sexta-feira, 29 de agosto de 2025

A FIRMEZA DA FIDELIDADE
- A Era do Espírito -

Introdução

Vivemos em uma sociedade em que muitas vezes aceitamos a mediocridade como norma. Casas “mais ou menos”, empregos “mais ou menos”, relacionamentos “mais ou menos”. Essa postura de indiferença, que pode até parecer inofensiva, esconde uma realidade espiritual grave: a omissão diante da verdade e da responsabilidade moral.

A mensagem citada — de que não podemos amar, sonhar ou ter fé “mais ou menos” — toca profundamente o coração, porque denuncia um risco constante da alma: tornar-se morna, sem definição, sem coragem. O Evangelho alerta de modo incisivo: “Oxalá fosses frio ou quente. Mas porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca.” (Apocalipse 3:16).

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, aprofunda essa reflexão, convidando-nos à firmeza e à fidelidade diante da lei de Deus e da nossa própria consciência.

A fidelidade como dever de consciência

Jesus já havia advertido: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mateus 5:37). A clareza do sim e do não é o oposto da omissão.

Na História, encontramos em Pilatos o exemplo clássico de quem preferiu “lavar as mãos” a ser fiel à própria consciência. Sabendo que Jesus era inocente, cedeu ao medo de perder prestígio e poder. Sua omissão o torna símbolo da covardia moral.

Por outro lado, Paulo de Tarso representa a firmeza inquebrantável. Pagou caro por sua fidelidade: perdeu posição, herança, amigos e reconhecimento, mas permaneceu leal à mensagem do Cristo.

O Espiritismo nos lembra que fidelidade não é apenas uma postura externa, mas sobretudo uma questão íntima de obediência à voz da consciência.

Na questão 624 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

“Qual o caráter do verdadeiro profeta?”
E os Espíritos respondem: “O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Pode-se reconhecê-lo pelas palavras e pelos atos. Deus não se serve da boca do mentiroso para ensinar a verdade.”

A fidelidade, portanto, não é um adorno, mas critério essencial para distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal.

O perigo da omissão e o compromisso com o bem

A omissão pode parecer confortável, mas tem consequências graves. Quando deixamos de agir, colaboramos, mesmo que indiretamente, com a manutenção do mal.

Na questão 642 de O Livro dos Espíritos, lê-se:

“Bastará não fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma posição futura?”
E os Espíritos respondem:
“Não, é preciso fazer o bem no limite das forças, porque cada um responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

Essa resposta é uma advertência direta contra a neutralidade e a passividade. Não basta “não prejudicar”; é preciso agir, escolher, construir. A fidelidade não se manifesta apenas em palavras ou intenções, mas em atos concretos em favor do bem.

Assim, quando nos omitimos em uma discussão familiar, em um trabalho, em uma decisão social ou política, estamos falhando na obrigação moral de promover o bem.

Ser fiel no pouco para ser fiel no muito

A fidelidade não começa nos grandes gestos heroicos. Ela é cultivada no cotidiano: na honestidade diante das pequenas tentações, na coragem de dizer a verdade quando seria mais fácil calar, na coerência entre o que pregamos e o que vivemos.

É por isso que Jesus afirma que quem é fiel no pouco será também fiel no muito. Cada ato de firmeza moral é um treinamento para as grandes decisões da vida espiritual.

O Espírito Emmanuel, em diversas mensagens, insiste que a fé se prova pelo testemunho diário, muitas vezes silencioso, mas perseverante. O verdadeiro discípulo do Cristo é aquele que, mesmo quando ninguém o observa, mantém-se leal à própria consciência e ao bem.

Conclusão

Não podemos ser “mais ou menos” em nossa relação com a verdade, com o bem e com o amor. O mundo já sofre o bastante com a indiferença; não carece de mais omissos, mas de corações firmes, dispostos a assumir sua responsabilidade espiritual.

Ser fiel é mais do que evitar o mal: é agir no bem, é testemunhar com coragem, é dizer “sim” quando é sim, e “não” quando é não.

A fidelidade é o antídoto contra a covardia da omissão. Ela é o que nos define como espíritos em marcha para a perfeição, porque nos coloca em sintonia com a lei de Deus, que é, em essência, a lei do amor.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB. Questões 624 e 642.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
  • Bíblia Sagrada: Apocalipse 3:16; Mateus 5:37; João 19:4.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.
  • Momento Espírita. “Fidelidade”. Disponível em: https://www.momento.com.br.

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