A IMPORTÂNCIA DA IMPRENSA ESPÍRITA:

UM OLHAR ATUALIZADO

- A Era do Espírito –

 

Introdução

Desde a codificação do Espiritismo por Allan Kardec, com “O Livro dos Espíritos” (1857), a imprensa teve papel fundamental na propagação da Doutrina. O lançamento da Revue Spirite em 1858 impulsionou a difusão do Espiritismo na Europa e, no Brasil, jornais e revistas espíritas desempenharam função equivalente. Este artigo revisita esse panorama, apresentando aspectos atuais à luz da Doutrina Espírita e dados contemporâneos.

1. Revue Spirite: A Revista Fundadora

Kardec lançou a Revue Spirite em 1º de janeiro de 1858, em Paris, apenas oito meses após “O Livro dos Espíritos”, com o propósito de estudar o espírito tanto na vida como após a morte. Ele a dirigiu até seu falecimento em 31 de março de 1869. Atualmente, a Revue Spirite é o órgão oficial do Conselho Espírita Internacional, sediado no Brasil, e desde outubro de 2020 é distribuída gratuitamente por meio digital.

2. A Imprensa Espírita no Brasil: Das Origens ao Hoje

O Brasil viu surgir, antes mesmo de livros doutrinários, um jornal espírita: o Echo d’Além Túmulo, em Salvador — marco inicial de uma prolífica imprensa espírita. Figuras como Augusto Elias da Silva (O Reformador, 1883), Antônio Gonçalves da Silva – “Batuíra” (Verdade e Luz), e Cairbar Schutel (O Clarim, 1905; Revista Internacional de Espiritismo, 1925) foram pioneiros que distribuíam seus periódicos casa a casa, em centros de ensino e até à porta de cemitérios.

Ao longo do tempo, outros jornais, revistas e boletins surgiram em diversas regiões do país, inclusive veículos digitais e blogs (diários com reflexões e comentários) especializados, como A Era do Espírito, que atuam como pontes entre a história doutrinária e a reflexão contemporânea.

3. Panorama Atual: Centros e Frequentadores Espíritas

Em 2024, estimava-se a existência de cerca de 9.975 instituições espíritas em todo o Brasil, considerando casas espíritas, centros federados, obras assistenciais e núcleos de estudo. O número de adeptos declarados gira em torno de 4,25 milhões, com uma média de 426 frequentadores por instituição. Há, ainda, aproximadamente 8,5 milhões de simpatizantes, que participam de forma esporádica.

A Federação Espírita Brasileira (FEB) congrega cerca de 10 mil instituições espíritas. Segundo o Censo de 2010, o Brasil possuía 3,8 milhões de espíritas, número que, à luz de levantamentos mais recentes, cresceu de forma significativa, ampliando também o público potencial da imprensa espírita.

4. Os Desafios e o Crescimento da Imprensa Espírita

Historicamente, calculava-se que, apenas no estado de São Paulo, haveria uma demanda potencial de cerca de 1 milhão de leitores, o que exigiria a produção mínima de 350 mil exemplares mensais. No entanto, observava-se um déficit: apenas cerca de 30 veículos periódicos, somando aproximadamente 80 mil exemplares por mês; descontando-se a circulação fora do Estado, leitores repetidos e encalhe, apenas cerca de 24 mil exemplares eram efetivamente lidos, alcançando em torno de 72 mil pessoas.

No cenário nacional, embora não haja levantamento recente com precisão semelhante, a relação entre o número de publicações e a quantidade de centros e adeptos sugere que a oferta de material impresso ainda está aquém do potencial de público. Com a crescente digitalização, parte dessa lacuna vem sendo preenchida por revistas digitais, podcasts (programa de áudio digital), transmissões ao vivo e blogs especializados, ampliando o alcance da mensagem doutrinária.

5. Caminhos para Ampliação e Melhoria

As soluções apontadas historicamente continuam válidas e podem ser reforçadas:

• Incentivo à leitura nos centros – evitando que exemplares gratuitos fiquem guardados e não cheguem ao público.
• Melhoria da qualidade do conteúdo – com jornalismo espírita mais informativo, crítico e embasado na codificação.
• Adoção ampla de meios digitais – websites, edições virtuais, podcasts, canais de vídeo e redes sociais para alcançar novos públicos.
• Ações federativas coordenadas – fortalecendo a integração entre entidades como a FEB, as uniões e federações estaduais, e a imprensa local.

Exemplos como o da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP), que mantém ensino a distância (EAD), canal no YouTube (USE TV) e eventos como a “Semana da Família Espírita”, demonstram como a imprensa e os meios digitais podem caminhar juntos para expandir a divulgação doutrinária.

Conclusão

A imprensa espírita, desde a Revue Spirite até as plataformas digitais, mantém-se como ferramenta fundamental para difundir e fortalecer a Doutrina, bem como para estimular a consciência crítica dos adeptos.

Com quase 10 mil instituições, mais de 4 milhões de espíritas e milhões de simpatizantes, o Brasil é hoje o maior polo espírita do mundo. O desafio, porém, é fazer com que a informação doutrinária circule de forma ampla, qualificada e acessível, alcançando tanto os frequentadores regulares quanto novos públicos, sempre guiando-se pelos princípios deixados por Allan Kardec.

Referências

1. Juventude Espírita – Panorama 2024: número de instituições, adeptos e simpatizantes.
2. Federação Espírita Brasileira (FEB) – Dados institucionais.
3. IBGE – Censo 2010.
4. Wikipédia – História e atualidade da Revue Spirite e do Espiritismo no Brasil.
5. O Consolador – Pioneiros da imprensa espírita no Brasil.
6. Assiscity – Movimento espírita brasileiro.
7. Blog A Era do Espírito – Estudos e artigos doutrinários.
8. Franzolim – Artigos e reflexões sobre a imprensa espírita.
9. USE-SP – Atuação e projetos de divulgação doutrinária.