quarta-feira, 6 de agosto de 2025

ELIAS ENVIOU UMA CARTA? UMA ANÁLISE ESPÍRITA DAS COMUNICAÇÕES NA BÍBLIA
- A Era do Espírito -

“Se não se convencem pelos fatos, menos o fariam pelo raciocínio.”
— Allan Kardec

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, convida-nos a observar os fatos com imparcialidade, analisando-os à luz da razão e da experiência. Diante de passagens bíblicas muitas vezes mal compreendidas ou negligenciadas, somos desafiados a interpretá-las com base na lógica e nas leis espirituais universais. Um desses episódios pouco comentados — mas de grande relevância para o estudo das manifestações espirituais — é a enigmática “carta de Elias”, mencionada no Segundo Livro das Crônicas (21,12).

Introdução Editorial

Ao oferecer uma chave interpretativa racional e progressista das Escrituras, a Doutrina Espírita nos estimula a revisitar relatos bíblicos sob a ótica da imortalidade da alma, da comunicabilidade dos Espíritos e da evolução espiritual. É nesse espírito de análise respeitosa que propomos refletir sobre um episódio intrigante do Antigo Testamento: o profeta Elias, supostamente arrebatado aos céus, teria enviado uma carta ao rei Jorão após seu desaparecimento?

Fundamentado no método espírita — que valoriza a coerência lógica e os fatos em conformidade com as leis naturais — este artigo examina tal narrativa à luz dos princípios da mediunidade. Afinal, se a Bíblia está repleta de manifestações espirituais, por que não considerar essa carta como mais uma evidência da continuidade da vida e da interação entre os planos espiritual e material?

A Carta que Veio Depois do Arrebatamento

Segundo 2 Reis 2, Elias foi arrebatado aos céus ainda em vida. No entanto, em 2 Crônicas 21:12, lemos que o rei Jorão de Judá recebeu uma carta do próprio Elias — fato que, embora pouco mencionado, contradiz a ideia de que o profeta teria deixado o plano físico definitivamente.

José Reis Chaves, em artigo no jornal O Tempo (26/04/2004), resgata esse detalhe revelador e propõe duas possibilidades, ambas de grande interesse espiritual:

  1. Elias não foi arrebatado naquele momento e permaneceu na Terra por algum tempo;
  2. Elias já havia desencarnado, e a carta foi uma comunicação espiritual transmitida por meio de um médium da época.

A primeira hipótese fragiliza a leitura literal do arrebatamento. A segunda, ao contrário, harmoniza-se com a realidade da comunicabilidade dos Espíritos, conforme amplamente demonstrado pela ciência espírita.

A Concordância dos Fatos Bíblicos com o Espiritismo

Kardec demonstrou que a existência dos Espíritos e sua comunicação com os encarnados são fatos universais, presentes em todas as tradições religiosas. A Bíblia, em especial, é rica em registros desse tipo — embora muitos tenham sido interpretados de forma simbólica ou mística ao longo dos séculos.

Entre os casos mais marcantes:

  • A evocação do Espírito de Samuel pela pitonisa de Endor (1Sm 28), um evidente exemplo de psicofonia, com o médium servindo de instrumento para a fala de um Espírito;
  • A transfiguração de Jesus no monte Tabor (Mt 17; Mc 9; Lc 9), quando Moisés e Elias aparecem dialogando com o Cristo — fenômeno que sugere a materialização espiritual auxiliada por mediunidade e doação ectoplasmática;
  • As aparições de Jesus após sua morte, evidenciando a continuidade da vida e a possibilidade de interação entre os planos.

Esses episódios, em sintonia com o caso da carta de Elias, reforçam que os fenômenos mediúnicos sempre estiveram presentes, ainda que mal interpretados ou mesmo rejeitados por falta de compreensão adequada.

A Lei é Una: Não Há Exceções no Plano Divino

Segundo o Espiritismo, as leis divinas são invariáveis. A concepção de que Elias teria sido levado ao céu com o corpo físico entra em conflito com ensinamentos neotestamentários como:

“O espírito é que dá vida, a carne para nada serve.” (Jo 6,63)
“A carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus.” (1Cor 15,50)

Se o plano espiritual é essencialmente imaterial, admitir a entrada de corpos físicos nele contraria a lógica e as leis naturais. A realidade mais plausível é que a morte corporal é a porta natural de acesso à vida espiritual — e que, após esse processo, os Espíritos podem sim comunicar-se com os vivos, desde que em condições apropriadas e com objetivos legítimos.

A Psicografia de Elias?

Caso Elias já estivesse desencarnado ao tempo da carta enviada a Jorão, estaríamos diante de uma das mais antigas referências bíblicas à psicografia — a escrita mediúnica. Tal fenômeno é plenamente compatível com o que o Espiritismo comprova de forma teórica e experimental desde a publicação de O Livro dos Espíritos (1857) e O Livro dos Médiuns (1861).

Nessa perspectiva, a carta de Elias deixa de ser um mistério e torna-se mais uma evidência da imortalidade da alma e da comunicabilidade entre os mundos — princípios que o Espiritismo ajuda a compreender de forma clara e racional.

A Bíblia Confirma Aquilo que o Espiritismo Explica

Como enfatizou Allan Kardec, o Espiritismo não contradiz as Escrituras, mas as esclarece. Moisés proibiu a comunicação com os mortos (Dt 18:9-14) — e, como só se proíbe o que existe, essa proibição é, por si, uma confirmação da realidade espiritual. O que a Doutrina Espírita propõe é distinguir o fenômeno em si — legítimo e natural — de seus usos indevidos, exploratórios ou enganosos.

À luz dessa compreensão, a carta de Elias não é um paradoxo teológico, mas uma chave para o entendimento da mediunidade nas Escrituras. Como disse Jesus:

“Quem tem ouvidos de ouvir, ouça.”

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. FEB.
  • BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
  • CHAVES, José Reis. “Ressurreição de Todos”. Jornal O Tempo, 26/04/2004.
  • SILVA NETO SOBRINHO, Paulo da. Carta Comprometedora de Elias.

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