Introdução
Há quase dois milênios, Jesus nos advertiu e
convocou: “Ide! Eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos”
(Lucas 10:3). Não era apenas um chamado aos discípulos daquele tempo, mas um
apelo permanente aos trabalhadores da seara do Evangelho, ao longo das eras. Ao
mesmo tempo, o Mestre anunciava a vinda do Consolador Prometido (João
16:7), destinado a guiar a humanidade “em toda a verdade” (João 16:13).
No momento certo, cumpriram-se essas promessas. O
Consolador se apresentou sob a égide do Espírito de Verdade, na feição
da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, com a missão de
realizar a transformação moral da humanidade, não por imposição, mas pelo
melhoramento gradual dos indivíduos, célula viva da sociedade (O Livro dos Médiuns, cap. XXIX, item
130).
Hoje, na condição de trabalhadores da última
hora (Evangelho Segundo o Espiritismo,
cap. XX, item 2), cabe-nos responder ao mesmo chamado: “Ide!”. Não para
um confronto destrutivo, mas para o serviço de semeadura, exemplificação e amor
incondicional, mesmo no meio dos lobos.
1. O
Objetivo do Espiritismo
Jesus, ao falar do Consolador, antecipou a essência
da Doutrina Espírita: uma ciência de consequências morais, que esclarece as
leis da vida, dissipa a superstição e combate a fé cega, substituindo-a pela fé
raciocinada.
Conforme Kardec registrou na Revista Espírita
(outubro de 1866), o Espiritismo é movimento renovador, preenchendo o vazio
deixado pela incredulidade, fortalecendo a moral e libertando a inteligência
humana do fanatismo e da obediência cega. Seu objetivo central é o
melhoramento individual, condição indispensável para a transformação da
humanidade (Revista Espírita, abril de 1866).
Essa luta inclui a destruição do materialismo,
entendido não apenas como negação de Deus, mas como o conjunto de vícios e
condutas egoístas — corrupção, exploração, desperdício, violência — que
degradam o espírito humano (O Livro dos
Espíritos, questão 799).
2. O Compromisso
do Espírita Consigo Mesmo
A missão do espírito encarnado é instruir, auxiliar
o progresso e melhorar as instituições humanas (O Livro dos Espíritos, questão 573). O espírita consciente não pode
limitar-se à crença ou à simpatia pela Doutrina; deve viver o que aprende,
domando suas más inclinações (Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3).
Estudar a Doutrina Espírita não é opcional. A falta de conhecimento doutrinário torna o movimento vulnerável aos falsos profetas — fenômeno que o próprio Kardec denunciou já em 1866, alertando contra a substituição do alicerce espírita por modismos espirituais. Assim,: “Estudar a Doutrina Espírita, conhecer a Doutrina dos Espíritos, para viver Jesus”.
3. O
Dever do Espírita Perante a Sociedade
O Espiritismo demonstra que a vida em sociedade é
lei natural (O Livro dos Espíritos,
questão 766) e que a reencarnação é mecanismo divino para a evolução moral
(questões 132 e 166). No entanto, a sociedade atual padece de profundas
desigualdades: fome, miséria, corrupção e violência.
Kardec, ao comentar a questão 930 de O Livro dos
Espíritos, é claro: numa sociedade organizada segundo a lei de Cristo,
ninguém deve morrer de fome. A justiça social é parte integrante da moral espírita;
não basta o trabalho assistencial — é preciso ir à raiz das causas da miséria,
combatendo estruturas injustas.
Enquanto houver fome e desemprego, não haverá
fraternidade real. O Espiritismo, como bússola moral e intelectual, oferece à
humanidade a consciência necessária para promover uma ordem social fundada na
justiça, solidariedade e responsabilidade mútua (Obras Póstumas).
4. Ir ao
Meio dos Lobos
O chamado de Jesus não se destina a espíritas de
atitude passiva, que aguardam soluções do Alto sem agir. Ir “ao meio dos lobos”
significa enfrentar as dificuldades do mundo munidos de preparo moral e
conhecimento — tanto das leis espirituais quanto das leis da matéria.
A ética do amor não é simples opção sentimental: é
uma necessidade social. Quando a estrutura econômica nega aos homens o
alimento, a saúde e o trabalho, estimula a violência e o egoísmo. O espírita
consciente deve participar ativamente da construção de soluções, influenciando
leis, instituições e relações humanas.
Conclusão
A missão do espírita é clara: construir,
consciente e ativamente, uma nova forma de sociedade, onde as leis divinas
orientem tanto a vida espiritual quanto a material. Nosso compromisso é com
Jesus, a Doutrina Espírita e a humanidade.
O apelo de Erasto, em 1861, ecoa com a mesma
urgência: “Ide e pregai… lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a
iniquidade… proscrevei o culto do bezerro de ouro”.
Responder a esse chamado é mais do que dever
doutrinário; é nossa oportunidade de servir, crescer e transformar.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
- XAVIER, Francisco Cândido. Instruções de Bezerra de Menezes.
- Bíblia Sagrada — Evangelhos de Lucas, Mateus e João.
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