sábado, 16 de agosto de 2025

 

O PRINCÍPIO ESPÍRITA DO AUTOCONHECIMENTO
- A Era do Espírito -

O Reino de Deus está entre vós
(Lucas 17:20-21)

Introdução

Quando os fariseus interrogaram Jesus sobre quando viria o Reino de Deus, o Mestre respondeu com uma declaração profunda e, ao mesmo tempo, desafiadora: “O Reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! Pois o Reino de Deus está entre vós.” (Lucas 17:20-21).


Essa resposta, longe de indicar um local físico ou um evento espetacular, desloca o eixo da questão para o interior do próprio ser humano. O “Reino” não é um espaço geográfico nem uma conquista social imediata; é uma realidade íntima, latente, que se revela à medida que a consciência se ilumina.

À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, compreendemos que esse Reino, presente “entre nós” e, mais precisamente, em nós, floresce pelo processo contínuo de autoconhecimento e autoeducação moral.

O Autoconhecimento segundo Kardec

Na questão 919 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta:

"Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?"

A resposta, breve e decisiva, é:

"Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo."

Na questão seguinte (919.a), Kardec busca detalhamento, e o Espírito Santo Agostinho explica que devemos examinar diariamente a nossa consciência, revisitando pensamentos, palavras e atos, perguntando-nos: “Que bem fiz hoje? Que mal cometi? Se fosse chamado a prestar contas, teria vergonha de alguma coisa?”

Esse método simples, porém profundo, é um convite a um diálogo honesto com a própria alma. É como abrir, todos os dias, as janelas do íntimo para a luz, afastando as sombras das ilusões e justificativas fáceis.

Autoconhecimento como base da Autoeducação

O Espiritismo ensina que a evolução moral não é fruto de imposições externas, mas do trabalho voluntário e consciente do Espírito sobre si mesmo.

Sem o autoconhecimento, qualquer tentativa de transformação íntima corre o risco de se apoiar em bases frágeis, pois não se combate o que não se percebe.

A Revista Espírita, em diversos artigos entre 1858 e 1869, especialmente nos diálogos morais que Kardec reproduz, reforça que a verdadeira moralização começa no pensamento, na motivação que orienta a ação. Reconhecer-se imperfeito não é motivo de desânimo, mas de estímulo à mudança. O erro identificado é um terreno pronto para o cultivo da virtude.

O Reino de Deus como força íntima

Quando Jesus fala do “Reino” como estando “entre vós”, ele se refere a um estado de consciência em sintonia com as leis divinas, que já se encontra, em germe, no íntimo de cada criatura. Não é algo a ser importado de fora, mas despertado de dentro.

Essa força interior, quando alimentada pelo autoconhecimento e pela prática do bem, transforma o ser humano por inteiro. A paz, a humildade, a compaixão e a justiça passam a guiar as decisões, não por imposição, mas por convicção íntima.

Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII), ao tratar do “homem de bem”, descreve exatamente o retrato daquele que descobriu o Reino dentro de si — alguém que já não precisa de reconhecimento exterior para agir com retidão, pois tem na consciência a sua maior juíza e no amor ao próximo a sua lei suprema.

O Caminho para o Reino

A trajetória espiritual proposta pelo Cristo e explicada pelo Espiritismo pode ser resumida em três movimentos complementares:

  1. Conhecer-se – Investigando sinceramente os próprios sentimentos e intenções.
  2. Educar-se – Substituindo hábitos nocivos por condutas alinhadas às leis divinas.
  3. Servir – Aplicando no mundo externo a luz cultivada no mundo interno.

Assim, o Reino de Deus deixa de ser promessa distante e passa a ser experiência cotidiana, ainda que em pequena escala, preparando o Espírito para a plenitude futura.

Conclusão

O Reino de Deus, como ensinou Jesus, não se inaugura com pompas exteriores, mas com revoluções silenciosas no íntimo de cada ser. Pelo autoconhecimento, aprendemos a identificar os pontos frágeis da alma; pela autoeducação, fortalecemos as virtudes; e pelo amor em ação, expandimos esse Reino de dentro para fora.

A Doutrina Espírita, retomando o conselho socrático e a lição do Cristo, nos lembra que a transformação do mundo começa na transformação de nós mesmos. E é nesse trabalho paciente e diário que descobrimos que o Reino dos Céus, longe de ser miragem distante, é realidade que nos habita, aguardando apenas o nosso despertar.

Referências

  • Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 919 e 919.a.
  • Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII.
  • Kardec, Allan. Revista Espírita. Diversos volumes (1858-1869).
  • Bíblia Sagrada. Evangelho de Lucas 17:20-21.

 

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