Introdução
As palavras de Jesus sobre a porta estreita e os
falsos profetas (Mateus 7:13-20) são, ao mesmo tempo, advertência e convite.
Advertência, porque mostram os riscos da ilusão material e das aparências
religiosas. Convite, porque nos lembram que a verdadeira vida se conquista pelo
esforço da transformação íntima e pela fidelidade ao Evangelho.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
ilumina esse ensinamento, mostrando que o caminho estreito não é um fardo
imposto, mas uma oportunidade de libertação espiritual. O Espiritismo, ao
explicar a vida futura, as consequências dos atos humanos e a justiça divina,
nos ajuda a compreender que cada escolha tem repercussões e que a verdadeira
porta estreita é a do dever cumprido.
A Porta
Estreita e a Lei do Progresso
Os Espíritos superiores, em O Livro dos
Espíritos (questões 781-785), ensinam que a humanidade progride pela lei
divina. Esse progresso, no entanto, não se dá pela busca de facilidades, mas
pela superação de provas e pelo combate às próprias imperfeições. A porta larga
simboliza o comodismo, o apego aos prazeres efêmeros e às ilusões materiais. Já
a porta estreita representa o esforço de renúncia, de disciplina moral e de
crescimento intelectual.
Na Revista Espírita (setembro de 1863),
Kardec observa que “o Espiritismo não veio
trazer um caminho mais cômodo, mas mostrar a necessidade do esforço individual”.
Assim, quem deseja colher bons frutos deve primeiro cultivar a árvore interior
com paciência, trabalho e perseverança.
Os Falsos
Profetas e os Mercenários da Fé
Jesus advertiu contra os falsos profetas que,
disfarçados em pele de ovelha, ocultam intenções egoístas. O Espiritismo
reconhece essa realidade e alerta contra a exploração da fé. Kardec, em O
Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXI, “Falsos cristos e falsos profetas”),
explica que a autenticidade de um missionário ou de uma doutrina não se mede
pelas palavras bonitas, mas pelos frutos de moralidade, de caridade e de
transformação que produzem.
Na Revista Espírita de dezembro de 1868, ele
reforça: “A moral é o primeiro critério
da verdade; toda doutrina que se afasta da caridade evangélica não pode ser
senão obra de homens e não dos Espíritos superiores.”
Isso significa que não basta falar em nome de Deus:
é preciso viver o que se prega. Onde há exploração material, orgulho religioso
e ausência de caridade, a árvore está doente e seus frutos denunciam sua
origem.
O Rico, o
Pobre e a Porta Estreita
Jesus disse: “É mais fácil passar um camelo pelo
buraco de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus” (Mateus 19:24).
O Espiritismo esclarece que não se trata de condenação da riqueza em si, mas do
uso que dela se faz. A posse de bens pode ser bênção quando administrada com
desapego e caridade, mas é tentação perigosa quando conduz ao egoísmo.
Em O Livro dos Espíritos (questões 814-816),
os Espíritos afirmam que tanto o rico quanto o pobre têm provas difíceis: o
primeiro pela tentação do abuso e do orgulho; o segundo pela tentação da
revolta e da inveja. A porta estreita, portanto, é para todos,
independentemente da condição material, pois está relacionada ao modo como
enfrentamos nossas provas.
O Caminho
da Transformação Íntima
O esforço exigido para atravessar a porta estreita
é contínuo. Não basta uma obra isolada ou uma atitude ocasional. Kardec, em O
Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, “Sede perfeitos”), lembra que o
verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelo esforço
em vencer más inclinações.
A porta estreita, nesse sentido, não é apenas
símbolo de renúncia, mas também de conquista. É pelo trabalho perseverante de
cada dia — combatendo o egoísmo, cultivando a humildade, exercitando a caridade
— que se forja a alma livre.
Conclusão
A porta estreita é o caminho da disciplina moral,
da renúncia e da fidelidade à consciência. É o oposto da porta larga, que
oferece ilusões passageiras, mas conduz ao vazio espiritual. Jesus nos advertiu
que “pelos frutos os conhecereis”, e o Espiritismo confirma que a autenticidade
de uma crença ou de uma vida está nos resultados que gera: paz de consciência,
fraternidade, caridade e amor.
A escolha entre a porta larga e a estreita é feita
diariamente, em cada decisão, em cada ato, em cada renúncia ou queda. A cada um
de nós cabe a responsabilidade de cultivar frutos bons, certos de que o bom
Pastor nos chama pelo nome, conduzindo-nos às pastagens da verdadeira vida.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas. FEB.
- PIRES, José Herculano. O Reino. Paideia.
- XAVIER, Francisco Cândido (Espírito Emmanuel). Caminho, Verdade
e Vida. FEB.
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