Introdução
A modernidade trouxe avanços extraordinários —
desde a Revolução Industrial até a inteligência artificial e a robótica — que
transformaram profundamente a estrutura laboral e social. No entanto, ao lado
dos benefícios, surgem desafios éticos e espirituais impactantes: o desemprego
estrutural, o aumento da ociosidade intelectual e a fragilidade moral.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e
aprofundada em A Gênese, na Revista Espírita (1858–1869) e em
outras obras, oferece subsídios para uma análise equilibrada dessas
transformações.
A máquina
como ajuda — e não substituto integral
Em mensagem psicografada e publicada na Revista
Espírita, o Espírito Vaucanson destaca que o progresso técnico não deve ser
temido, mas compreendido:
“O
homem não foi feito para ficar como instrumento ininteligente de produção… O
operário é chamado a tornar-se engenheiro… o artífice deve tornar-se artista…”
A transição do esforço braçal para o uso do
intelecto é, para o Espiritismo, o caminho elevado do progresso. A destruição
dos empregos produtivos pode ser dolorosa, mas também indica a necessidade de
redirecionar o trabalhador ao campo da mente, da criatividade e da inteligência
espiritual.
O papel
civilizatório da instrução
Trabalhos mediúnicos, pesquisas e estudos
publicados na Revista Espírita constituem um marco do uso racional e
didático frente ao progresso das ideias e da técnica. Kardec valorizava a
instrução como ferramenta emancipadora e moralizante, indo além da simples
acumulação de conhecimento formal.
No presente, diante da automação crescente, a
educação permanece como instrumento essencial. Ela deve ser entendida não
apenas na formação técnica, mas também no cultivo da consciência, da empatia e
da dignidade humana — valores que uma máquina ou um algoritmo dificilmente
substituirão.
“Preguiça
mental” e desafios contemporâneos
O uso rotineiro de calculadoras, programas visuais
e sistemas que simplificam o trabalho revela como a tecnologia pode enfraquecer
certas habilidades básicas. Quando milhares de profissionais deixam de
exercitar o raciocínio, correm o risco de se tornarem dependentes de soluções
prontas, enfraquecendo sua criatividade e capacidade crítica.
Do ponto de vista espírita, a disciplina do estudo
— aquela que Kardec exerceu ao compilar a Doutrina — molda o pensamento crítico
e fortalece o discernimento. Essa prática evita a acomodação mental e a
aceitação passiva de ideias superficiais ou distorcidas. No Movimento Espírita,
o risco é semelhante: muitos deixam de estudar as obras fundamentais e se
tornam vulneráveis a ensinamentos de “espíritos” ou dirigentes mal preparados,
que não se fundamentam na Codificação.
O passe e
a moral: autêntico vs. místico
Alguns centros espíritas incorporaram práticas
estranhas à Doutrina, como passes com gesticulação exagerada ou “passes
especiais”. Contudo, em A Gênese (capítulo 14), Kardec ressalta que o
passe eficaz deve ser simples, guiado pela vontade (pensamento) e pela moral —
como fez Jesus ao impor as mãos com fé e humildade.
Sem essa base, o passe corre o risco de se tornar
espetáculo ou superstição, afastando-se da essência espírita de cura interior e
auxílio espiritual.
Reequilibrando
tecnologia e humanidade
O Espiritismo convida ao uso racional da técnica
como instrumento do bem-estar, nunca como um fim em si mesmo. Esse equilíbrio
exige:
- Educação contínua — cultivar o raciocínio, a
leitura e o aprofundamento doutrinário;
- Refino moral — fortalecer a vontade do bem, o trabalho
desinteressado e o esforço interior;
- Utilização consciente da tecnologia — aproveitar os recursos modernos sem perder a capacidade de
pensar, criar e sentir.
Se esse cuidado não for observado, a modernidade
corre o risco de se transformar em um ídolo materialista, subtraindo do homem o
verdadeiro sentido da vida.
Conclusão
A Doutrina Espírita revela que a máquina deve
servir à inteligência, e não escravizá-la. O progresso técnico deve ser
alavanca para o progresso moral e intelectual. Nesse caminho, o estudo das
obras fundamentais e o cultivo do espírito crítico são recursos centrais para
enfrentar os riscos do desemprego, da preguiça mental e da superficialidade
espiritual.
Referências
- Kardec, Allan. A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo, cap. 14.
- Revista Espírita, março de 1864. Comunicação
do Espírito Vaucanson sobre máquinas, trabalho e progresso espiritual.
- Revista Espírita (1858–1869), coleção de
estudos organizada por Allan Kardec e pela Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas.
- Kardecpedia.
- Espiritismo Século XXI (espiritismo-seculoxxi.blogspot.com).
- GEAE – Grupo de Estudos Avançados Espíritas (geae1992.com.br).
- Nobilta Editora (nobilta.com.br).
- Wikipédia – A Gênese.
Nenhum comentário:
Postar um comentário