sábado, 16 de agosto de 2025

SE KARDEC VIVESSE HOJE:
COMO INVESTIGARIA OS NOVOS FENÔMENOS
À LUZ DO MÉTODO ESPÍRITA?
- A Era do Espírito –

ARTIGO PARA REFLEXÃO

Introdução

Allan Kardec viveu no século XIX, período em que a ciência se consolidava como referência de conhecimento seguro, baseada na observação e na experimentação. Foi nesse ambiente intelectual que ele estabeleceu o método espírita, caracterizado pelo exame rigoroso dos fatos, pela busca das causas e pela comparação crítica das comunicações espirituais.

Hoje, no século XXI, vivemos uma nova efervescência de fenômenos que despertam interesse e mistério: aparições luminosas no céu, objetos voadores não identificados (OVNIs ou UAPs), mensagens enigmáticas em ondas de rádio e TV, materializações espirituais em reuniões mediúnicas e até experiências de quase-morte registradas pela medicina. A pergunta que se impõe é: se Kardec estivesse entre nós, como ele procederia para investigar tais fenômenos?

1. O método espírita como ponto de partida

No Livro dos Médiuns e na Revista Espírita, Kardec deixa claro que não se pode aceitar um fato extraordinário sem:

  1. Verificação rigorosa – observar se não há ilusão, charlatanismo ou explicação natural suficiente.
  2. Repetição dos fatos – só reconhecer como lei aquilo que se reproduz sob condições diversas.
  3. Controle universal dos ensinos dos Espíritos – confrontar comunicações, comparar mensagens recebidas em lugares e médiuns diferentes, garantindo a universalidade e afastando opiniões isoladas.

Esse método, aplicado aos fenômenos de sua época (mesas girantes, pancadas, psicografia), daria hoje a Kardec os instrumentos para abordar também os fenômenos modernos.

2. As materializações de Espíritos

Materializações já eram conhecidas no tempo de Kardec, ainda que raras. Ele mesmo relata casos de aparições tangíveis e de impressões deixadas por Espíritos (Revista Espírita, 1859, 1860). Se vivesse hoje, diante das experiências registradas com câmeras infravermelhas, fotografias e relatos de grupos de pesquisa, Kardec não se limitaria a aceitar:

  • Reuniria testemunhos variados, analisando se as condições físicas permitiriam fraude.
  • Usaria instrumentos científicos modernos (filmagens, sensores de movimento, análise de temperatura, exames laboratoriais de possíveis resíduos deixados).
  • Submeteria os médiuns a testes controlados, assim como fez com as irmãs Baudin e outros.
Seu objetivo não seria o espetáculo, mas compreender a lei natural que permite tais manifestações.

3. Luzes no céu e objetos não identificados

Nosso tempo é marcado por inúmeros relatos de luzes e objetos desconhecidos no espaço aéreo. Kardec certamente se interessaria por eles, mas evitaria a precipitação. Sua conduta poderia ser:

  • Hipótese natural em primeiro lugar: balões, drones, fenômenos atmosféricos, ilusões óticas.
  • Se restasse o inexplicável, investigaria se haveria uma inteligência atuante. Assim como nas mesas girantes, onde primeiro se supunha mera eletricidade, até que surgiram respostas inteligentes, Kardec buscaria sinais de raciocínio ou intenção nas manifestações luminosas.
  • Evitaria interpretações apressadas como “são naves extraterrestres” ou “anjos de Deus”. Em A Gênese (cap. I), ele lembra que é dever do espírito científico “não admitir como sobrenatural o que pode estar dentro da ordem da natureza”.

4. Sinais de rádio e TV vindos de outras esferas

Caso Kardec se deparasse com sinais inexplicáveis vindos por ondas eletromagnéticas, ele aplicaria a mesma regra:

  • Testar o fenômeno em diversas condições para afastar falhas técnicas.
  • Investigar o conteúdo: haveria coerência, lógica e inteligência nas mensagens?
  • Comparar as comunicações com as recebidas por médiuns, verificando se há universalidade e concordância.
Para ele, a forma (o meio tecnológico) seria secundária; o essencial seria o conteúdo moral e filosófico, como sempre afirmou: “reconhece-se a superioridade dos Espíritos pela linguagem digna, elevada, isenta de contradições” (O Livro dos Médiuns, cap. XXIV).

5. Kardec diante da ciência e da espiritualidade contemporâneas

Vivendo hoje, Kardec faria o que sempre fez:

  • Dialogaria com a ciência oficial (astrônomos, físicos, biólogos, engenheiros), aproveitando os recursos técnicos modernos.
  • Reuniria grupos sérios de estudo, tal como organizou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
  • Distinguira o essencial do acessório: os fenômenos são meios; o fim último é a comprovação da imortalidade e o aperfeiçoamento moral da humanidade.

Em suas palavras, registradas na Revista Espírita (dez. de 1861):

“O fenômeno é apenas o vestíbulo da ciência; o verdadeiro ensino está nas consequências morais.”

Conclusão

Se Allan Kardec vivesse em nossos dias, enfrentando materializações, luzes misteriosas no céu, sinais enigmáticos captados por rádio ou televisão, procederia como no século XIX: com prudência, método e espírito científico. Não negaria os fatos pelo simples fato de serem extraordinários, mas também não os aceitaria sem exame.

Assim, sua postura diante da ciência moderna seria de cooperação e investigação séria, lembrando sempre que, acima da curiosidade pelos fenômenos, está a grande revelação espírita: a vida continua, o Espírito sobrevive, e o destino da humanidade é o progresso moral e intelectual rumo à perfeição.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • DENIS, Léon. No Invisível. FEB.
  • DELANNE, Gabriel. O Espiritismo perante a Ciência.

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