Introdução
A história de Viktor Frankl, sobrevivente dos
campos de concentração nazistas, é uma das mais contundentes lições de
resiliência e significado da vida no século XX. Médico neuropsiquiatra
austríaco, judeu, ele transformou o sofrimento atroz da guerra em fonte de
reflexão para a humanidade. Sua principal obra, Em busca de sentido,
mostra que, mesmo nas situações mais extremas, o ser humano pode suportar a dor
quando encontra um propósito pelo qual viver.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
oferece um horizonte ainda mais amplo para essa questão, ao responder de
maneira clara sobre o destino do homem, a finalidade da existência e os meios
de alcançarmos a plenitude espiritual. Unindo a experiência de Frankl às luzes
do Espiritismo, podemos compreender melhor o que significa viver com propósito
e como esse propósito se inscreve no progresso moral e espiritual da
humanidade.
O sentido
da vida segundo Frankl e a visão espírita
Frankl observou, nos campos de concentração, que
aqueles que melhor suportavam os horrores da guerra eram os que possuíam um
objetivo maior: reencontrar a família, realizar um sonho, dedicar-se a uma
causa. Para ele, não era o sofrimento em si que destruía o homem, mas o vazio
de sentido.
De modo semelhante, o Espiritismo ensina que a vida
na Terra é uma oportunidade de progresso. Perguntados os Espíritos Superiores
sobre o objetivo da encarnação, responderam a Kardec: “Deus lhes impõe a
encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição” (O Livro dos
Espíritos, q. 132). Assim, cada existência possui uma finalidade educativa, e
cada dor, quando bem suportada, converte-se em degrau de crescimento.
Enquanto Frankl afirmou que o homem encontra
sentido amando, experimentando a bondade, a verdade e a beleza, o Cristo já
havia apontado o mesmo caminho ao dizer: “Buscai primeiro o reino de Deus e
a sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado” (Mateus 6:33). O “reino
de Deus”, segundo a interpretação espírita, é a consciência em paz, fruto do
dever cumprido e do amor colocado em prática.
Propósito
maior e metas existenciais
O Espiritismo distingue os objetivos imediatos —
como estudos, trabalho e conquistas materiais — do propósito maior, que é a
elevação espiritual. Essa distinção nos ajuda a não confundir metas
transitórias com o verdadeiro sentido da vida.
Santo Agostinho, na questão 919 de O Livro dos
Espíritos, recomenda o autoconhecimento como caminho para cumprir melhor
nossa missão. Ele ensina que, examinando diariamente a própria consciência, o
homem encontra a chave do progresso íntimo, ajustando-se às leis divinas. Esse
é o propósito maior: tornar-se melhor, aproximando-se de Deus pelo amor e pela
prática do bem.
Sofrimento
e resiliência espiritual
O testemunho de Frankl revela que não é o
sofrimento em si que aniquila, mas a ausência de significado. O Espiritismo
confirma essa visão ao ensinar que “Deus não impõe provas superiores às
forças daquele que as pede; é somente a falta de coragem que o faz sucumbir”
(O Livro dos Espíritos, q. 266). Ou seja, toda dor tem um valor educativo e
proporcional à capacidade do espírito de enfrentá-la.
Nesse sentido, compreender o propósito da
existência não elimina a dor, mas transforma-a em aprendizado. Essa visão
consola, fortalece e dá sentido até mesmo às situações mais adversas.
Conclusão
A experiência de Viktor Frankl e os ensinamentos da
Doutrina Espírita convergem em um ponto essencial: viver é encontrar um
propósito. Esse propósito não se limita às conquistas materiais ou prazeres
passageiros, mas se enraíza no amor, na bondade, na busca do bem e na
consciência tranquila.
O Espiritismo acrescenta que esse sentido maior é
universal: todos estamos em processo de progresso moral e espiritual,
destinados à perfeição. Cada vida, cada dor, cada escolha é parte desse
caminho. Assim, a verdadeira liberdade não está em evitar o sofrimento, mas em
transformar a existência em instrumento de aprendizado e amor.
A grande pergunta, portanto, permanece diante de
cada um de nós: qual é o sentido da nossa vida? O Espiritismo nos convida a
respondê-la não apenas com palavras, mas com obras, fé raciocinada e caridade
ativa.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Vozes / Sinodal.
- BÍBLIA SAGRADA, Mateus 6:33.
- Momento Espírita. A busca do homem por sentido. Disponível
em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7294&stat=0.
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