Introdução
As conquistas da ciência e da tecnologia humanas
são impressionantes. O telescópio espacial Hubble, por exemplo, em 2016,
identificou a galáxia GN-z11, situada a mais de 13 bilhões de anos-luz da
Terra, revelando-nos uma visão de quando o Universo tinha apenas algumas
centenas de milhões de anos. Este avanço científico é uma verdadeira viagem no
tempo e no espaço.
Entretanto, ao mesmo tempo em que o homem volta
seus olhos para os confins cósmicos, surge uma questão essencial: até que ponto
ele tem se aventurado na exploração do seu próprio mundo íntimo? A Doutrina
Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, e aprofundada nas páginas
da Revista Espírita (1858-1869), convida-nos a refletir sobre o
verdadeiro sentido dessa "viagem interior", indispensável ao
progresso moral e espiritual da humanidade.
A
Conquista Exterior e a Conquista Interior
O progresso material da humanidade, como ensina
Kardec em A Gênese (cap. XVIII), é apenas uma face da evolução. O homem
saiu das cavernas e hoje observa galáxias distantes, mas ainda tropeça em sua
própria incapacidade de lidar com frustrações, de manter relações fraternas ou
de dominar paixões destrutivas.
Essa discrepância entre conquistas exteriores e
conquistas interiores já foi destacada pelos Espíritos superiores em O Livro
dos Espíritos (questões 780 a 785), ao explicarem que o progresso moral não
acompanha, de forma imediata, o progresso intelectual. O intelecto pode abrir
estradas e lançar telescópios no espaço, mas é a moral que deve guiar os
destinos, sem a qual a inteligência se torna força perigosa.
A Fuga de
Si Mesmo
A sociedade moderna, com sua pressa e excesso de
estímulos, leva o homem a fugir de si mesmo. Os Espíritos nos alertam que a
felicidade não se encontra na posse de bens materiais ou no êxito exterior, mas
no equilíbrio interior e no cumprimento da lei de amor (O Livro dos
Espíritos, questão 920).
Muitos, no entanto, isolam-se emocionalmente,
escondendo-se atrás de avatares digitais, de máscaras sociais ou de conquistas
ilusórias. Esse afastamento do contato humano direto é reflexo da falta de
autoconhecimento e de um vazio espiritual, já apontado por Kardec na Revista
Espírita (março de 1858), ao analisar a “epidemia moral” do suicídio como
consequência da ausência de fé racional e da perda do sentido da vida.
Crianças
e Jovens: Espíritos Reencarnados
Outra observação importante está no fato de que
muitas crianças já demonstram, desde cedo, aptidões extraordinárias, como se “trouxessem cursos feitos antes de nascer”.
Essa percepção encontra eco no Espiritismo. Kardec, em O Livro dos Espíritos
(questão 218), ensina que os Espíritos conservam as experiências adquiridas em
existências passadas, o que explica talentos precoces.
Contudo, tais Espíritos também trazem imperfeições
morais e tendências a serem corrigidas. É por isso que muitos, apesar da
inteligência avançada, revelam desequilíbrios emocionais ou tendências à
violência. Isso confirma que a reencarnação não é apenas oportunidade de
progresso intelectual, mas, sobretudo, de aperfeiçoamento moral.
O
Descompasso do Homem Moderno
Vivemos em uma era de excesso: excesso de
informações, de tarefas, de estímulos. Somos “multitarefas”, mas,
paradoxalmente, pouco conhecedores de nós mesmos. Essa condição reflete o
alerta dos Espíritos: “Conhece-te a ti
mesmo” é a chave da evolução (inspirado no lema socrático, comentado por
Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 919).
A Doutrina Espírita enfatiza que a verdadeira transformação
começa no interior do homem. O progresso material sem progresso moral conduz ao
desequilíbrio, à ansiedade e ao vazio existencial.
O
Universo Interior: A Grande Viagem
Enquanto a ciência amplia horizontes no espaço
exterior, cabe ao Espírito imortal desbravar seu próprio universo íntimo. Esse
é o grande convite do Espiritismo: compreender que somos maiores que o tempo e
o espaço, pois nossa essência é imortal.
Explorar as “galáxias íntimas” é aprender a amar,
perdoar, vencer as más inclinações, buscar a verdade e cultivar a fé
raciocinada. Assim, a humanidade poderá unir suas conquistas exteriores às
conquistas interiores, caminhando para o progresso integral — intelectual,
moral e espiritual.
Conclusão
O homem olha para os céus e contempla as galáxias
distantes, mas precisa olhar, sobretudo, para dentro de si. O futuro da
humanidade não depende apenas de telescópios mais potentes, mas de corações
mais iluminados. A Doutrina Espírita nos ensina que somente o autoconhecimento,
aliado ao amor e à prática da caridade, pode dar sentido pleno à existência.
Explorar o espaço é grandioso, mas explorar o
Espírito é indispensável.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
- KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- PIRES, José Herculano. Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita.
São Paulo: Paideia, 1979.
- Momento Espírita. “O Universo Inexplorado”. Disponível em: momento.com.br.
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