sábado, 23 de agosto de 2025

A RESSONÂNCIA SCHUMANN
E A PERSPECTIVA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec entre 1857 e 1869, não menciona diretamente a Ressonância Schumann (RS), fenômeno físico previsto em 1952 pelo físico alemão W. O. Schumann. Contudo, a filosofia espírita, ao propor a unidade das leis naturais — físicas e espirituais — oferece um arcabouço interpretativo para compreender como os ritmos da natureza podem influenciar o ser humano e como se relacionam com a vida espiritual.

A Revista Espírita (1858–1869) e Obras Póstumas (1890) revelam que Kardec sempre incentivou a investigação de todos os fenômenos naturais, buscando compreendê-los à luz da razão, da experiência e da observação, sem separar ciência, filosofia e moral. Nesse mesmo espírito, Camille Flammarion — astrônomo e companheiro de Kardec — empregava a metáfora do “Teclado Cósmico”, comparando o universo a um grande instrumento harmônico em que cada vibração participa de uma sinfonia universal.

Essa analogia permite integrar reflexões atuais sobre a Ressonância Schumann, um fenômeno físico, com a visão espiritual da vida e da interdependência cósmica.

O que é a Ressonância Schumann?

A Ressonância Schumann corresponde a um conjunto de frequências eletromagnéticas naturais que ocorrem na cavidade entre a superfície da Terra e a ionosfera.

  • Sua frequência fundamental é de aproximadamente 7,8 Hz, com harmônicos em 14, 20, 26 Hz e assim por diante.
  • É sustentada por descargas elétricas (raios) que ocorrem continuamente na atmosfera terrestre.
  • Pesquisas sugerem que essas frequências interagem com o cérebro humano, regulando ritmos biológicos ligados ao sono, à melatonina e à serotonina, podendo auxiliar, por exemplo, em tratamentos de insônia (Dove Medical Press).

Em síntese, trata-se de uma “batida rítmica” natural da Terra, um pulso planetário que envolve todos os seres vivos.

A Perspectiva Espírita

1. Harmonização com as Leis Naturais

A Doutrina Espírita ensina que o universo é regido por leis divinas, que se expressam tanto no campo físico quanto no moral. A Ressonância Schumann, como fenômeno natural, pode ser vista como um desses mecanismos de equilíbrio, lembrando a afirmação espírita de que “a natureza é o grande livro no qual o homem deve estudar a lei de Deus” (O Livro dos Espíritos, q. 614).

2. Influência do Mundo Espiritual

O Espiritismo mostra que encarnados e desencarnados compartilham o mesmo ambiente fluídico. Assim, oscilações eletromagnéticas como a RS podem constituir um meio de interação indireta entre o plano material e o espiritual, favorecendo ou dificultando a sintonia mental, a saúde e até mesmo os fenômenos mediúnicos.

Na Revista Espírita (dezembro de 1861), Kardec observa que as condições atmosféricas influenciam certas manifestações mediúnicas. A Ressonância Schumann pode ser interpretada como parte desses fatores ambientais sutis que afetam a sensibilidade humana e espiritual.

3. Aplicações Práticas

Pesquisas sobre a RS apontam efeitos potenciais no ciclo biológico humano. No campo espírita, isso pode ser correlacionado à influência do meio ambiente sobre a saúde espiritual e mediúnica. Ambientes em desarmonia eletromagnética poderiam facilitar a obsessão ou o desequilíbrio psíquico, ao passo que condições harmônicas poderiam favorecer a oração, a concentração e a mediunidade equilibrada.

4. Método de Estudo

O método espírita é claro: observar, comparar, analisar, deduzir e generalizar. (Obras Póstumas, “Projeto de Reforma da Filosofia”). A Ressonância Schumann, enquanto fenômeno físico, pode e deve ser estudada sob esse prisma, sem misticismo, buscando compreender suas causas e consequências.

Flammarion e o Teclado Cósmico

Camille Flammarion, em sua metáfora do “Teclado Cósmico”, sugeria que o universo vibra em diferentes escalas de energia, assim como um piano ressoa em múltiplas notas. Nesse sentido, a RS poderia ser comparada a uma dessas notas fundamentais da Terra, à qual todos os seres vivos estão sintonizados.

Tal perspectiva dialoga com a ideia espírita de que todos fazemos parte de uma harmonia universal, em que cada vibração, pensamento ou ação influencia o conjunto. Assim como um músico pode afinar seu instrumento, o ser humano pode afinar a alma às frequências do bem, do amor e da fraternidade.

Considerações Críticas

Conforme estudos analisados por Alexandre Fontes da Fonseca, não há comprovação científica de que a RS esteja acelerando ou de que explique a sensação subjetiva de que “o tempo passa mais rápido”. A variação fundamental da frequência permanece estável em torno de 7,8 Hz, oscilando apenas em função de fatores naturais.

A Doutrina Espírita, por sua vez, alerta contra explicações apressadas ou especulativas. Kardec lembrava que é preciso distinguir entre o comprovado, o provável e o imaginário (Revista Espírita, maio de 1859). Assim, a RS deve ser vista como um campo promissor de pesquisa, mas não como fundamento de crenças místicas.

Conclusão

A Ressonância Schumann, embora descoberta apenas no século XX, pode ser integrada ao pensamento espírita como um exemplo das múltiplas vibrações cósmicas que regem a vida. Ela ilustra a unidade entre ciência e espiritualidade, mostrando que os ritmos da natureza influenciam não apenas o corpo, mas também a alma, na medida em que favorecem a sintonia mental e espiritual.

À luz da Doutrina Espírita, não é necessário recorrer à RS para justificar a urgência do amor e da fraternidade, princípios já revelados por Jesus e reiterados pelos Espíritos Superiores. No entanto, compreender a ressonância natural da Terra como parte de uma “sinfonia universal” pode inspirar-nos a viver mais em harmonia com as leis divinas, cultivando saúde, equilíbrio e paz interior.

Referências

  • Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • Kardec, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • Kardec, Allan. Obras Póstumas. 1890.
  • Flammarion, Camille. O Desconhecido e os Problemas Psíquicos. Metáfora do Teclado Cósmico.
  • Schumann, W. O. “On the characteristic oscillations of a conducting sphere which is surrounded by an air layer and an ionospheric shell”. Zeitschrift für Naturforschung, 1952.
  • Cherry, N. “Schumann Resonances, a plausible biophysical mechanism for the human health effects of Solar/Geomagnetic Activity”. Natural Hazards, 2002.
  • Fonseca, A. F. da. “Considerações sobre a Ressonância Schumann”. Jornal Alavanca, 2004.

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