Introdução
Muitas
pessoas já relataram uma experiência curiosa e impactante: ouvir nitidamente o
próprio nome sendo chamado, sem que exista uma fonte física identificável. Esse
fenômeno, aparentemente simples, provoca surpresa, inquietação e até mesmo
receio em quem o vivencia.
À
primeira vista, é sempre necessário verificar explicações materiais. Um som
externo, um aparelho eletrônico ou ruídos vindos da vizinhança podem justificar
o ocorrido. Contudo, quando tais manifestações se repetem com nitidez e
persistência, surge a necessidade de investigar uma dimensão além do plano
físico.
A
Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec a partir de 1857, oferece
explicações claras e racionais sobre esses acontecimentos. O fenômeno em
questão insere-se no campo da mediunidade auditiva, ou clariaudiência,
faculdade natural do Espírito encarnado que permite a percepção de sons e vozes
originados do mundo espiritual.
A mediunidade auditiva na Codificação Espírita
Em O
Livro dos Médiuns, capítulo XIV, Allan Kardec descreve a existência dos médiuns
auditivos, capazes de ouvir vozes ou sons vindos de Espíritos. Ele explica
que essa faculdade pode manifestar-se de forma esporádica ou contínua, variando
conforme a sensibilidade de cada indivíduo.
Na Revista
Espírita de abril de 1859, Kardec relata comunicações obtidas por médiuns
auditivos que ouviam nitidamente palavras e orientações de Espíritos. Esses
registros mostram que o fenômeno não é mera ilusão, mas sim uma faculdade
legítima da alma humana, sujeita às mesmas leis universais que regem todas as
manifestações mediúnicas.
O
Codificador ressalta ainda a importância do discernimento. Nem toda voz ouvida
é expressão de Espíritos elevados. Assim como ocorre em outros tipos de
mediunidade, a sintonia moral do médium exerce papel fundamental para
determinar a qualidade dos Espíritos que se aproximam.
Vozes espirituais: entre auxílio e aprendizado
Quando
alguém ouve frequentemente uma voz chamando seu nome, pode estar em contato com
Espíritos amigos, mentores ou protetores espirituais que buscam atrair sua
atenção para determinada orientação ou advertência.
No
entanto, a experiência também pode envolver Espíritos necessitados, que
recorrem ao médium em busca de auxílio. Emmanuel, no livro O Consolador,
adverte que toda faculdade mediúnica é concedida com vistas ao serviço fraterno
e à edificação moral do próprio médium. Nesse sentido, ouvir vozes não deve ser
visto como motivo de temor, mas como oportunidade de aprendizado e
responsabilidade.
Kardec
também alerta contra os riscos da fascinação ou da obsessão, quando Espíritos
inferiores se aproveitam da sensibilidade mediúnica para enganar ou perturbar.
Por isso, recomenda-se estudo constante, vigilância e prática do Evangelho como
sustentação moral.
O propósito maior da faculdade
A
Doutrina Espírita ensina que nenhuma faculdade é concedida sem finalidade útil.
A mediunidade auditiva, como qualquer outra, é uma ferramenta de crescimento
espiritual, cuja utilidade depende da forma como é conduzida.
Quando
aliada ao estudo, à prece e à prática do bem, torna-se um canal de luz,
possibilitando ao médium ser intermediário de mensagens de consolo, orientação
e esclarecimento.
Assim,
ouvir vozes não é apenas uma experiência estranha ou perturbadora. É, na
verdade, um chamado do invisível que convida o ser humano a ampliar sua
percepção da vida, reconhecendo que a existência vai muito além dos limites da
matéria.
Conclusão
O fenômeno
de ouvir vozes sem origem física, longe de ser apenas um acontecimento curioso,
insere-se no campo da mediunidade auditiva, reconhecida e estudada pela
Doutrina Espírita desde os tempos de Allan Kardec.
Trata-se
de uma faculdade natural do Espírito, cuja finalidade essencial é servir ao bem
e ao progresso, tanto daquele que a possui quanto dos que podem ser auxiliados
por meio dela.
O
Espiritismo nos mostra que todo dom espiritual é uma oportunidade de serviço e
de evolução, cabendo a cada um utilizá-lo com responsabilidade, discernimento e
amor.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 2. ed. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 2. ed. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 2. ed. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869). Diversos números.
- KARDEC, Allan. Obras
Póstumas. FEB.
- XAVIER, Francisco
Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.
- XAVIER, Francisco
Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz.
FEB.
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