Introdução
O progresso espiritual é uma jornada longa,
exigente e profundamente pessoal. A Doutrina Espírita, codificada por Allan
Kardec, ensina que a finalidade da vida humana é a elevação moral e intelectual
do Espírito, tendo como meta a perfeição relativa que nos aproxima de Deus (O
Livro dos Espíritos, q. 115 e 132).
Entre as inúmeras lições deixadas por Jesus, a
parábola do grão de mostarda — presente nos Evangelhos de Mateus, Marcos e
Lucas — oferece um retrato simbólico dessa caminhada: de um começo
aparentemente pequeno, quase imperceptível, pode nascer uma árvore frondosa que
acolhe e sustenta a vida. A semente representa a verdade e o bem que,
cultivados com perseverança, transformam o ser.
Inspirando-se nas interpretações de estudiosos e
educadores espirituais, e apoiando-se nos princípios espíritas, este estudo
explora o significado dessa parábola e sua aplicação prática no processo de
crescimento interior.
O
Simbolismo da Semente e a Educação do Espírito
Conforme registra Angel Aguarod no livro Grandes
e Pequenos Problemas, a educação é o terreno fértil onde a semente do
progresso germina. O cultivo espiritual assemelha-se ao cuidado de uma planta:
quanto mais atento e metódico, mais abundantes e sadios serão os frutos.
A Doutrina Espírita confirma que o Espírito
progride segundo os esforços que emprega para instruir-se e moralizar-se (O
Livro dos Espíritos, q. 780 e 919). Embora possamos receber estímulos e
orientações externas, o verdadeiro crescimento é obra pessoal, conquistada pela
disciplina interior e pela constância no aperfeiçoamento.
Nesse sentido, a parábola nos convida a assumir o
protagonismo da própria evolução. Assim como a planta precisa de sol, água e
cuidados para desenvolver-se, também o Espírito necessita do alimento moral e
intelectual para florescer.
O
Livre-Arbítrio como Terreno Fértil
Huberto Rohden, em O Quinto Evangelho,
lembra que o livre-arbítrio é a "zona onde Deus, por assim dizer, abdicou
da sua jurisdição a favor do homem". A germinação da semente — que
representa a palavra divina — depende da receptividade e da preparação do
terreno, que é a alma humana.
A Doutrina Espírita ensina que a liberdade de
escolha é uma lei divina (O Livro dos Espíritos, q. 843 a 872) e que cada um
responde pelas próprias decisões. Assim, mesmo que a semente seja perfeita em
potencial, seu desenvolvimento dependerá da dedicação do agricultor — neste
caso, do esforço consciente para transformar tendências inferiores em virtudes.
A pequenez inicial da semente ilustra que a obra de
Deus pode parecer insignificante aos olhos do mundo materialista, mas revela
grandeza aos que cultivam a visão espiritual. Nesse contexto, o “Tudo no Nada”
a que Rohden se refere é a compreensão de que pequenas ações, quando impregnadas
de amor e persistência, podem gerar resultados imensos no campo da alma.
Esforço e
Perseverança na Transformação Íntima
O Evangelho segundo o Espiritismo (cap.
XVII, item 4) define o verdadeiro homem de bem não apenas pelo que já alcançou
moralmente, mas pelo esforço constante em vencer suas más inclinações.
Esse esforço não se refere a um movimento físico
incessante, mas a uma firme disposição interior, persistente mesmo diante das
dificuldades. O educador John Dewey observa que abandonar uma atividade diante
do primeiro obstáculo é mau sinal; a persistência é, portanto, um sinal
inequívoco de maturidade moral.
No caminho da auto-iluminação, não é necessário —
nem possível — conquistar a perfeição plena em uma única encarnação (O Livro
dos Espíritos, q. 192 e 919). O que se exige é o comprometimento contínuo com o
ideal, mantendo viva a semente do bem que, em seu devido tempo, dará frutos
duradouros.
Conclusão
A parábola do grão de mostarda ensina que, por
menor que seja o início, a perseverança no cultivo espiritual pode conduzir a
resultados grandiosos. O Espiritismo reforça que a finalidade da vida é o
progresso, e que este depende da vontade firme, do livre-arbítrio bem exercido
e do esforço constante para o aperfeiçoamento moral.
O crescimento para Deus é tarefa intransferível:
cada Espírito é responsável pelo cultivo do seu próprio campo íntimo. Ainda que
não alcancemos a transformação moral completa nesta existência, cada passo na
direção do bem é um avanço real.
Assim, a semente plantada hoje — regada pelo
estudo, pelo trabalho no bem e pela vigilância moral — há de crescer e
transformar-se em árvore robusta, capaz de oferecer abrigo e alimento
espiritual, não só para nós, mas para todos que nos cercam. E como na parábola,
as “aves do céu” — símbolos dos Espíritos superiores — virão pousar sobre os
ramos dessa árvore, auxiliando-nos na ascensão ao Reino de Deus.
Referências
- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de
Guillon Ribeiro. FEB.
- Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
- Aguarod, Angel. Grandes e Pequenos
Problemas.
- Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP). Curso de Aprendizes do Evangelho.
- Rohden, Huberto. O Quinto Evangelho.
- Dewey, John. Democracia e Educação.
- Obras complementares: A Gênese (Allan Kardec); Revista
Espírita (Allan Kardec); Obras Póstumas (Allan Kardec).
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