Introdução
O
Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século XIX, constitui-se em uma
doutrina de caráter científico, filosófico e moral, que nasceu do
diálogo entre o mundo visível e o mundo invisível. Mais do que uma crença,
trata-se de um corpo de princípios universais, revelados pelos Espíritos
Superiores e sistematizados por Kardec nas cinco obras fundamentais: O Livro
dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho
segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese
(1868).
Na Revista
Espírita (1858-1869), periódico dirigido por Allan Kardec, encontramos o
registro vivo do desenvolvimento da Doutrina, com relatos de experiências,
comunicações mediúnicas, análises filosóficas e reflexões sobre a aplicação
prática dos princípios espíritas na vida humana.
O
Espiritismo, portanto, não se limita a um sistema de crenças ou de culto
exterior. É, conforme ensinava o Codificador, “a ciência nova que vem
revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo
espiritual e as suas relações com o mundo corporal” (O que é o
Espiritismo, 1859).
O que é o Espiritismo
O Espiritismo é, ao mesmo
tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica, e não é outra a sua
verdadeira natureza; como ciência prática, ocupa-se das relações que se
estabelecem entre o mundo material e o mundo invisível ou espiritual; como
filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas
relações, mostrando ao homem, com a luz da razão e o testemunho dos fatos, a
sua origem, a sua destinação e as condições de sua felicidade futura.
Mostra,
ainda, que a existência terrena não constitui senão uma das fases transitórias
da vida do Espírito, o qual, criado simples e ignorante, percorre, através das
vicissitudes e das provas, um caminho de aperfeiçoamento intelectual e moral, e
que as dores, as lutas e os reveses, longe de serem castigos arbitrários,
representam meios providenciais de progresso e instrumentos de lapidação do
ser. Por este modo, vem confirmar e esclarecer, pelo raciocínio e pela
experiência, as máximas morais do Evangelho, restituindo-as à sua pureza
primitiva, e satisfazendo, ao mesmo tempo, à necessidade de compreender que
caracteriza o espírito humano na presente fase de sua evolução.
Os seus princípios fundamentais ensinam:
- que Deus é a Inteligência Suprema e causa primária de todas as coisas (O Livro dos Espíritos, q. 1);
- que o Universo se compõe de dois elementos gerais — o material e o espiritual —, ambos criados por Deus; que a vida se estende a uma pluralidade de mundos, habitados segundo diferentes graus de adiantamento;
- que o Espírito, revestido temporariamente de um envoltório semimaterial denominado perispírito, sobrevive à morte do corpo;
- e que, submetido à lei do progresso, o ser espiritual caminha, de existência em existência, para a perfeição que lhe está destinada.
Assim,
não se dirigindo à fé cega nem à aceitação irrefletida, mas convidando ao exame
livre e ao estudo sério, o Espiritismo se apresenta como o Consolador prometido
por Jesus, chamado a ensinar todas as coisas e a recordar o que ele disse (João
14:16-17, 26), não por meio de revelações místicas ou arbitrárias, mas pela
revelação universal que os Espíritos superiores transmitem, de forma
concordante, através dos médiuns, e que a razão sanciona.
O que revela
O
Espiritismo responde às questões existenciais fundamentais: Quem somos? De
onde viemos? Para onde vamos? Qual a razão da dor e do sofrimento?
As
comunicações dos Espíritos, registradas desde as primeiras experiências de
Kardec até as inúmeras ocorrências narradas na Revista Espírita, mostram
que:
- O Espírito é
imortal, preserva sua individualidade e reencarna tantas vezes quantas
forem necessárias;
- A vida futura
reserva consequências compatíveis com o respeito ou o descumprimento às
Leis Divinas;
- As relações entre
encarnados e desencarnados são constantes e universais, sendo a mediunidade
a ponte natural dessa interação.
Abrangência
Por
sua natureza, o Espiritismo toca todas as áreas da vida humana. Ele pode ser
estudado sob o prisma:
- Científico: pela observação e
análise dos fenômenos mediúnicos, à maneira que Kardec conduziu;
- Filosófico: ao propor
reflexões sobre a origem, o destino e a finalidade da vida;
- Moral-cristão: ao apresentar
Jesus como guia e modelo da humanidade, estabelecendo a caridade como
regra fundamental.
Essa
tríplice abordagem permite ao Espiritismo dialogar com a ciência, a filosofia,
a ética, a educação, a psicologia, a sociologia e tantas outras áreas do
conhecimento humano.
Princípios fundamentais
Entre
os pontos centrais da Doutrina, destacam-se:
- Deus – eterno,
imutável, único, soberanamente justo e bom.
- O Universo – criação divina
que abriga seres materiais e espirituais.
- O Espírito – criado simples e
ignorante, destinado ao progresso contínuo.
- Reencarnação – lei natural que
possibilita a evolução moral e intelectual.
- Pluralidade dos
mundos habitados – realidades diversas com Espíritos em
diferentes estágios evolutivos.
- Lei de causa e
efeito
– cada ação gera consequências compatíveis com o bem ou o mal praticados.
- Livre-arbítrio e
responsabilidade – o homem é responsável por suas escolhas.
- Jesus – guia e modelo,
cuja moral constitui o roteiro seguro para a felicidade.
- Caridade – sintetizada no
lema: “Fora da caridade não há salvação”.
- Prece – ato natural de
ligação do homem com Deus e meio de receber auxílio dos bons Espíritos.
A prática espírita
A
prática espírita é simples, gratuita e desprovida de rituais exteriores,
conforme o princípio de que “Deus deve ser adorado em espírito e verdade”
(João 4:24).
- Não existem
sacerdotes, sacramentos ou objetos de culto.
- Toda atividade é
realizada com base no estudo, na prece, na prática da caridade e no
exercício mediúnico responsável.
- A mediunidade é
considerada uma faculdade natural, não privilégio de alguns, mas
patrimônio da humanidade.
- O Espiritismo
respeita todas as crenças e valoriza todo esforço sincero de fazer o bem.
Conclusão
O
Espiritismo se apresenta como um convite ao autoaperfeiçoamento, à
fraternidade e à vivência da moral de Cristo.
Conforme
dizia Allan Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868:
“O Espiritismo não vem
destruir as religiões, mas completá-las e restabelecer todas as coisas no seu
verdadeiro sentido.”
Em
síntese, a Doutrina Espírita é uma proposta de vida, fundada na razão e na fé,
capaz de conduzir o Espírito humano ao seu destino maior: a perfeição relativa
e a felicidade imortal.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 1861.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. O
Céu e o Inferno. 1865.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. 1868.
- KARDEC, Allan. O
que é o Espiritismo. 1859.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita. (Coleção completa: 1858-1869).
- Obras subsidiárias
e estudos contemporâneos da Doutrina Espírita.
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