segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A PORTA ESTREITA E OS FRUTOS DO ESPÍRITO:
UMA REFLEXÃO À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito – 

Introdução

As palavras de Jesus sobre a porta estreita e os falsos profetas (Mateus 7:13-20) são, ao mesmo tempo, advertência e convite. Advertência, porque mostram os riscos da ilusão material e das aparências religiosas. Convite, porque nos lembram que a verdadeira vida se conquista pelo esforço da transformação íntima e pela fidelidade ao Evangelho.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ilumina esse ensinamento, mostrando que o caminho estreito não é um fardo imposto, mas uma oportunidade de libertação espiritual. O Espiritismo, ao explicar a vida futura, as consequências dos atos humanos e a justiça divina, nos ajuda a compreender que cada escolha tem repercussões e que a verdadeira porta estreita é a do dever cumprido.

A Porta Estreita e a Lei do Progresso

Os Espíritos superiores, em O Livro dos Espíritos (questões 781-785), ensinam que a humanidade progride pela lei divina. Esse progresso, no entanto, não se dá pela busca de facilidades, mas pela superação de provas e pelo combate às próprias imperfeições. A porta larga simboliza o comodismo, o apego aos prazeres efêmeros e às ilusões materiais. Já a porta estreita representa o esforço de renúncia, de disciplina moral e de crescimento intelectual.

Na Revista Espírita (setembro de 1863), Kardec observa que “o Espiritismo não veio trazer um caminho mais cômodo, mas mostrar a necessidade do esforço individual”. Assim, quem deseja colher bons frutos deve primeiro cultivar a árvore interior com paciência, trabalho e perseverança.

Os Falsos Profetas e os Mercenários da Fé

Jesus advertiu contra os falsos profetas que, disfarçados em pele de ovelha, ocultam intenções egoístas. O Espiritismo reconhece essa realidade e alerta contra a exploração da fé. Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXI, “Falsos cristos e falsos profetas”), explica que a autenticidade de um missionário ou de uma doutrina não se mede pelas palavras bonitas, mas pelos frutos de moralidade, de caridade e de transformação que produzem.

Na Revista Espírita de dezembro de 1868, ele reforça: “A moral é o primeiro critério da verdade; toda doutrina que se afasta da caridade evangélica não pode ser senão obra de homens e não dos Espíritos superiores.”

Isso significa que não basta falar em nome de Deus: é preciso viver o que se prega. Onde há exploração material, orgulho religioso e ausência de caridade, a árvore está doente e seus frutos denunciam sua origem.

O Rico, o Pobre e a Porta Estreita

Jesus disse: “É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus” (Mateus 19:24). O Espiritismo esclarece que não se trata de condenação da riqueza em si, mas do uso que dela se faz. A posse de bens pode ser bênção quando administrada com desapego e caridade, mas é tentação perigosa quando conduz ao egoísmo.

Em O Livro dos Espíritos (questões 814-816), os Espíritos afirmam que tanto o rico quanto o pobre têm provas difíceis: o primeiro pela tentação do abuso e do orgulho; o segundo pela tentação da revolta e da inveja. A porta estreita, portanto, é para todos, independentemente da condição material, pois está relacionada ao modo como enfrentamos nossas provas.

O Caminho da Transformação Íntima

O esforço exigido para atravessar a porta estreita é contínuo. Não basta uma obra isolada ou uma atitude ocasional. Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, “Sede perfeitos”), lembra que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelo esforço em vencer más inclinações.

A porta estreita, nesse sentido, não é apenas símbolo de renúncia, mas também de conquista. É pelo trabalho perseverante de cada dia — combatendo o egoísmo, cultivando a humildade, exercitando a caridade — que se forja a alma livre.

Conclusão

A porta estreita é o caminho da disciplina moral, da renúncia e da fidelidade à consciência. É o oposto da porta larga, que oferece ilusões passageiras, mas conduz ao vazio espiritual. Jesus nos advertiu que “pelos frutos os conhecereis”, e o Espiritismo confirma que a autenticidade de uma crença ou de uma vida está nos resultados que gera: paz de consciência, fraternidade, caridade e amor.

A escolha entre a porta larga e a estreita é feita diariamente, em cada decisão, em cada ato, em cada renúncia ou queda. A cada um de nós cabe a responsabilidade de cultivar frutos bons, certos de que o bom Pastor nos chama pelo nome, conduzindo-nos às pastagens da verdadeira vida.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
  • PIRES, José Herculano. O Reino. Paideia.
  • XAVIER, Francisco Cândido (Espírito Emmanuel). Caminho, Verdade e Vida. FEB.

 

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