Introdução
A
humanidade vive tempos de intensas convulsões morais, sociais e espirituais.
Basta observar os noticiários e os fatos cotidianos para perceber que as dores coletivas
não se restringem a conflitos armados, corrupção política ou degradação social:
elas se enraízam mais fundo, na própria alma humana, refletindo a fragilidade
espiritual que caracteriza este período de transição.
A
Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, não apenas
reconhece esses sinais de crise, mas os interpreta à luz das Leis Divinas,
oferecendo uma chave de compreensão para os desafios de nosso tempo. Este
artigo busca analisar a “doença moral do mundo” a partir do pensamento
espírita, mostrando que o remédio já se encontra disponível: os ensinamentos de
Jesus, reavivados e explicados pelo Espiritismo.
1. O mundo enfermo: sintomas de uma crise profunda
Conflitos
bélicos, tráfico de drogas, violência urbana, corrupção, degradação cultural e
o crescente vazio existencial demonstram que a humanidade atravessa um momento
grave de sua história.
Essa
percepção não é recente. Allan Kardec, já no século XIX, observava em A
Gênese que as crises sociais são necessárias para a renovação dos povos e
para o avanço moral da humanidade. As guerras, os desajustes políticos e os
desequilíbrios sociais, longe de serem castigos divinos, são efeitos naturais
das escolhas humanas e, ao mesmo tempo, instrumentos educativos que impulsionam
o progresso.
A
sociedade, portanto, adoece quando se distancia dos princípios morais
universais e do sentido espiritual da vida. O avanço tecnológico e intelectual,
sem correspondente evolução moral, aprofunda esse desequilíbrio, gerando um
mundo mais eficiente, mas também mais violento e carente de sentido.
2. Ignorância espiritual: a raiz do problema
Segundo
a Doutrina Espírita, a causa maior das desordens humanas é a ignorância acerca
de nossa verdadeira natureza. Apesar dos avanços científicos, muitos permanecem
alheios às questões fundamentais da existência: Quem sou? De onde venho?
Para onde vou? Qual o propósito da vida?
Allan
Kardec registra em O Livro dos Espíritos que a felicidade real não pode
ser encontrada nos prazeres materiais, mas na prática do bem e na elevação
moral do Espírito. Ao ignorar sua imortalidade e destino espiritual, o homem
moderno busca no consumismo, no poder e no prazer imediato uma compensação
ilusória que, ao invés de curá-lo, agrava sua enfermidade.
Essa
“ignorância culpável” não pode mais ser justificada, pois desde os tempos
antigos o homem recebe ensinamentos morais através dos profetas, do decálogo
mosaico, dos filósofos e, de modo sublime, pela mensagem de Jesus. O que falta,
portanto, não é informação, mas vivência das Leis Divinas.
3. O remédio: o Evangelho de Jesus à luz do
Espiritismo
Se o
mundo está doente, o tratamento está disponível: a aplicação prática dos
ensinamentos de Jesus. Contudo, como lembra o Espírito de Verdade em O
Evangelho segundo o Espiritismo, “os
homens se afastaram da lei do Cristo, e é por isso que sofrem”.
A
missão do Espiritismo é justamente resgatar a simplicidade e a clareza da
mensagem do Cristo, livre das deturpações humanas, apresentando-a de forma
racional e acessível a todos. Em tempos de materialismo exacerbado, ele vem
lembrar que somos Espíritos imortais em processo de aperfeiçoamento e que a
verdadeira felicidade não se encontra no transitório, mas no eterno.
Mais
do que uma crença, o Espiritismo propõe uma prática: a transformação íntima. O
mundo só se transformará quando cada indivíduo aceitar a responsabilidade de
curar a si mesmo de seus vícios morais, cultivando a humildade, a fraternidade
e o amor ao próximo. Como ensina Kardec na Revista Espírita de abril de
1866, a regeneração do mundo será consequência da regeneração dos homens.
4. O papel do Movimento Espírita na atualidade
O
Espiritismo, por sua natureza, é uma doutrina de esclarecimento e de
consolação. No entanto, até mesmo dentro do movimento espírita surgem equívocos
e resistências, quando alguns reduzem a mensagem cristã a mero formalismo, ou
quando desprezam sua atualidade prática.
É
urgente que os espíritas compreendam sua responsabilidade. Não basta conhecer
os princípios da Doutrina: é necessário aplicá-los na vida diária,
testemunhando pelo exemplo. A caridade, em todas as suas formas, é o campo de
ação mais eficaz para auxiliar a humanidade enferma.
O
Movimento Espírita, portanto, é chamado a ser um espaço de luz, de acolhimento
e de educação espiritual, oferecendo ao mundo o antídoto contra a ignorância: o
Evangelho vivido em sua pureza.
Conclusão
Nosso
mundo, de fato, atravessa uma crise profunda, comparável a um paciente em estado
grave. Mas a doença não é irreversível. A Doutrina Espírita mostra que a
humanidade não caminha para o fim, mas para uma renovação moral e espiritual.
O
remédio está disponível há dois mil anos, nos ensinos de Jesus, agora
esclarecidos pela Doutrina Espírita. A cura começa dentro de cada indivíduo, em
sua consciência e em sua transformação íntima. Assim, ao curarmos a nós mesmos,
estaremos contribuindo para a cura do mundo.
A
Terra, hoje em sofrimento, prepara-se para se tornar um mundo de regeneração.
Cabe a cada um de nós participar dessa transição, escolhendo o caminho do amor,
da fraternidade e da luz.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. FEB, 1857.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. FEB, 1864.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. FEB, 1868.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869). Diversos números.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. FEB, 1939.
- DENIS, Léon. O
Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB, 1905.
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