sábado, 23 de agosto de 2025

MODERNIDADE, TRABALHO E ESPIRITISMO:
UMA ANÁLISE RACIONAL
- A Era do Espírito -

Introdução

A modernidade trouxe avanços extraordinários — desde a Revolução Industrial até a inteligência artificial e a robótica — que transformaram profundamente a estrutura laboral e social. No entanto, ao lado dos benefícios, surgem desafios éticos e espirituais impactantes: o desemprego estrutural, o aumento da ociosidade intelectual e a fragilidade moral.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e aprofundada em A Gênese, na Revista Espírita (1858–1869) e em outras obras, oferece subsídios para uma análise equilibrada dessas transformações.

A máquina como ajuda — e não substituto integral

Em mensagem psicografada e publicada na Revista Espírita, o Espírito Vaucanson destaca que o progresso técnico não deve ser temido, mas compreendido:

“O homem não foi feito para ficar como instrumento ininteligente de produção… O operário é chamado a tornar-se engenheiro… o artífice deve tornar-se artista…”

A transição do esforço braçal para o uso do intelecto é, para o Espiritismo, o caminho elevado do progresso. A destruição dos empregos produtivos pode ser dolorosa, mas também indica a necessidade de redirecionar o trabalhador ao campo da mente, da criatividade e da inteligência espiritual.

O papel civilizatório da instrução

Trabalhos mediúnicos, pesquisas e estudos publicados na Revista Espírita constituem um marco do uso racional e didático frente ao progresso das ideias e da técnica. Kardec valorizava a instrução como ferramenta emancipadora e moralizante, indo além da simples acumulação de conhecimento formal.

No presente, diante da automação crescente, a educação permanece como instrumento essencial. Ela deve ser entendida não apenas na formação técnica, mas também no cultivo da consciência, da empatia e da dignidade humana — valores que uma máquina ou um algoritmo dificilmente substituirão.

“Preguiça mental” e desafios contemporâneos

O uso rotineiro de calculadoras, programas visuais e sistemas que simplificam o trabalho revela como a tecnologia pode enfraquecer certas habilidades básicas. Quando milhares de profissionais deixam de exercitar o raciocínio, correm o risco de se tornarem dependentes de soluções prontas, enfraquecendo sua criatividade e capacidade crítica.

Do ponto de vista espírita, a disciplina do estudo — aquela que Kardec exerceu ao compilar a Doutrina — molda o pensamento crítico e fortalece o discernimento. Essa prática evita a acomodação mental e a aceitação passiva de ideias superficiais ou distorcidas. No Movimento Espírita, o risco é semelhante: muitos deixam de estudar as obras fundamentais e se tornam vulneráveis a ensinamentos de “espíritos” ou dirigentes mal preparados, que não se fundamentam na Codificação.

O passe e a moral: autêntico vs. místico

Alguns centros espíritas incorporaram práticas estranhas à Doutrina, como passes com gesticulação exagerada ou “passes especiais”. Contudo, em A Gênese (capítulo 14), Kardec ressalta que o passe eficaz deve ser simples, guiado pela vontade (pensamento) e pela moral — como fez Jesus ao impor as mãos com fé e humildade.

Sem essa base, o passe corre o risco de se tornar espetáculo ou superstição, afastando-se da essência espírita de cura interior e auxílio espiritual.

Reequilibrando tecnologia e humanidade

O Espiritismo convida ao uso racional da técnica como instrumento do bem-estar, nunca como um fim em si mesmo. Esse equilíbrio exige:

  • Educação contínua — cultivar o raciocínio, a leitura e o aprofundamento doutrinário;
  • Refino moral — fortalecer a vontade do bem, o trabalho desinteressado e o esforço interior;
  • Utilização consciente da tecnologia — aproveitar os recursos modernos sem perder a capacidade de pensar, criar e sentir.

Se esse cuidado não for observado, a modernidade corre o risco de se transformar em um ídolo materialista, subtraindo do homem o verdadeiro sentido da vida.

Conclusão

A Doutrina Espírita revela que a máquina deve servir à inteligência, e não escravizá-la. O progresso técnico deve ser alavanca para o progresso moral e intelectual. Nesse caminho, o estudo das obras fundamentais e o cultivo do espírito crítico são recursos centrais para enfrentar os riscos do desemprego, da preguiça mental e da superficialidade espiritual.

Referências

  • Kardec, Allan. A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, cap. 14.
  • Revista Espírita, março de 1864. Comunicação do Espírito Vaucanson sobre máquinas, trabalho e progresso espiritual.
  • Revista Espírita (1858–1869), coleção de estudos organizada por Allan Kardec e pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
  • Kardecpedia.
  • Espiritismo Século XXI (espiritismo-seculoxxi.blogspot.com).
  • GEAE – Grupo de Estudos Avançados Espíritas (geae1992.com.br).
  • Nobilta Editora (nobilta.com.br).
  • Wikipédia – A Gênese.

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