terça-feira, 26 de agosto de 2025

O PROPÓSITO DA EXISTÊNCIA: VIKTOR FRANKL
E A DOUTRINA ESPÍRITA EM DIÁLOGO
- A Era do Espírito -

Introdução

A história de Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, é uma das mais contundentes lições de resiliência e significado da vida no século XX. Médico neuropsiquiatra austríaco, judeu, ele transformou o sofrimento atroz da guerra em fonte de reflexão para a humanidade. Sua principal obra, Em busca de sentido, mostra que, mesmo nas situações mais extremas, o ser humano pode suportar a dor quando encontra um propósito pelo qual viver.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece um horizonte ainda mais amplo para essa questão, ao responder de maneira clara sobre o destino do homem, a finalidade da existência e os meios de alcançarmos a plenitude espiritual. Unindo a experiência de Frankl às luzes do Espiritismo, podemos compreender melhor o que significa viver com propósito e como esse propósito se inscreve no progresso moral e espiritual da humanidade.

O sentido da vida segundo Frankl e a visão espírita

Frankl observou, nos campos de concentração, que aqueles que melhor suportavam os horrores da guerra eram os que possuíam um objetivo maior: reencontrar a família, realizar um sonho, dedicar-se a uma causa. Para ele, não era o sofrimento em si que destruía o homem, mas o vazio de sentido.

De modo semelhante, o Espiritismo ensina que a vida na Terra é uma oportunidade de progresso. Perguntados os Espíritos Superiores sobre o objetivo da encarnação, responderam a Kardec: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição” (O Livro dos Espíritos, q. 132). Assim, cada existência possui uma finalidade educativa, e cada dor, quando bem suportada, converte-se em degrau de crescimento.

Enquanto Frankl afirmou que o homem encontra sentido amando, experimentando a bondade, a verdade e a beleza, o Cristo já havia apontado o mesmo caminho ao dizer: “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado” (Mateus 6:33). O “reino de Deus”, segundo a interpretação espírita, é a consciência em paz, fruto do dever cumprido e do amor colocado em prática.

Propósito maior e metas existenciais

O Espiritismo distingue os objetivos imediatos — como estudos, trabalho e conquistas materiais — do propósito maior, que é a elevação espiritual. Essa distinção nos ajuda a não confundir metas transitórias com o verdadeiro sentido da vida.

Santo Agostinho, na questão 919 de O Livro dos Espíritos, recomenda o autoconhecimento como caminho para cumprir melhor nossa missão. Ele ensina que, examinando diariamente a própria consciência, o homem encontra a chave do progresso íntimo, ajustando-se às leis divinas. Esse é o propósito maior: tornar-se melhor, aproximando-se de Deus pelo amor e pela prática do bem.

Sofrimento e resiliência espiritual

O testemunho de Frankl revela que não é o sofrimento em si que aniquila, mas a ausência de significado. O Espiritismo confirma essa visão ao ensinar que “Deus não impõe provas superiores às forças daquele que as pede; é somente a falta de coragem que o faz sucumbir” (O Livro dos Espíritos, q. 266). Ou seja, toda dor tem um valor educativo e proporcional à capacidade do espírito de enfrentá-la.

Nesse sentido, compreender o propósito da existência não elimina a dor, mas transforma-a em aprendizado. Essa visão consola, fortalece e dá sentido até mesmo às situações mais adversas.

Conclusão

A experiência de Viktor Frankl e os ensinamentos da Doutrina Espírita convergem em um ponto essencial: viver é encontrar um propósito. Esse propósito não se limita às conquistas materiais ou prazeres passageiros, mas se enraíza no amor, na bondade, na busca do bem e na consciência tranquila.

O Espiritismo acrescenta que esse sentido maior é universal: todos estamos em processo de progresso moral e espiritual, destinados à perfeição. Cada vida, cada dor, cada escolha é parte desse caminho. Assim, a verdadeira liberdade não está em evitar o sofrimento, mas em transformar a existência em instrumento de aprendizado e amor.

A grande pergunta, portanto, permanece diante de cada um de nós: qual é o sentido da nossa vida? O Espiritismo nos convida a respondê-la não apenas com palavras, mas com obras, fé raciocinada e caridade ativa.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Vozes / Sinodal.
  • BÍBLIA SAGRADA, Mateus 6:33.
  • Momento Espírita. A busca do homem por sentido. Disponível em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7294&stat=0.

 

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