quarta-feira, 6 de agosto de 2025

“O ESPIRITISMO PERMANECE EM MARCHA”: REVISITAR KARDEC COM FIDELIDADE E CORAGEM
- A Era do Espírito –

Introdução

A Doutrina Espírita nasceu do encontro entre a razão e a espiritualidade, por meio de um método inovador criado por Allan Kardec. No entanto, passados 168 anos desde a publicação de O Livro dos Espíritos, parte do movimento espírita brasileiro parece ter se afastado do dinamismo e da abertura que caracterizam sua proposta original.

Diante desse cenário, diversas obras e artigos sérios vêm sendo publicados com o propósito de contribuir para o debate contemporâneo sobre os rumos da Doutrina. Essas reflexões convidam os espíritas à vivência de uma fidelidade dinâmica — e não à repetição da letra morta — ao pensamento dos Espíritos Codificadores.

1. Kardec e a metodologia do controle universal dos ensinos dos Espíritos

Entre os princípios fundamentais da Codificação está o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, sistematizado por Allan Kardec. Em O Livro dos Médiuns (cap. XXVII), ele afirma:

“Para se julgar as comunicações dos Espíritos, é necessário submetê-las ao crivo da razão e do bom senso, compará-las entre si, e sobretudo, confrontá-las com os ensinamentos já estabelecidos.”

Esse procedimento assegura que a Doutrina não seja resultado de revelações isoladas, mas de um processo coletivo, racional e progressivo. A metodologia adotada por Kardec representa um marco revolucionário na abordagem do mundo espiritual e inspira um Espiritismo sempre vigilante e comprometido com a análise crítica.

2. Abertura ao progresso: um Espiritismo em marcha

Outro aspecto essencial da Doutrina é sua abertura ao progresso moral e científico. Em A Gênese (cap. I, item 55), Kardec é categórico:

“O Espiritismo caminha com o progresso; nunca será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro em um ponto, ele se modificará nesse ponto.”

Ser fiel à Doutrina exige, portanto, disposição para revisar conceitos à luz de novas evidências e da evolução do pensamento humano. A rigidez dogmática contraria o espírito progressista da Codificação.

3. Kardec não é infalível: um Espírito entre os homens

Ao tratar da figura de Kardec, é fundamental reconhecer seu papel como organizador e sistematizador da Doutrina, sem, no entanto, mitificá-lo. O próprio Codificador advertia:

“Se os Espíritos ensinam algo contrário à razão, ou contrário a princípios bem estabelecidos da ciência, rejeitai-os.” (Revista Espírita, janeiro de 1861)

E ainda:

“O melhor meio de se não ser enganado consiste em examinar friamente e com maduro senso tudo quanto vem do mundo invisível.” — Allan Kardec, Revista Espírita, jan. 1862, “A obsessão”

Essas orientações deixam claro que o Espiritismo não se submete a qualquer autoridade cega, mesmo à de seu codificador. O estudo criterioso, o raciocínio independente e o bom senso devem nortear a prática doutrinária.

4. Atualização da Doutrina e recodificação responsável

Ideias que propõem revisitar a Codificação, quando sustentadas por seriedade e respeito ao método estabelecido pelos Espíritos e por Kardec, contribuem para manter viva a essência da Doutrina. Kardec compreendia o Espiritismo como uma ciência em construção permanente.

A crítica ao chamado “espiritismo museológico” — que trata a Codificação como intocável — convida à responsabilidade doutrinária. Toda proposta de atualização deve permanecer fiel aos critérios da lógica, da universalidade e do bom senso que sustentam a construção original.

Atualizar não é trair: é permanecer fiel ao espírito da Codificação

Conforme destacam diversas obras e estudos espíritas, o Espiritismo não deve se cristalizar em verdades absolutas, sob pena de se afastar de sua essência racional, progressiva e aberta ao aprimoramento constante. A fidelidade viva ao pensamento dos Espíritos Superiores, sistematizado por Kardec, manifesta-se na disposição de revisar, ampliar e dialogar com novos conhecimentos — mantendo-se fiel ao método, mas receptivo ao progresso.

Vigilância crítica e triagem mediúnica

O cuidado com as mensagens espirituais sempre foi enfatizado por Kardec. Erasto, Espírito colaborador da Codificação, alerta:

“Mais vale repelir dez verdades do que admitir uma só mentira.” (O Livro dos Médiuns, cap. XX)

Essa advertência reforça a necessidade de triagem rigorosa das comunicações mediúnicas — o que exige conhecimento doutrinário, raciocínio lógico e vigilância constante.

Ciência, espiritualidade e diálogo com o mundo

A proposta de manter o Espiritismo em diálogo com as ciências modernas remonta ao ideal da própria Codificação, que compreende a Doutrina como uma ponte entre espiritualidade e racionalidade. Essa vocação integradora deve ser reavivada por meio do estudo, do intercâmbio de ideias e da superação de posturas dogmáticas.

Conclusão: ao trabalho!

Ser fiel a Allan Kardec não é repetir suas palavras como fórmulas imutáveis, mas sim seguir seu exemplo como pensador livre, criterioso e progressista. O Espiritismo permanece em marcha — e depende de cada um de nós que ele siga firme, lúcido e coerente com seu espírito original.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (vários volumes). FEB.
  • PEREIRA, Marcelo Henrique. A Gnosis Espírita.
  • ERASTO (espírito). In O Livro dos Médiuns, cap. XX.

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