Introdução
Allan Kardec viveu no século XIX, período em que a
ciência se consolidava como referência de conhecimento seguro, baseada na
observação e na experimentação. Foi nesse ambiente intelectual que ele
estabeleceu o método espírita, caracterizado pelo exame rigoroso dos
fatos, pela busca das causas e pela comparação crítica das comunicações
espirituais.
Hoje, no século XXI, vivemos uma nova efervescência
de fenômenos que despertam interesse e mistério: aparições luminosas no céu,
objetos voadores não identificados (OVNIs ou UAPs), mensagens enigmáticas em
ondas de rádio e TV, materializações espirituais em reuniões mediúnicas e até
experiências de quase-morte registradas pela medicina. A pergunta que se impõe
é: se Kardec estivesse entre nós, como ele procederia para investigar tais
fenômenos?
1. O
método espírita como ponto de partida
No Livro dos Médiuns e na Revista
Espírita, Kardec deixa claro que não se pode aceitar um fato extraordinário
sem:
- Verificação rigorosa – observar se não há
ilusão, charlatanismo ou explicação natural suficiente.
- Repetição dos fatos – só reconhecer como lei
aquilo que se reproduz sob condições diversas.
- Controle universal dos ensinos dos Espíritos – confrontar comunicações, comparar mensagens recebidas em lugares
e médiuns diferentes, garantindo a universalidade e afastando opiniões
isoladas.
Esse método, aplicado aos fenômenos de sua época
(mesas girantes, pancadas, psicografia), daria hoje a Kardec os instrumentos
para abordar também os fenômenos modernos.
2. As
materializações de Espíritos
Materializações já eram conhecidas no tempo de
Kardec, ainda que raras. Ele mesmo relata casos de aparições tangíveis e de
impressões deixadas por Espíritos (Revista Espírita, 1859, 1860). Se
vivesse hoje, diante das experiências registradas com câmeras infravermelhas,
fotografias e relatos de grupos de pesquisa, Kardec não se limitaria a aceitar:
- Reuniria testemunhos variados, analisando se as condições
físicas permitiriam fraude.
- Usaria instrumentos científicos modernos (filmagens, sensores de movimento, análise de temperatura, exames
laboratoriais de possíveis resíduos deixados).
- Submeteria os médiuns a testes controlados, assim como fez com as irmãs Baudin e outros.
3. Luzes
no céu e objetos não identificados
Nosso tempo é marcado por inúmeros relatos de luzes
e objetos desconhecidos no espaço aéreo. Kardec certamente se interessaria por
eles, mas evitaria a precipitação. Sua conduta poderia ser:
- Hipótese natural em primeiro lugar: balões, drones, fenômenos atmosféricos, ilusões óticas.
- Se restasse o inexplicável, investigaria se haveria
uma inteligência atuante. Assim como nas mesas girantes, onde primeiro se
supunha mera eletricidade, até que surgiram respostas inteligentes, Kardec
buscaria sinais de raciocínio ou intenção nas manifestações luminosas.
- Evitaria interpretações apressadas como “são naves extraterrestres” ou “anjos de Deus”. Em A
Gênese (cap. I), ele lembra que é dever do espírito científico “não
admitir como sobrenatural o que pode estar dentro da ordem da natureza”.
4. Sinais
de rádio e TV vindos de outras esferas
Caso Kardec se deparasse com sinais inexplicáveis
vindos por ondas eletromagnéticas, ele aplicaria a mesma regra:
- Testar o fenômeno em diversas condições para afastar falhas técnicas.
- Investigar o conteúdo: haveria coerência, lógica
e inteligência nas mensagens?
- Comparar as comunicações com as recebidas por
médiuns, verificando se há universalidade e concordância.
5. Kardec
diante da ciência e da espiritualidade contemporâneas
Vivendo hoje, Kardec faria o que sempre fez:
- Dialogaria com a ciência oficial (astrônomos, físicos,
biólogos, engenheiros), aproveitando os recursos técnicos modernos.
- Reuniria grupos sérios de estudo, tal como organizou a
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
- Distinguira o essencial do acessório: os fenômenos são meios; o fim último é a comprovação da
imortalidade e o aperfeiçoamento moral da humanidade.
Em suas palavras, registradas na Revista
Espírita (dez. de 1861):
“O
fenômeno é apenas o vestíbulo da ciência; o verdadeiro ensino está nas
consequências morais.”
Conclusão
Se Allan Kardec vivesse em nossos dias, enfrentando
materializações, luzes misteriosas no céu, sinais enigmáticos captados por
rádio ou televisão, procederia como no século XIX: com prudência, método e
espírito científico. Não negaria os fatos pelo simples fato de serem
extraordinários, mas também não os aceitaria sem exame.
Assim, sua postura diante da ciência moderna seria
de cooperação e investigação séria, lembrando sempre que, acima da
curiosidade pelos fenômenos, está a grande revelação espírita: a vida continua,
o Espírito sobrevive, e o destino da humanidade é o progresso moral e
intelectual rumo à perfeição.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- DENIS, Léon. No Invisível. FEB.
- DELANNE, Gabriel. O Espiritismo perante a Ciência.
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