Introdução
Desde
os tempos mais remotos, a humanidade convive com fenômenos espirituais que
revelam a presença constante do mundo invisível junto ao mundo material.
Tradições religiosas, escritos antigos e relatos históricos confirmam a
intervenção de inteligências desencarnadas em diversas culturas.
Com a
codificação do Espiritismo (1857-1869), Allan Kardec trouxe à luz uma
explicação racional, moral e científica para tais manifestações, estabelecendo
bases sólidas para distinguir entre o que provém de Espíritos esclarecidos e o
que é produzido por entidades mistificadoras.
A
questão central, hoje como ontem, não é apenas se os Espíritos se comunicam,
mas como se comunicar com segurança e discernimento, evitando cair em
armadilhas de falsos profetas encarnados e desencarnados, conforme advertiu o
apóstolo João (1ª Epístola, 4:1) e o próprio Cristo, relembrado por Kardec em O
Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XXI).
1. O Mundo Invisível e a Ação dos Espíritos
A
Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec define os Espíritos como “os seres inteligentes da Criação que povoam
o Universo além do mundo material” (LE, q. 76 e Livro dos Médiuns,
cap. XXXII). Não são seres de uma criação à parte, mas as almas dos homens que
viveram na Terra ou em outros mundos, revestidos de um corpo semimaterial — o perispírito.
Estão
por toda parte, observando-nos e influenciando-nos, como ensina O Livro dos
Espíritos (questões 456-459). Sua ação é incessante: os bons Espíritos
inspiram no bem, enquanto os maus instigam paixões inferiores, conduzindo ao
erro, à obsessão e à discórdia.
A
história humana é marcada pela presença dessa influência. A Revista Espírita
(nov. 1859) mostra Kardec analisando comunicações de Espíritos vaidosos e
pseudosábios, já advertindo para o risco da fascinação — quando o médium ou
grupo se deixa dominar pelo orgulho e pela vaidade, acreditando-se possuidor de
revelações exclusivas.
2. Os Riscos das Mistificações Espirituais
Jesus
preveniu contra falsos profetas. Kardec amplia a advertência ao demonstrar que
tais falsos profetas não estão apenas entre os homens, mas também entre os
Espíritos desencarnados (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXI, item
7).
Essas
entidades apresentam uma linguagem empolada, cheia de termos difíceis, ou então
fútil e contraditória. Alimentam a vaidade, exploram a credulidade e desviam do
essencial: a regeneração moral.
No
século XIX, Kardec enfrentou fenômenos de moda semelhantes ao que hoje chamamos
de Transcomunicação Instrumental (TCI/EVP), que utiliza aparelhos para
captação de vozes e imagens. Em O Livro dos Médiuns, capítulo V (2ª
parte), já se encontram explicações suficientes sobre manifestações físicas,
ruídos e aparições, sempre com a advertência de que não há comunicação sem o
concurso dos fluidos humanos — isto é, da mediunidade.
Logo,
pretender dispensar médiuns ou negar o Evangelho como base moral da prática é
afastar-se do Espiritismo e abrir espaço para mistificações.
3. O Método Espírita: Ciência, Razão e
Universalidade
O
Espiritismo se apoia em três pilares: ciência, filosofia e moral evangélica.
Kardec adotou um método rigoroso de pesquisa:
- Observar os
fenômenos;
- Analisar e
comparar;
- Repetir
experiências para comprovação;
- Confrontar
comunicações pela universalidade do ensino dos Espíritos;
- Submeter tudo ao
crivo da razão e do bom senso.
Essa
metodologia evita personalismos, prevenindo contra sistemas isolados e
revelações particulares que não resistem ao exame lógico ou científico.
O
Espírito Erasto (1862), em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XXI,
item 9), oferece a chave de discernimento:
- O verdadeiro
missionário se reconhece pelos atos, pela humildade e pelo desinteresse.
- Os falsos se
anunciam como enviados especiais, orgulhosos e autoritários.
4. A Reforma do Centro Espírita
A
parábola da figueira estéril (Lucas 13:6-9) ilustra a necessidade de reforma.
Muitos centros espíritas se desviam da simplicidade evangélica e da seriedade
científica que deveriam caracterizá-los, cedendo a vaidades, disputas e
novidades doutrinárias sem base em Kardec.
Reforma,
aqui, não é inovação: é retorno às fontes — Jesus e Kardec.
O
Centro Espírita deve ser:
- Núcleo de estudo
sério das obras fundamentais;
- Oficina de vivência
evangélica;
- Hospital de almas
pelo exercício da caridade;
- Escola de
vigilância moral contra mistificações.
Negligenciar
esse papel é arriscar-se a transformar a instituição em figueira estéril, sem
frutos, incapaz de cumprir sua função de Consolador Prometido.
Conclusão
A
comunicação dos Espíritos é realidade incontestável. O desafio não é provar sua
existência, mas discernir sua qualidade.
O
Espiritismo, ao oferecer bases racionais e evangélicas, convida-nos a
desconfiar de todo exclusivismo, de toda novidade que dispense médiuns ou o
Evangelho, e de todo discurso empolado que careça de simplicidade e amor.
“Jesus é a porta, a
Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec é a chave.” Estudar a Doutrina
Espírita, meditar a Doutrina Espírita, viver a Doutrina Espírita é, em última
análise, viver Jesus.
Assim,
o movimento espírita poderá oferecer frutos maduros para a regeneração da
humanidade, resistindo às ilusões passageiras e mantendo-se fiel à sua missão.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869). FEB.
- ______. A Gênese.
FEB.
- ERÁSTO (Espírito).
Mensagem sobre falsos profetas (Evangelho Segundo o Espiritismo,
cap. XXI).
- Bíblia Sagrada. 1ª
Epístola de João, 4:1; Evangelhos de Lucas e Mateus.
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