Introdução
Desde
sua origem, o Espiritismo se apresentou como uma doutrina de tríplice aspecto: ciência,
filosofia e moral. Essa característica foi destacada por Allan Kardec em
diversas passagens de O Livro dos Espíritos (1857) e reafirmada ao longo
das edições da Revista Espírita (1858-1869), onde os fenômenos eram
analisados com espírito crítico, rigor metodológico e abertura à investigação
racional.
Os
comentários que se apresentam tocam em pontos centrais dessa relação entre ciência
e Espiritismo, a busca de clareza sobre o mundo espiritual e a necessidade
de estudos sérios e imparciais. Além disso, surge a questão da compreensão do
Espiritismo em seus diferentes aspectos, especialmente no ambiente acadêmico,
como no caso de quem inicia seus estudos em relações internacionais e cultura
religiosa.
Este
artigo busca responder a essas reflexões em três blocos:
1. Ciência e Espiritismo: O Campo de Investigação
O
Espiritismo nasceu da observação de fatos, e não de especulações. Kardec deixou
claro que sua posição era a de um investigador diante de fenômenos então
conhecidos como “mesas girantes” ou manifestações inteligentes. Ao aplicar
método, controle das comunicações e comparação universal, ele transformou um
conjunto de curiosidades em objeto de ciência.
Na Revista
Espírita, Kardec registra experiências, descreve fenômenos e analisa
hipóteses com serenidade. Sempre insistiu que o Espiritismo não era contrário à
ciência, mas seu prolongamento em direção ao invisível. Em A Gênese,
capítulo I, afirma:
“O Espiritismo e a
Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se vê
impotente para explicar certos fenômenos, e o Espiritismo, sem a Ciência, não
teria apoio e controle.”
Assim,
quando se pergunta sobre a “ciência espírita”, é preciso lembrar que ela não é
uma ciência laboratorial no sentido estrito, mas uma ciência de observação dos
fenômenos da alma e das relações entre os dois mundos.
2. O Mundo Espiritual e o Conhecimento Progressivo
É
verdade que a Doutrina Espírita não detalha em minúcias as leis íntimas do
mundo espiritual. Kardec foi prudente nesse ponto, limitando-se ao que pôde ser
confirmado pela universalidade do ensino dos Espíritos.
Obras
complementares, como a série de André Luiz (Nosso Lar, Evolução em
Dois Mundos, entre outras), trouxeram mais descrições. Contudo, como ensina
a própria Codificação, essas informações devem ser lidas como estudos
complementares, nunca como substitutos do núcleo doutrinário. Kardec
advertiu na Revista Espírita de 1861:
“É preciso distinguir o
que pertence à doutrina estabelecida do que são opiniões pessoais ou revelações
de caráter secundário.”
Portanto,
mesmo que André Luiz ofereça valiosas reflexões sobre biologia espiritual e
evolução, não podemos exigir dele a clareza de uma obra científica terrestre,
mas compreendê-lo como colaborador do progresso da ideia espírita.
3. O Estudo Científico dos Fenômenos Paranormais
O
comentário sobre a necessidade de estudo científico sério é oportuno. O
Espiritismo nasceu nesse espírito de seriedade, mas enfrentou desde o início
críticas e preconceitos. Kardec propôs critérios: controle, repetição, análise
moral da mensagem e universalidade do ensino.
Hoje,
há grupos universitários, institutos e pesquisadores independentes que se
debruçam sobre os fenômenos da consciência, experiências de quase-morte,
mediunidade e transcomunicação. Embora muitos não se declarem espíritas,
trabalham num campo próximo, contribuindo para que a ciência oficial se
aproxime do que Kardec já sinalizava no século XIX.
4. O Espiritismo em seus Vários Aspectos
Para
quem se inicia no estudo, como o estudante de Relações Internacionais, é
essencial compreender que o Espiritismo não é apenas religião, nem apenas
ciência ou filosofia. É um corpo doutrinário que integra essas três dimensões:
- Aspecto científico: investiga os
fenômenos mediúnicos e espirituais.
- Aspecto filosófico: reflete sobre a
origem, destino e sentido da vida.
- Aspecto moral (ou
ético-espiritual): aplica o Evangelho de Jesus como norma de
conduta e progresso do Espírito.
- Aspecto social: inspira
solidariedade, responsabilidade e transformação moral da humanidade.
5. Indicações Bibliográficas e Fontes de Estudo
Para
estudo sistemático e seguro, recomenda-se iniciar sempre pelas obras de Kardec:
·
O Livro dos Espíritos (1ª
ed. 1857- 2ª ed. 1860)
·
Revista Espírita - Jornal de Estudos
Psicológicos (1858 à 1869)
·
Instruções Práticas sobre as Manifestações
Espíritas (1858)
·
O Que é o Espiritismo (1859)
·
O Livro dos Médiuns (1861)
·
O Espiritismo na sua mais Simples Expressão
(1862)
·
Viagem Espírita em 1862 (1862)
·
Resposta à Mensagem dos Espíritas Lioneses por
Ocasião do Ano Novo (1862)
·
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864)
·
Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas, ou
Primeira Iniciação (1864)
·
Coleção de Composições Inéditas (1865)
·
O Céu e o Inferno (1865)
·
Coleção de Preces Espíritas (1865)
·
Estudo Acerca da Poesia Medianímica (1867)
·
Caracteres da Revelação Espírita (1868)
·
A Gênese (1868)
·
Catálogo Racional das Obras para se Fundar
uma Biblioteca Espírita (1869)
·
Obras Póstumas (1890)
Algumas Obras Complementares:
- Emmanuel – A Caminho da Luz
- André Luiz – Nosso Lar, Evolução em Dois Mundos
- Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor
Conclusão
O
Espiritismo, desde Kardec, mantém sua essência como ciência de observação,
filosofia de consequências e moral de aperfeiçoamento. Se por um lado não nos
oferece manuais técnicos do além, por outro abre caminho para que ciência e
espiritualidade caminhem juntas.
Ao
responder às questões apresentadas, vemos que:
- A ciência espírita
existe como método de estudo dos fenômenos da alma.
- O conhecimento do
mundo espiritual é progressivo e prudente.
- A pesquisa séria
dos fenômenos paranormais continua sendo um desafio atual.
- O Espiritismo deve
ser compreendido em sua integridade: científico, filosófico, moral e
social.
Assim,
permanece atual a advertência de Kardec na Revista Espírita de 1868:
“O Espiritismo não fecha
a porta a nenhum progresso; pelo contrário, ele o provoca e sustenta.”
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 1861.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. 1868.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- DENIS, Léon. O
Problema do Ser, do Destino e da Dor.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nosso Lar; Evolução em Dois
Mundos.
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