quarta-feira, 6 de agosto de 2025

 

O ESPIRITISMO ENTRE O CONSERVADORISMO E A RAZÃO:
UMA LEITURA CRÍTICA A PARTIR DE ALEXANDRE CALDINI NETO
- A Era do Espírito -
 

“Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade.”
— Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX

Recentemente, o artigo publicado pela Folha de S.Paulo em 5 de agosto de 2025 trouxe à tona o lançamento do livro A Essência do Espiritismo, de Alexandre Caldini Neto, propondo uma análise contundente do cenário espírita brasileiro contemporâneo. Segundo o autor, há uma tendência conservadora, moralista e por vezes autoritária dentro de muitos grupos espíritas, especialmente em relação a temas como aborto, direitos LGBTQIA+, eutanásia, racismo e machismo.

A proposta do autor, no entanto, não é negar o Espiritismo, mas resgatar aquilo que ele considera ser sua verdadeira essência: uma doutrina aberta ao progresso, sustentada pela razão e pelo espírito coletivo da revelação.

Como, então, essa análise crítica se relaciona com os princípios fundamentais do Espiritismo codificado por Allan Kardec?

Fé Raciocinada e Não Dogmática

Caldini Neto sustenta que o Espiritismo é, por natureza, filosofia racional e coletiva, e que não deve se converter em sistema fechado ou moralismo intransigente. Essa perspectiva se alinha diretamente com o pensamento de Allan Kardec, que, desde o início da codificação, advertia contra a cristalização da doutrina em formas dogmáticas.

Kardec, em diversas obras, reafirma que o Espiritismo deve sempre caminhar de mãos dadas com o progresso. Se a ciência demonstrasse algo contrário ao que os Espíritos ensinaram, dizia ele, “que fique com a ciência”.

Assim, posições fechadas, intolerantes ou punitivistas sobre temas sociais delicados, ainda que travestidas de zelo moral, não encontram sustentação na proposta original da Doutrina Espírita, que é progressista, racional e caritativa.

A Doutrina em Evolução Contínua

Outro ponto crucial levantado por Caldini é o risco da imobilidade doutrinária. Quando segmentos do movimento espírita se tornam refratários à evolução do conhecimento, tanto no campo científico quanto no campo moral, abandonam o que Kardec definiu como revelação progressiva.

Em A Gênese, por exemplo, o codificador afirma claramente que o Espiritismo progride com a humanidade. Os Espíritos comunicantes, por sua vez, deixaram claro que suas revelações não eram absolutas, mas adequadas ao grau de adiantamento moral e intelectual da época.

Portanto, negar o debate sobre temas como aborto ou eutanásia com base em interpretações estáticas é trair o próprio espírito da codificação, que reconhece a complexidade das questões humanas e a necessidade de revisões contínuas à luz da razão e da compaixão.

Tolerância, Caridade e Justiça

Kardec e os Espíritos superiores, em toda a codificação, insistem que a caridade é a virtude máxima, a base de toda verdadeira moral. Ser caridoso, para o Espiritismo, é ser justo, tolerante, indulgente e respeitoso diante das imperfeições e dilemas alheios.

Assim, o combate à intolerância e à marginalização de pessoas em função de sua identidade de gênero, orientação sexual ou decisões pessoais sobre seu próprio corpo não é um "afrouxamento moral", como alguns podem acusar. Ao contrário: é prática legítima da caridade evangélica, da justiça com amor, que a Doutrina preconiza.

Quadro comparativo

Temas abordados por Alexandre Caldini Neto

Como se relacionam com a codificação kardecista

Crítica ao conservadorismo e autoritarismo

Espiritismo como filosofia aberta e racional

Discussão ética sobre aborto, eutanásia, gênero

Exigência de análise racional, moral e caritativa

Defesa da ciência e do progresso moral

Coerente com a revelação progressiva de Kardec

Combate à intolerância e à arrogância religiosa

Alinhado à ética espírita de humildade e respeito

 Conclusão: Kardec e a Essência do Espiritismo

O Espiritismo marchará com o progresso e nunca será ultrapassado, afirmou Kardec. O livro de Alexandre Caldini Neto, embora possa gerar desconforto em círculos mais tradicionais, é um convite necessário à reflexão sobre o quanto o movimento espírita brasileiro permanece fiel à sua raiz filosófica e espiritual evolutiva, ou se está sendo aprisionado por estruturas morais e ideológicas estranhas à codificação original.

A fidelidade a Kardec não está em repetir fórmulas prontas, mas em preservar o espírito investigativo, tolerante e racional da Doutrina. É tempo de abrir os olhos e o coração, e relembrar que, conforme ensinam os Espíritos superiores, a verdadeira superioridade está na moral, e não nas aparências da virtude.

Referência:

 

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