sexta-feira, 8 de agosto de 2025

 

CRESCIMENTO E AUTO-ILUMINAÇÃO:
A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA 
E O CAMINHO DO ESPÍRITO
- A Era do Espírito –
 

Introdução

O progresso espiritual é uma jornada longa, exigente e profundamente pessoal. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, ensina que a finalidade da vida humana é a elevação moral e intelectual do Espírito, tendo como meta a perfeição relativa que nos aproxima de Deus (O Livro dos Espíritos, q. 115 e 132).

Entre as inúmeras lições deixadas por Jesus, a parábola do grão de mostarda — presente nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas — oferece um retrato simbólico dessa caminhada: de um começo aparentemente pequeno, quase imperceptível, pode nascer uma árvore frondosa que acolhe e sustenta a vida. A semente representa a verdade e o bem que, cultivados com perseverança, transformam o ser.

Inspirando-se nas interpretações de estudiosos e educadores espirituais, e apoiando-se nos princípios espíritas, este estudo explora o significado dessa parábola e sua aplicação prática no processo de crescimento interior.

O Simbolismo da Semente e a Educação do Espírito

Conforme registra Angel Aguarod no livro Grandes e Pequenos Problemas, a educação é o terreno fértil onde a semente do progresso germina. O cultivo espiritual assemelha-se ao cuidado de uma planta: quanto mais atento e metódico, mais abundantes e sadios serão os frutos.

A Doutrina Espírita confirma que o Espírito progride segundo os esforços que emprega para instruir-se e moralizar-se (O Livro dos Espíritos, q. 780 e 919). Embora possamos receber estímulos e orientações externas, o verdadeiro crescimento é obra pessoal, conquistada pela disciplina interior e pela constância no aperfeiçoamento.

Nesse sentido, a parábola nos convida a assumir o protagonismo da própria evolução. Assim como a planta precisa de sol, água e cuidados para desenvolver-se, também o Espírito necessita do alimento moral e intelectual para florescer.

O Livre-Arbítrio como Terreno Fértil

Huberto Rohden, em O Quinto Evangelho, lembra que o livre-arbítrio é a "zona onde Deus, por assim dizer, abdicou da sua jurisdição a favor do homem". A germinação da semente — que representa a palavra divina — depende da receptividade e da preparação do terreno, que é a alma humana.

A Doutrina Espírita ensina que a liberdade de escolha é uma lei divina (O Livro dos Espíritos, q. 843 a 872) e que cada um responde pelas próprias decisões. Assim, mesmo que a semente seja perfeita em potencial, seu desenvolvimento dependerá da dedicação do agricultor — neste caso, do esforço consciente para transformar tendências inferiores em virtudes.

A pequenez inicial da semente ilustra que a obra de Deus pode parecer insignificante aos olhos do mundo materialista, mas revela grandeza aos que cultivam a visão espiritual. Nesse contexto, o “Tudo no Nada” a que Rohden se refere é a compreensão de que pequenas ações, quando impregnadas de amor e persistência, podem gerar resultados imensos no campo da alma.

Esforço e Perseverança na Transformação Íntima

O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 4) define o verdadeiro homem de bem não apenas pelo que já alcançou moralmente, mas pelo esforço constante em vencer suas más inclinações.

Esse esforço não se refere a um movimento físico incessante, mas a uma firme disposição interior, persistente mesmo diante das dificuldades. O educador John Dewey observa que abandonar uma atividade diante do primeiro obstáculo é mau sinal; a persistência é, portanto, um sinal inequívoco de maturidade moral.

No caminho da auto-iluminação, não é necessário — nem possível — conquistar a perfeição plena em uma única encarnação (O Livro dos Espíritos, q. 192 e 919). O que se exige é o comprometimento contínuo com o ideal, mantendo viva a semente do bem que, em seu devido tempo, dará frutos duradouros.

Conclusão

A parábola do grão de mostarda ensina que, por menor que seja o início, a perseverança no cultivo espiritual pode conduzir a resultados grandiosos. O Espiritismo reforça que a finalidade da vida é o progresso, e que este depende da vontade firme, do livre-arbítrio bem exercido e do esforço constante para o aperfeiçoamento moral.

O crescimento para Deus é tarefa intransferível: cada Espírito é responsável pelo cultivo do seu próprio campo íntimo. Ainda que não alcancemos a transformação moral completa nesta existência, cada passo na direção do bem é um avanço real.

Assim, a semente plantada hoje — regada pelo estudo, pelo trabalho no bem e pela vigilância moral — há de crescer e transformar-se em árvore robusta, capaz de oferecer abrigo e alimento espiritual, não só para nós, mas para todos que nos cercam. E como na parábola, as “aves do céu” — símbolos dos Espíritos superiores — virão pousar sobre os ramos dessa árvore, auxiliando-nos na ascensão ao Reino de Deus.

Referências

  • Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • Aguarod, Angel. Grandes e Pequenos Problemas.
  • Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP). Curso de Aprendizes do Evangelho.
  • Rohden, Huberto. O Quinto Evangelho.
  • Dewey, John. Democracia e Educação.
  • Obras complementares: A Gênese (Allan Kardec); Revista Espírita (Allan Kardec); Obras Póstumas (Allan Kardec).

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