Introdução
A busca pela perfeição moral é, segundo o
Espiritismo, a meta do progresso espiritual. Allan Kardec, em O Livro dos
Espíritos (Livro Terceiro, cap. XII – “Perfeição Moral”), apresenta as
virtudes como alicerces dessa construção íntima. Entretanto, a conquista dessas
qualidades não é automática: exige autoconhecimento para identificar
imperfeições, compreender tendências e, com esforço consciente, desenvolver as
disposições morais que nos aproximam do “homem de bem” descrito por Kardec.
No centro dessa jornada está o ensinamento de
Sócrates, lembrado por Kardec na questão 919: “Conhece-te a ti mesmo”.
Esse conselho, longe de ser mera máxima filosófica, é método prático de
autotransformação, pois apenas quem se observa com sinceridade pode corrigir o
que ainda precisa ser trabalhado.
Virtudes
como Caminho de Transformação Íntima
As virtudes são expressões elevadas do Espírito, florescendo
à medida que superamos o egoísmo e o orgulho. No Espiritismo, elas não se
resumem a condutas externas, mas refletem um estado íntimo, fruto de escolhas
conscientes e repetidas.
Entre elas, destacam-se:
- Amor – “força que preside a ordem do Universo”,
conforme ensina O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XI). É a
síntese de todas as leis divinas e a essência da vida espiritual.
- Caridade – o amor em ação. Kardec, na questão 886 de O
Livro dos Espíritos, registra a definição dada pelos Espíritos: “Benevolência
para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das
ofensas”.
- Humildade – consciência de nossa posição no universo,
que nos protege da vaidade e nos aproxima dos outros sem arrogância.
- Fé – confiança esclarecida, capaz de encarar a
razão e sustentar a esperança diante das provações.
- Esperança – certeza íntima de que o bem triunfará,
mesmo quando o presente parece adverso.
- Paciência – resistência serena às dificuldades, que nos
impede de responder com irritação ou desânimo.
- Justiça – prática da igualdade e respeito aos
direitos de todos, como expressão do amor em equilíbrio.
- Tolerância – aceitação das diferenças e respeito às
convicções sinceras.
- Prudência – sabedoria no discernir e agir, escolhendo
meios adequados para o bem.
Essas e outras virtudes — generosidade, temperança,
serenidade, lealdade, solidariedade — não surgem por imposição externa, mas
pela internalização de valores que transformam hábitos e pensamentos.
Autoconhecimento:
a Chave da Transformação
O autoconhecimento, para Kardec, é exercício
diário. No O Livro dos Espíritos (questão 919-a), Santo Agostinho
recomenda: “Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia
interrogava a minha consciência”. Esse exame moral, feito com sinceridade,
nos permite identificar:
- Defeitos persistentes que precisam de vigilância.
- Virtudes já adquiridas, que devem ser
fortalecidas.
- Situações do cotidiano que testam nossas
disposições morais.
A doutrina ensina que não basta conhecer o ideal: é
preciso aplicá-lo nas relações humanas, no lar, no trabalho, na
sociedade. A “medida” do progresso não está apenas no que sabemos, mas no
quanto nossas atitudes refletem as leis de Deus.
O Homem
de Bem e o Verdadeiro Espírita
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap.
XVII, itens 3 e 4), Kardec descreve o “homem de bem” como aquele que cumpre a
lei de amor, justiça e caridade na sua pureza. Esse ideal exige:
- Fazer o bem pelo bem.
- Retribuir o mal com o bem.
- Colocar os bens espirituais acima dos materiais.
- Perdoar sempre.
- Ser indulgente com as fraquezas alheias.
- Trabalhar constantemente para superar as próprias imperfeições.
O “verdadeiro espírita” não é o que apenas acredita
nos Espíritos, mas o que se transforma moralmente e se esforça para
domar suas más inclinações. Ele une fé raciocinada, sentimento puro e ação no
bem.
Virtude:
Resultado de Escolhas Conscientes
O desenvolvimento das virtudes é processo
cumulativo. Cada ato de paciência, cada exercício de tolerância, cada escolha
pelo perdão fortalece nosso caráter espiritual. Emmanuel, em Pensamento e
Vida, lembra que “a virtude é conquista intransferível”, e não pode ser
delegada ou imposta.
Na vivência espírita, as provas e expiações são
oportunidades de aprendizagem. Mesmo a dor, quando compreendida, pode ser
“transformada em virtude”, como poeticamente lembra o coro hebreu na composição
musical Va’ Pensiero de Verdi.
Conclusão
A perfeição moral é destino de todos nós. O caminho
é longo, mas seguro, guiado pelas leis divinas e pela prática do
autoconhecimento. Como ensina Kardec, “aquele que se esforce por possuir as
qualidades do homem de bem, no caminho se acha que a todas as demais conduz”.
O Espiritismo não nos oferece apenas uma lista de
virtudes, mas um método de progresso moral, onde o conhecimento de si
mesmo é a chave para a libertação dos vícios e o florescimento das qualidades
nobres. A cada dia, uma nova oportunidade se abre para nos tornarmos mais
pacíficos, mais justos, mais amorosos — enfim, mais próximos do Cristo.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro, cap.
XII – Perfeição Moral.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XI,
XVII.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- EMMANUEL (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier. Pensamento
e Vida.
- FROMM, Erich. A Revolução da Esperança.
- MOLLO, Elio. “Perfeição Moral” e “Avalie a Si Mesmo” – Blog emollo.blogspot.com.
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