quinta-feira, 14 de agosto de 2025

VIVER COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ:
A MORTE À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espiritismo -

Introdução

A morte é, paradoxalmente, a maior certeza e o maior tabu da humanidade. Desde as civilizações mais antigas, buscamos compreender e, muitas vezes, adiar a reflexão sobre esse momento inevitável. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece uma perspectiva singular, afastando o temor irracional e iluminando a compreensão desse fenômeno como simples transição da vida material para a vida espiritual. O Espiritismo não apenas responde às questões fundamentais sobre o que acontece após a morte, mas também orienta sobre como viver de modo que esse instante nos encontre serenos, com a consciência tranquila.

A certeza que nos une

Todas as formas de vida, dos mais simples vegetais aos seres humanos, experimentam o ciclo do nascimento, desenvolvimento e morte. O Livro dos Espíritos, nas questões 149 a 165, apresenta a morte não como destruição, mas como retorno do Espírito ao mundo espiritual, sua verdadeira pátria. Kardec observa que, para o sábio, a morte é libertação; para o imprevidente, é motivo de susto e arrependimento.

Apesar dessa certeza universal, muitos evitam falar ou pensar sobre a morte, como se o silêncio fosse capaz de mantê-la distante. Essa recusa, porém, priva-nos de uma vida mais consciente e equilibrada.

Preparar-se para viver… e para morrer

Elizabeth Kübler-Ross, ao estudar pacientes terminais, constatou que a ausência de preparo para a morte traz sofrimento acrescido: pendências emocionais, palavras não ditas, reconciliações adiadas. A Doutrina Espírita concorda com essa visão prática e a amplia, mostrando que a preparação para a morte é, na verdade, preparação para viver melhor.

O Espírito de Verdade, no Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. VI), convida-nos a aproveitar cada dia como oportunidade de progresso e caridade, de modo que, ao deixar este mundo, possamos fazê-lo com a consciência tranquila. Viver “como se não houvesse amanhã” não é viver na pressa, mas na plenitude — com afeto, gratidão e atos de amor.

Perdão e reconciliação

O Espiritismo reforça que as mágoas e ressentimentos são pesos que levamos para além do túmulo, dificultando a libertação e a paz no plano espiritual. Kardec, na Revista Espírita de dezembro de 1861, relata comunicações de Espíritos arrependidos por não terem se reconciliado em vida. Assim, o convite é claro: perdoar agora, resolver agora, reconciliar agora. O tempo que temos é o presente.

A morte como reencontro

A Doutrina Espírita não vê a morte como separação definitiva, mas como pausa temporária. Os laços de amor persistem, e a vida espiritual nos aproxima novamente daqueles que amamos, quando o merecimento e a lei divina assim permitem. Essa certeza consola e fortalece diante da partida de entes queridos.

Viver com a casa limpa e a mesa posta

O poema “Consoada”, de Manuel Bandeira, ilustra poeticamente o ideal espírita: aguardar a “indesejada das gentes” com a casa em ordem e o coração sereno. Para o Espírito, essa “casa limpa” é a consciência livre de culpas graves, os deveres cumpridos, a vida marcada por mais sorrisos do que lágrimas causadas.

Conclusão

Viver como se não houvesse amanhã, sob a luz do Espiritismo, é assumir que a morte é apenas passagem. É cultivar desde já uma vida de amor, perdão e serviço, para que, ao final, possamos dizer: “O meu dia foi bom, pode a noite descer”.

Quando a hora chegar, que possamos partir com a alma leve e a certeza de que o amanhã, para o Espírito, nunca deixa de existir.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 88. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2023. Questões 149-165.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: FEB, 2023. Cap. VI.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos. Dezembro de 1861.
  • KÜBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
  • MOMENTO ESPÍRITA. Viver como se não houvesse amanhã. Disponível em: momento.com.br.
  • BANDEIRA, Manuel. Consoada. In: Poesias completas. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.

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