sexta-feira, 22 de agosto de 2025

COMUNICAÇÕES DOS ESPÍRITOS:
VIGILÂNCIA DOUTRINÁRIA E REFORMA DO CENTRO ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde os tempos mais remotos, a humanidade convive com fenômenos espirituais que revelam a presença constante do mundo invisível junto ao mundo material. Tradições religiosas, escritos antigos e relatos históricos confirmam a intervenção de inteligências desencarnadas em diversas culturas.

Com a codificação do Espiritismo (1857-1869), Allan Kardec trouxe à luz uma explicação racional, moral e científica para tais manifestações, estabelecendo bases sólidas para distinguir entre o que provém de Espíritos esclarecidos e o que é produzido por entidades mistificadoras.

A questão central, hoje como ontem, não é apenas se os Espíritos se comunicam, mas como se comunicar com segurança e discernimento, evitando cair em armadilhas de falsos profetas encarnados e desencarnados, conforme advertiu o apóstolo João (1ª Epístola, 4:1) e o próprio Cristo, relembrado por Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XXI).

1. O Mundo Invisível e a Ação dos Espíritos

A Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec define os Espíritos como “os seres inteligentes da Criação que povoam o Universo além do mundo material” (LE, q. 76 e Livro dos Médiuns, cap. XXXII). Não são seres de uma criação à parte, mas as almas dos homens que viveram na Terra ou em outros mundos, revestidos de um corpo semimaterial — o perispírito.

Estão por toda parte, observando-nos e influenciando-nos, como ensina O Livro dos Espíritos (questões 456-459). Sua ação é incessante: os bons Espíritos inspiram no bem, enquanto os maus instigam paixões inferiores, conduzindo ao erro, à obsessão e à discórdia.

A história humana é marcada pela presença dessa influência. A Revista Espírita (nov. 1859) mostra Kardec analisando comunicações de Espíritos vaidosos e pseudosábios, já advertindo para o risco da fascinação — quando o médium ou grupo se deixa dominar pelo orgulho e pela vaidade, acreditando-se possuidor de revelações exclusivas.

2. Os Riscos das Mistificações Espirituais

Jesus preveniu contra falsos profetas. Kardec amplia a advertência ao demonstrar que tais falsos profetas não estão apenas entre os homens, mas também entre os Espíritos desencarnados (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXI, item 7).

Essas entidades apresentam uma linguagem empolada, cheia de termos difíceis, ou então fútil e contraditória. Alimentam a vaidade, exploram a credulidade e desviam do essencial: a regeneração moral.

No século XIX, Kardec enfrentou fenômenos de moda semelhantes ao que hoje chamamos de Transcomunicação Instrumental (TCI/EVP), que utiliza aparelhos para captação de vozes e imagens. Em O Livro dos Médiuns, capítulo V (2ª parte), já se encontram explicações suficientes sobre manifestações físicas, ruídos e aparições, sempre com a advertência de que não há comunicação sem o concurso dos fluidos humanos — isto é, da mediunidade.

Logo, pretender dispensar médiuns ou negar o Evangelho como base moral da prática é afastar-se do Espiritismo e abrir espaço para mistificações.

3. O Método Espírita: Ciência, Razão e Universalidade

O Espiritismo se apoia em três pilares: ciência, filosofia e moral evangélica. Kardec adotou um método rigoroso de pesquisa:

  1. Observar os fenômenos;
  2. Analisar e comparar;
  3. Repetir experiências para comprovação;
  4. Confrontar comunicações pela universalidade do ensino dos Espíritos;
  5. Submeter tudo ao crivo da razão e do bom senso.

Essa metodologia evita personalismos, prevenindo contra sistemas isolados e revelações particulares que não resistem ao exame lógico ou científico.

O Espírito Erasto (1862), em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XXI, item 9), oferece a chave de discernimento:

  • O verdadeiro missionário se reconhece pelos atos, pela humildade e pelo desinteresse.
  • Os falsos se anunciam como enviados especiais, orgulhosos e autoritários.

4. A Reforma do Centro Espírita

A parábola da figueira estéril (Lucas 13:6-9) ilustra a necessidade de reforma. Muitos centros espíritas se desviam da simplicidade evangélica e da seriedade científica que deveriam caracterizá-los, cedendo a vaidades, disputas e novidades doutrinárias sem base em Kardec.

Reforma, aqui, não é inovação: é retorno às fontes — Jesus e Kardec.

O Centro Espírita deve ser:

  • Núcleo de estudo sério das obras fundamentais;
  • Oficina de vivência evangélica;
  • Hospital de almas pelo exercício da caridade;
  • Escola de vigilância moral contra mistificações.

Negligenciar esse papel é arriscar-se a transformar a instituição em figueira estéril, sem frutos, incapaz de cumprir sua função de Consolador Prometido.

Conclusão

A comunicação dos Espíritos é realidade incontestável. O desafio não é provar sua existência, mas discernir sua qualidade.

O Espiritismo, ao oferecer bases racionais e evangélicas, convida-nos a desconfiar de todo exclusivismo, de toda novidade que dispense médiuns ou o Evangelho, e de todo discurso empolado que careça de simplicidade e amor.

“Jesus é a porta, a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec é a chave.” Estudar a Doutrina Espírita, meditar a Doutrina Espírita, viver a Doutrina Espírita é, em última análise, viver Jesus.

Assim, o movimento espírita poderá oferecer frutos maduros para a regeneração da humanidade, resistindo às ilusões passageiras e mantendo-se fiel à sua missão.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). FEB.
  • ______. A Gênese. FEB.
  • ERÁSTO (Espírito). Mensagem sobre falsos profetas (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXI).
  • Bíblia Sagrada. 1ª Epístola de João, 4:1; Evangelhos de Lucas e Mateus.

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