sábado, 9 de agosto de 2025

A OPÇÃO PELA IGNORÂNCIA E A VISÃO ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

Vivemos um tempo em que a informação circula com velocidade sem precedentes, mas paradoxalmente cresce a tendência de evitar conversas profundas sobre temas essenciais. Política, questões sociais, economia, ética, ciência e espiritualidade são frequentemente deixadas de lado nas rodas de conversa, como se o simples ato de refletir sobre eles fosse um fardo.

Essa postura, que poderíamos chamar de opção pela ignorância, não se restringe ao mundo secular. Ela também se manifesta no meio espírita, quando há preferência por conteúdos de puro entretenimento em detrimento do estudo sério e metódico. Sob a ótica da Doutrina Espírita, essa escolha consciente ou inconsciente afasta-nos da lei natural de progresso, que Kardec apresenta na Questão 780 de O Livro dos Espíritos:

“O progresso é uma lei da Natureza. O homem não pode opor-se indefinidamente ao progresso; é uma força viva que o arrasta e aqueles que tentam detê-lo são esmagados por ele.”

Ignorar a realidade pode parecer, à primeira vista, um alívio contra as dores do mundo. No entanto, essa fuga nos impede de compreender nosso papel e de agir para a transformação de nós mesmos e da sociedade.

1. Alienação: refúgio ou prisão?

O afastamento das discussões mais sérias é, muitas vezes, resultado da sensação de impotência diante de um cenário instável. Para alguns, “não saber” parece diminuir a ansiedade e o sofrimento. Contudo, a Doutrina Espírita nos ensina que a responsabilidade moral é inseparável da liberdade de escolha.

Na Questão 466 de O Livro dos Espíritos, aprendemos que somos influenciados constantemente, mas temos o poder de discernir e decidir. Quando abrimos mão dessa faculdade, entregamo-nos à condução de interesses externos — sejam materiais ou espirituais — e retardamos nossa própria evolução.

2. A superficialidade no movimento espírita

No meio espírita, percebe-se uma tendência de priorizar obras romanceadas ou leituras de cunho místico, deixando para segundo plano os estudos doutrinários, científicos e filosóficos. Isso cria um “espiritismo superficial”, pouco preparado para oferecer respostas lúcidas aos desafios morais e intelectuais de nossa época.

Kardec, no Livro dos Médiuns (item 230), enfatiza:

“A melhor garantia contra a mistificação é o estudo prévio e aprofundado da teoria.”

Estudar é fortalecer a fé com raciocínio, base essencial para evitar ilusões e cumprir a missão esclarecedora que o Espiritismo propõe.

3. Ignorância e manutenção das desigualdades

A alienação não é neutra: ela alimenta estruturas injustas. Quando as massas se afastam da reflexão e da ação, favorecem que poucos decidam por muitos, perpetuando privilégios e desigualdades.

Na Questão 132 de O Livro dos Espíritos, vemos que o objetivo da encarnação é “atingir a perfeição”, o que inclui participação ativa na vida coletiva. Na Lei de Sociedade (LE, questões 766–774), compreendemos que o progresso individual está ligado ao progresso do conjunto.

Abster-se é, de certo modo, colaborar com o atraso — e atrasar a regeneração que tanto buscamos para o planeta.

4. O chamado à consciência

A história humana prova que são as minorias conscientes que provocam as grandes transformações. No plano espiritual, isso corresponde ao trabalho de Espíritos e encarnados mais esclarecidos, que inspiram e impulsionam o avanço moral.

Em Caminho, Verdade e Vida (cap. 2), Emmanuel afirma:

“Não é lícito desertar da luta pela melhoria geral, porque a obra de Deus nos reclama em toda parte.”

Romper com a opção pela ignorância é, portanto, um ato de coragem e de fidelidade à lei de progresso.

Conclusão

A ignorância deliberada pode parecer um abrigo contra as dores do mundo, mas é, na verdade, uma prisão que nos afasta da luz. O Espiritismo nos convida a encarar a realidade com lucidez, a cultivar o saber aliado à moral e a agir em favor do bem comum.

Estamos todos inseridos num “imenso condomínio” — o Universo —, no qual nossas escolhas individuais influenciam o conjunto. Fugir dessa responsabilidade é atrasar não apenas a nossa felicidade, mas a de toda a coletividade.

A saída está na educação integral do ser: intelectual, moral e espiritual. Assim, deixamos de ser espectadores e nos tornamos cooperadores conscientes da obra divina.

Referências

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  2. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  3. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  4. XAVIER, Francisco Cândido, pelo Espírito Emmanuel. Caminho, Verdade e Vida. FEB.
  5. SANTOS, Paulo R. A Opção pela Ignorância.

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