Introdução
Vivemos em uma sociedade em que muitas vezes
aceitamos a mediocridade como norma. Casas “mais ou menos”, empregos “mais ou
menos”, relacionamentos “mais ou menos”. Essa postura de indiferença, que pode
até parecer inofensiva, esconde uma realidade espiritual grave: a omissão
diante da verdade e da responsabilidade moral.
A mensagem citada — de que não podemos amar, sonhar
ou ter fé “mais ou menos” — toca profundamente o coração, porque denuncia um risco
constante da alma: tornar-se morna, sem definição, sem coragem. O Evangelho
alerta de modo incisivo: “Oxalá fosses frio ou quente. Mas porque és morno,
nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca.” (Apocalipse
3:16).
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
aprofunda essa reflexão, convidando-nos à firmeza e à fidelidade diante da lei
de Deus e da nossa própria consciência.
A
fidelidade como dever de consciência
Jesus já havia advertido: “Seja o vosso falar:
sim, sim; não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna.”
(Mateus 5:37). A clareza do sim e do não é o oposto da omissão.
Na História, encontramos em Pilatos o exemplo
clássico de quem preferiu “lavar as mãos” a ser fiel à própria consciência.
Sabendo que Jesus era inocente, cedeu ao medo de perder prestígio e poder. Sua
omissão o torna símbolo da covardia moral.
Por outro lado, Paulo de Tarso representa a firmeza
inquebrantável. Pagou caro por sua fidelidade: perdeu posição, herança, amigos
e reconhecimento, mas permaneceu leal à mensagem do Cristo.
O Espiritismo nos lembra que fidelidade não é
apenas uma postura externa, mas sobretudo uma questão íntima de obediência à
voz da consciência.
Na questão 624 de O Livro dos Espíritos,
Kardec pergunta:
“Qual o caráter do verdadeiro profeta?”
E os Espíritos respondem: “O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado
por Deus. Pode-se reconhecê-lo pelas palavras e pelos atos. Deus não se serve
da boca do mentiroso para ensinar a verdade.”
A fidelidade, portanto, não é um adorno, mas
critério essencial para distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal.
O perigo
da omissão e o compromisso com o bem
A omissão pode parecer confortável, mas tem
consequências graves. Quando deixamos de agir, colaboramos, mesmo que indiretamente,
com a manutenção do mal.
Na questão 642 de O Livro dos Espíritos,
lê-se:
“Bastará não fazer o mal para ser agradável a Deus
e assegurar uma posição futura?”
E os Espíritos respondem:
“Não, é preciso fazer o bem no limite das forças, porque cada um responderá
por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”
Essa resposta é uma advertência direta contra a
neutralidade e a passividade. Não basta “não prejudicar”; é preciso agir,
escolher, construir. A fidelidade não se manifesta apenas em palavras ou
intenções, mas em atos concretos em favor do bem.
Assim, quando nos omitimos em uma discussão
familiar, em um trabalho, em uma decisão social ou política, estamos falhando
na obrigação moral de promover o bem.
Ser fiel
no pouco para ser fiel no muito
A fidelidade não começa nos grandes gestos
heroicos. Ela é cultivada no cotidiano: na honestidade diante das pequenas
tentações, na coragem de dizer a verdade quando seria mais fácil calar, na
coerência entre o que pregamos e o que vivemos.
É por isso que Jesus afirma que quem é fiel no
pouco será também fiel no muito. Cada ato de firmeza moral é um treinamento
para as grandes decisões da vida espiritual.
O Espírito Emmanuel, em diversas mensagens, insiste
que a fé se prova pelo testemunho diário, muitas vezes silencioso, mas
perseverante. O verdadeiro discípulo do Cristo é aquele que, mesmo quando
ninguém o observa, mantém-se leal à própria consciência e ao bem.
Conclusão
Não podemos ser “mais ou menos” em nossa relação
com a verdade, com o bem e com o amor. O mundo já sofre o bastante com a
indiferença; não carece de mais omissos, mas de corações firmes, dispostos a
assumir sua responsabilidade espiritual.
Ser fiel é mais do que evitar o mal: é agir no bem,
é testemunhar com coragem, é dizer “sim” quando é sim, e “não” quando é não.
A fidelidade é o antídoto contra a covardia da
omissão. Ela é o que nos define como espíritos em marcha para a perfeição,
porque nos coloca em sintonia com a lei de Deus, que é, em essência, a lei do
amor.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB. Questões 624 e
642.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
- Bíblia Sagrada: Apocalipse 3:16; Mateus 5:37; João 19:4.
- XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito
Emmanuel. FEB.
- Momento Espírita. “Fidelidade”. Disponível
em: https://www.momento.com.br.
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