Introdução
A
história da humanidade é marcada por um lento e árduo processo de evolução
moral, social e política. Guerras, tiranias e regimes de opressão sucederam-se
ao longo dos séculos, deixando rastros de dor e injustiça. No entanto, conforme
ensina a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, esse percurso, ainda
que doloroso, é parte do aprendizado coletivo dos povos e da lei de progresso
que rege toda a criação.
Enquanto
a política humana se perde frequentemente em interesses particulares, em
arbitrariedades e em dominação, a lei divina — revelada pelos Espíritos
Superiores — orienta para a fraternidade, a igualdade e a liberdade, valores
que encontram em Jesus o seu modelo maior. A questão central, portanto, não
reside apenas nos sistemas de governo, mas na educação do ser humano, chamado a
transformar-se moralmente para que a sociedade, como reflexo, se transforme
também.
A marcha lenta da humanidade
A
história comprova que o tirano muitas vezes prevaleceu sobre o sábio, e que o
guerreiro comandou mais povos do que o pacificador. Impérios, culturas e
civilizações erigiram-se sob a violência e a opressão, mas todos, sem exceção,
ruíram diante da ação inevitável do tempo e das leis morais que regem o destino
coletivo.
No Livro
dos Espíritos, os Espíritos Superiores afirmam:
“O progresso é lei da
Natureza. (...) Ele é inevitável, mas não se efetua simultaneamente em todos os
povos. Os mais adiantados servem de exemplo e abrem caminho aos outros” (LE, q. 778).
Assim,
ainda que as ditaduras e regimes arbitrários tenham predominado em diferentes
épocas, eles foram incapazes de deter a marcha da humanidade em direção a
formas de convivência mais justas e fraternas.
Jesus e a renovação moral da humanidade
Com
Jesus, a fraternidade e os direitos humanos receberam a consagração mais
elevada. Ele não propôs apenas transformações exteriores, mas convocou os
corações a instaurarem, em si mesmos, uma democracia interior, baseada na
justiça e no amor ao próximo.
Os que
seguiram seus passos sofreram perseguições, mas suas sementes espirituais
permaneceram vivas. Ao longo da Idade Média e dos séculos seguintes,
pensadores, filósofos e mártires reacenderam as ideias de liberdade, dignidade
e respeito ao ser humano, como um eco da mensagem cristã que nunca se
extinguiu.
Na Revista
Espírita de dezembro de 1868, ao tratar da regeneração social, Allan Kardec
destacou que a verdadeira transformação não virá pela violência, mas pela transformação
íntima:
“O Espiritismo não vem
derrubar, mas edificar. (...) Não se trata de uma revolução material, mas de
uma revolução moral.”
Filosofia, ciência e política na marcha do
progresso
Com o
Renascimento e o Iluminismo, os ideais de liberdade voltaram à cena, inspirando
movimentos que proclamaram a dignidade do ser humano. A Revolução Francesa,
embora marcada por excessos, representou um marco na afirmação dos direitos
universais.
O
Espiritismo, surgido no século XIX nesse mesmo contexto de transformações,
acrescenta que tais avanços não são fruto apenas das circunstâncias históricas,
mas do trabalho invisível dos Espíritos, que inspiram o pensamento humano e
abrem caminho para novas conquistas (RE, fevereiro de 1859, “A liberdade de consciência”).
O
progresso político e social, contudo, só se consolida quando acompanhado pela
educação moral. A Doutrina Espírita ensina que a verdadeira democracia começa
no lar e se amplia na sociedade, pois “o
homem vale pelas suas conquistas íntimas” e não pela força que exerce sobre
os outros.
Educação e consciência: os fundamentos da liberdade
A
história demonstra que muitos governantes tentaram reprimir a instrução,
conscientes de que a ignorância facilita a dominação. Kardec advertiu em Obras
Póstumas que “a ignorância é inimiga
da liberdade”, pois sem esclarecimento não há exercício verdadeiro dos
direitos.
Por
isso, enquanto o lar não se tornar uma escola moralizadora, e a educação não se
orientar para a formação integral do ser humano, a política continuará refém da
corrupção e das paixões pessoais.
A
Doutrina Espírita, em sua vertente pedagógica, coloca a instrução e a moral
como pilares de emancipação do ser humano e da coletividade, sinalizando que
somente pela renovação da consciência individual se alcançará a liberdade
social verdadeira.
Democracia e futuro da humanidade
O
direito à liberdade é lei divina. Ainda que povos e indivíduos padeçam sob
regimes de opressão, o Espírito, em sua essência, permanece livre, aspirando a
horizontes mais elevados. Assim, a democracia não é apenas uma conquista
política, mas uma consequência da evolução espiritual da humanidade.
À
medida que a consciência coletiva desperta, torna-se insustentável a manutenção
de regimes arbitrários. A crítica, a denúncia e a organização social refletem
esse amadurecimento. Kardec, na Revista Espírita de abril de 1864, ao
falar da missão do Espiritismo, destacou que ele vem preparar “o reino da fraternidade universal”.
Portanto,
a verdadeira democracia é fruto da fraternidade e só se consolidará quando cada
indivíduo reconhecer seus deveres, respeitando os direitos do próximo.
Conclusão
O
processo histórico da humanidade, ainda que marcado por tiranias e dores,
revela o avanço lento, mas seguro, rumo à liberdade, igualdade e fraternidade.
A Doutrina Espírita mostra que esse progresso é lei divina e inevitável, mas
exige o esforço consciente de cada Espírito na conquista íntima dos valores
morais.
A
democracia, para ser sólida, precisa nascer primeiro nos corações, iluminados
pela mensagem de Jesus e fortalecidos pela educação moral. Cabe a todos aqueles
que conhecem o Evangelho e os ensinos do Espiritismo acelerar esse processo,
trabalhando pela fraternidade e pela dignificação da vida humana.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. A
Gênese.
- KARDEC, Allan. Obras
Póstumas.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). O Consolador.
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