sábado, 30 de agosto de 2025

METAPSÍQUICA, PARAPSICOLOGIA E ESPIRITISMO
ESTUDO COMPARATIVO 
- A Era do Espírito -

Introdução

A busca por compreender os fenômenos que transcendem a percepção comum acompanha a humanidade desde a Antiguidade. No entanto, foi a partir do século XIX que tais manifestações passaram a ser objeto de estudos sistemáticos, ganhando espaço entre cientistas e filósofos. Nesse cenário, destacam-se três nomes fundamentais que deram corpo a correntes distintas de investigação:

  • Allan Kardec (1804-1869), pedagogo francês, codificou o Espiritismo a partir de 1857, estabelecendo uma doutrina filosófica que alia ciência, filosofia e moral, tendo como base o estudo metódico das manifestações dos Espíritos. Seu trabalho inaugurou uma nova era de reflexão sobre a natureza espiritual do ser humano.
  • Charles Richet (1850-1935), médico e fisiologista francês, prêmio Nobel de Medicina em 1913, cunhou o termo Metapsíquica para designar o estudo dos fenômenos psíquicos extraordinários. Embora reconhecesse a realidade dos fatos, Richet evitava a hipótese espiritualista, preferindo explicações vinculadas a faculdades ainda desconhecidas do homem.
  • Joseph Banks Rhine (1895-1980), biólogo norte-americano, é considerado o fundador da Parapsicologia moderna. Atuando na Universidade de Duke, desenvolveu pesquisas em condições laboratoriais, empregando métodos estatísticos para investigar a percepção extra-sensorial e a psicocinesia. Sua proposta buscava dar à investigação dos fenômenos paranormais um caráter acadêmico e científico.

Esses três marcos — Kardec, Richet e Rhine — representam diferentes caminhos na tentativa de compreender os mesmos fenômenos. Enquanto o Espiritismo oferece uma explicação espiritualista e filosófica, a Metapsíquica e a Parapsicologia se restringiram a abordagens experimentais e reducionistas, sem abarcar toda a complexidade do problema.

1. Contextualização das três correntes

Desde o século XIX, os fenômenos mediúnicos e psíquicos despertam a atenção de pesquisadores e pensadores. Três grandes correntes se destacam nesse campo:

  • Espiritismo, codificado por Allan Kardec (1857), que interpreta tais fenômenos como manifestações da alma e dos Espíritos desencarnados.
  • Metapsíquica, criada por Charles Richet (final do século XIX – início do XX), que buscava estudar de forma científica os fenômenos anômalos sem recorrer à hipótese espiritualista.
  • Parapsicologia, surgida na primeira metade do século XX, especialmente com Joseph Rhine, que se propôs a investigar tais fenômenos por meio de métodos estatísticos e laboratoriais, adotando uma postura mais psicológica e cética em relação às explicações espiritualistas.

2. Metapsíquica

  • Origem: Termo proposto por Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina, 1913).
  • Objetivo: Estudo científico dos fenômenos psíquicos extraordinários, mas sem admitir a hipótese espírita.
  • Postura: Richet reconhecia a existência de fenômenos como telepatia, clarividência e materializações, mas os atribuía a faculdades desconhecidas do ser humano, e não à intervenção dos Espíritos.
  • Característica central: Buscava permanecer no campo científico, mas ainda fortemente influenciada pelas experiências mediúnicas do século XIX.
  • Limite: Não conseguiu dar explicações coerentes e duradouras para todos os fenômenos, sobretudo os de efeito inteligente, onde a hipótese espiritual se mostra mais consistente.

3. Parapsicologia

  • Origem: Desenvolveu-se a partir das pesquisas de Joseph B. Rhine (década de 1930), na Universidade de Duke (EUA).
  • Objetivo: Estudar fenômenos paranormais (ESP – percepção extra-sensorial, PK – psicocinesia) em condições controladas de laboratório.
  • Método: Uso de experimentos estatísticos (ex.: cartas Zener, lançamentos de dados) para verificar se há resultados além do acaso.
  • Postura: Evita explicações espiritualistas. Interpreta os fenômenos como capacidades da mente humana, em grande parte desconhecidas.
  • Característica central: Busca a validação científica e aceitação acadêmica, mas, ao mesmo tempo, sofre críticas pela dificuldade de reproduzir os fenômenos de forma controlada.
  • Limite: Muitos fenômenos mediúnicos, especialmente os que envolvem comunicações inteligentes e conteúdos desconhecidos do médium, não se explicam apenas por faculdades parapsicológicas.

4. Espiritismo

  • Origem: Codificado por Allan Kardec a partir de 1857, com base no estudo metódico das manifestações espirituais.
  • Objetivo: Explicar a natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como sua relação com o mundo corporal.
  • Método: O método espírita, formulado por Kardec, alia observação dos fatos, comparação, controle universal das comunicações e análise racional.
  • Postura: Reconhece a existência de fenômenos anímicos (da alma encarnada), mas distingue-os dos verdadeiros fenômenos espíritas, que envolvem inteligências desencarnadas.
  • Característica central: Explica os fenômenos como provas da sobrevivência da alma e da comunicabilidade dos Espíritos.
  • Abrangência: Vai além da investigação dos fenômenos, constituindo uma filosofia espiritualista com consequências morais.

5. Pontos de Contato

  • Todas as três correntes reconhecem a existência de fenômenos extraordinários, que desafiam as explicações tradicionais da ciência materialista.
  • Todas defendem, em maior ou menor grau, a necessidade de estudo sério e sistemático desses fatos.
  • Metapsíquica e Parapsicologia se dedicaram a validar e entender fenômenos que o Espiritismo já estudava no século XIX.

6. Diferenças Fundamentais

Apesar de abordarem objetos semelhantes, Metapsíquica, Parapsicologia e Espiritismo diferem em vários pontos essenciais:

  • Origem: A Metapsíquica surgiu com Charles Richet no final do século XIX; a Parapsicologia consolidou-se com Joseph Rhine nos anos 1930; o Espiritismo antecede ambas, codificado por Allan Kardec em 1857.
  • Objeto de estudo: A Metapsíquica buscava compreender os fenômenos psíquicos além da física tradicional; a Parapsicologia concentrou-se em fenômenos específicos, como a percepção extra-sensorial e a psicocinesia; o Espiritismo trata das manifestações dos Espíritos e da sobrevivência da alma.
  • Hipótese central: Para a Metapsíquica, os fenômenos decorrem de faculdades humanas desconhecidas; para a Parapsicologia, são potenciais ainda não explicados da mente; para o Espiritismo, resultam da interação entre encarnados e desencarnados.
  • Método: A Metapsíquica apoiava-se na observação experimental, ainda restrita; a Parapsicologia utilizou métodos estatísticos e de laboratório; o Espiritismo aplicou um método próprio, que inclui a comparação dos fatos, a crítica das comunicações e o controle universal dos ensinos dos Espíritos.
  • Limitações: A Metapsíquica e a Parapsicologia não conseguem explicar satisfatoriamente os fenômenos de caráter inteligente, sobretudo as comunicações com conteúdos além do conhecimento do médium. O Espiritismo, por sua vez, amplia a análise, oferecendo também uma interpretação filosófica e moral.
  • Abrangência: Metapsíquica e Parapsicologia permaneceram no campo experimental; o Espiritismo integra ciência, filosofia e moral, proporcionando uma visão mais ampla do ser humano e de sua destinação espiritual.

7. Conclusão

A Metapsíquica e a Parapsicologia representaram importantes tentativas da ciência em se aproximar do estudo dos fenômenos anômalos. Ambas, contudo, mantiveram-se presas a uma visão reducionista, limitando-se à hipótese anímica e evitando a aceitação da realidade espiritual.

O Espiritismo, ao contrário, encara o fenômeno em toda a sua amplitude, reconhecendo tanto a participação da alma encarnada quanto a ação de inteligências desencarnadas. Seu valor não está apenas em explicar o fenômeno, mas em extrair dele consequências filosóficas e morais para a vida humana.

Assim, podemos dizer que:

  • A Metapsíquica foi um estágio de transição entre a curiosidade científica e a sistematização espírita.
  • A Parapsicologia é um esforço de validação acadêmica, mas ainda insuficiente para abranger o fenômeno espiritual.
  • O Espiritismo oferece a explicação mais abrangente, pois integra ciência, filosofia e moral, respondendo ao mesmo tempo ao “como” e ao “para quê” dos fenômenos.

Referências

Sobre o Espiritismo

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 1857. Traduções modernas: FEB, IDE, LAKE, entre outras.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1ª ed. 1861. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1ª ed. 1868. FEB.
  • KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. 1ª ed. 1859. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos volumes.

Sobre a Metapsíquica

  • RICHET, Charles. Traité de Métapsychique. Paris: Félix Alcan, 1922.
  • RICHET, Charles. Thirty Years of Psychical Research. New York: Macmillan, 1923.
  • RICHET, Charles. La Grande Espérance. Paris: Albin Michel, 1933.

Sobre a Parapsicologia

  • RHINE, Joseph B. Extra-Sensory Perception. Boston: Boston Society for Psychic Research, 1934.
  • RHINE, Joseph B. New Frontiers of the Mind. New York: Farrar & Rinehart, 1937.
  • RHINE, Joseph B.; PRATT, J. G. Parapsychology: Frontier Science of the Mind. Springfield: Charles C. Thomas, 1957.
  • PRATT, J. Gaither et al. ESP Research Today: A Study of Developments in Parapsychology Since 1960. Metuchen, N.J.: Scarecrow Press, 1977.

Estudos Complementares

  • BASTOS, José Herculano Pires. Parapsicologia Hoje e Amanhã. São Paulo: Paidéia, 1970.
  • AMIET, André. História da Metapsíquica. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.
  • GAULD, Alan. A History of the Society for Psychical Research. London: Macmillan, 1968.

 

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