quarta-feira, 27 de agosto de 2025

A RESPONSABILIDADE DOS PAIS
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A parábola do filho pródigo, narrada por Jesus e comentada em O Evangelho segundo o Espiritismo, é um manancial de ensinamentos para compreender a misericórdia divina e, ao mesmo tempo, refletir sobre a missão dos pais terrenos. Este artigo propõe uma leitura simbólica dessa parábola, comparando o retorno do filho arrependido à festa da reencarnação, oportunidade que Deus concede para que o Espírito cresça, aprenda e se aperfeiçoe.

Se o Pai Celestial concede liberdade, respeito ao livre-arbítrio e acolhimento incondicional, os pais humanos, muitas vezes, agem de forma diversa: tutelam em excesso, retardam a independência ou limitam-se a transferir bens materiais, esquecendo-se da verdadeira herança espiritual — o amor, a educação moral e a formação para a vida.

A Doutrina Espírita ensina que a paternidade e a maternidade são missões sagradas confiadas pela Providência, com implicações profundas para o destino dos filhos e para o futuro da humanidade.

A Missão dos Pais segundo o Espiritismo

Em O Livro dos Espíritos (questões 582 e 583), Kardec indaga sobre a missão dos pais. Os Espíritos respondem que paternidade e maternidade são deveres de alta responsabilidade, pois Deus confia os filhos aos pais como tarefa e prova. Cabe a estes orientar a criança para o bem, desenvolver suas potencialidades, corrigir suas más tendências e auxiliá-la em sua caminhada evolutiva.

Na Revista Espírita (setembro de 1863, “A família espírita”), Kardec reforça que a família não é fruto do acaso, mas uma escola moral. Nela, Espíritos, muitas vezes unidos por débitos e compromissos do passado, reencontram-se para reparar falhas, fortalecer laços e aprender a amar. Negligenciar essa missão é falhar com a lei divina.

Assim, enquanto o Pai da parábola oferece liberdade ao filho para crescer por meio da experiência, muitos pais terrenos negam aos filhos a oportunidade de amadurecer, seja pelo excesso de tutela, seja pela omissão. O resultado é a formação de gerações despreparadas, frágeis diante das provas e presas fáceis das ilusões do mundo.

Violência Silenciosa: a Negligência Educativa

A violência não se resume ao crime que assola as ruas. Existe também a violência silenciosa, cometida sob o amparo da lei humana: a negligência educativa. Muitos pais oferecem roupas, conforto material e educação escolar, mas negam aquilo que é mais essencial: amor, orientação moral, limites justos e exemplos de retidão.

Do ponto de vista espírita, essa omissão constitui grave violência contra a esperança e contra a oportunidade de evolução do Espírito reencarnado. Léon Denis, em O Problema do Ser e do Destino, ressalta que a verdadeira educação deve ser integral, unindo ciência, moral e espiritualidade. Preparar um filho apenas para o sucesso material é deixá-lo vulnerável à queda moral e ao vazio existencial.

O Filho Pródigo e a Reencarnação

A parábola do filho pródigo pode ser vista como uma representação da lei de reencarnação. O filho que parte simboliza o Espírito que se afasta do Pai em busca da experiência terrena; o retorno, por sua vez, expressa o arrependimento e o desejo de recomeçar.

Cada nova encarnação é, portanto, uma “festa do retorno”: o Espírito regressa à escola da vida para corrigir-se, experimentar, aprender e amadurecer. Nesse processo, os pais são colaboradores de Deus, auxiliando no desenvolvimento moral e intelectual dos filhos. É seu dever favorecer a autonomia progressiva, sem abdicar da responsabilidade educativa que dá estrutura e direção à liberdade.

Responsabilidade Pessoal e Coletiva

Quando pensamos em violência, logo lembramos dos grandes crimes que chocam a sociedade. Contudo, a Doutrina Espírita nos alerta que a verdadeira violência nasce nas pequenas atitudes: no orgulho que humilha, no egoísmo que explora, na indiferença que abandona.

Assim como os pais têm deveres para com os filhos, cada Espírito tem responsabilidade diante da vida. Ao reencarnar, recebemos “o quinhão do Pai”: o corpo físico, a inteligência, o tempo e os recursos da natureza. Usá-los mal, por ignorância ou descuido, é desperdiçar os bens divinos — tornando-nos, ainda, filhos pródigos que não aprenderam a administrar a herança recebida.

Conclusão

A parábola do filho pródigo, vista à luz do Espiritismo, convida-nos a refletir tanto sobre a missão dos pais quanto sobre nossa própria responsabilidade como filhos da vida. Educar não é apenas prover sustento ou transmitir patrimônio; é, sobretudo, formar consciências para o bem, orientar pelo exemplo, corrigir com amor e preparar para a liberdade.

Quando os pais cumprem sua missão, colaboram com Deus na grande obra da regeneração humana. Quando falham, alimentam a violência silenciosa que corrói os alicerces da sociedade.

Que cada lar se converta em uma escola de almas, onde a maior herança seja o amor e a educação moral. Assim, estaremos todos nos preparando, como filhos pródigos, para o reencontro jubiloso com o Pai Celestial, que sempre nos aguarda de braços abertos.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos artigos.
  • DENIS, Léon. O Problema do Ser e do Destino.
  • XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel.
  • PEREIRA, Yvonne A. Seareiros de Volta.
  • SERRANO, Octávio Caúmo. A Violência e a Lei.

 

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