexorável: a humanidade caminha, ainda que
lentamente, em direção ao bem. Entretanto, cada Espírito é responsável por sua
própria ascensão. A estatura espiritual, portanto, é a medida simbólica de
quanto já avançamos na escalada evolutiva.
- Quando restringimos nossa visão ao interesse pessoal,
permanecemos ainda na condição de Espíritos egoístas, de pequena estatura
espiritual.
- Quando ampliamos a visão para o coletivo, respeitando
opiniões, reconhecendo esforços e buscando a justiça, revelamos maior
crescimento íntimo.
- Quando atuamos em favor do bem desinteressado, sem
discriminação de pessoas ou circunstâncias, então alcançamos a condição
dos “gigantes morais”, como sugerem os Espíritos Superiores.
A Revista Espírita (dezembro de 1863, “Os
pigmeus morais”) traz apontamentos semelhantes: aqueles que não conseguem ver
além de suas paixões e interesses estreitos são como pigmeus diante da grandeza
da lei divina, pois limitam sua visão da vida e retardam o próprio progresso.
O Esforço
Individual e Coletivo
A estatura espiritual não é uma dádiva automática,
mas fruto do esforço individual e coletivo. Cada prova vencida, cada
virtude cultivada, cada renúncia ao egoísmo contribui para alargar os
horizontes da alma.
Kardec, em A Gênese (cap. III, item 18),
afirma que “o progresso moral acompanha o progresso intelectual, mas nem sempre
o segue imediatamente”. Isso significa que nossa visão espiritual pode ser
estreitada mesmo com grande inteligência, se ainda não for acompanhada pela
bondade. O verdadeiro crescimento se dá quando o saber se une ao amor, dando
dimensão maior ao Espírito.
O Caminho
da Superação
A estatura espiritual se mede também pela maneira
como enfrentamos as lutas da vida. Os que se perdem em inveja, ciúme ou
intolerância demonstram ainda miopia espiritual. Já os que acolhem ideias boas
independentemente de sua origem, que se abrem ao diálogo fraterno e trabalham
pela felicidade coletiva, demonstram visão mais elevada.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap.
XVII, item 3), os Espíritos ensinam que o verdadeiro homem de bem é aquele que
pratica a lei de justiça, amor e caridade, em toda sua pureza. Esse é o
parâmetro seguro para avaliar nossa real dimensão espiritual.
Conclusão
Somos, de fato, do tamanho do que vemos. Quanto
mais ampla for a visão, mais elevada será a estatura espiritual. O Espiritismo
nos convida a sair da condição de pigmeus morais e avançar, pelo esforço
constante, rumo à grandeza que se mede pela capacidade de amar, compreender e
servir.
Assim, ao nos perguntarmos qual é a nossa estatura
espiritual, tenhamos em mente que a resposta não se mede em números, mas em virtudes
conquistadas e horizontes alargados.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- PESSOA, Fernando. Poemas de Alberto Caeiro.
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