Introdução
A
mediunidade constitui elemento essencial para a Doutrina Espírita, uma vez que
é por meio dela que os Espíritos se comunicam com os homens, transmitindo
orientações, consolações e esclarecimentos. Allan Kardec, ao organizar a
Codificação, deixou claro que não se tratava de sua filosofia pessoal, mas do
ensino dos Espíritos Superiores, que se apresentaram como intérpretes das leis
divinas. Nesse sentido, o estudo da mediunidade envolve não apenas a
compreensão de suas variedades, mas, sobretudo, a reflexão sobre a utilidade
e a educação da faculdade mediúnica, sem o que se corre o risco de
transformá-la em mera curiosidade ou instrumento de perturbação.
A mediunidade como luz: a parábola da candeia
No
Evangelho, Jesus ensina:
"Ninguém
acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim sobre o
candeeiro, e assim ilumina a todos os que estão na casa." (Mateus 5:15)
Essa
imagem evangélica oferece um paralelo direto com a mediunidade. A faculdade
mediúnica é uma luz acesa pela Providência Divina na alma do médium, não para
ser ocultada ou desviada, mas para brilhar em benefício de muitos. Contudo,
como toda chama, precisa de cuidado e educação, para que não se apague ou não
provoque incêndio.
Kardec,
em O Livro dos Médiuns, ao tratar da educação dos médiuns, alerta que
não basta possuir a faculdade, mas é necessário instruí-la, moralizá-la e
discipliná-la para que produza frutos úteis¹. Do contrário, pode transformar-se
em motivo de fascinação, obsessão ou desequilíbrio.
Variedades e qualidades da mediunidade
Conforme
ensinado pelos Espíritos e codificado por Kardec, a mediunidade se manifesta em
diferentes tipos, desde os efeitos físicos até as comunicações intelectuais.
Cada uma delas se ajusta a determinadas aptidões dos médiuns, que funcionam como
instrumentos sensíveis para a transmissão do pensamento espiritual².
Além
disso, a qualidade do médium não se mede pela força ou pela raridade da
faculdade, mas pela pureza da inspiração espiritual, que depende da
sintonia do médium e de sua formação moral. Nesse ponto, os Espíritos ressaltam
que um médium instruído e educado é mais útil que um médium dotado apenas de
faculdades extraordinárias³.
Educação mediúnica: disciplina da luz interior
Assim
como a candeia exige combustível, o exercício mediúnico requer:
- Estudo doutrinário: para compreender
o alcance e os limites da faculdade;
- Disciplina moral: para resistir às
influências inferiores;
- Finalidade
caritativa:
para colocar o dom a serviço do próximo, e não da vaidade ou do interesse
pessoal.
A
educação mediúnica não é apenas técnica, mas espiritual. O médium é convidado a
crescer em autodomínio, humildade e perseverança, tornando-se um servidor
consciente.
Conclusão
O
ensino dos Espíritos sobre a mediunidade mostra que se trata de uma luz divina
confiada ao homem, comparável à candeia do Evangelho: se bem orientada, ilumina
e consola; se mal utilizada, pode gerar sombras e perturbação. A Doutrina
Espírita, ao esclarecer as variedades de mediunidade e as condições que a
qualificam, nos convida a desenvolver a educação mediúnica, para que
essa luz brilhe com segurança, em harmonia com o Evangelho de Jesus e a
orientação dos Espíritos Superiores.
Notas de rodapé
- "A faculdade existe; mas, como todas as faculdades, precisa de desenvolvimento e de direção. Deixar ao acaso sua educação, seria expô-la a cair em todos os inconvenientes da mediunidade mal dirigida." (O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XVII, item 200).
- "Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; surpreendem-lhes o pensamento e o transmitem." (O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XIV, item 159).
- "Os médiuns de melhores comunicações são os que menos se prestam às exibições." (O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XX, item 226).
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- A Bíblia Sagrada.
Mateus 5:14-16; Marcos 4:21-22; Lucas 8:16-18.
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