Introdução
O tempo é um presente divino que nos é dado para
aprender, trabalhar e evoluir. No cotidiano, muitas vezes ele escapa
despercebido, seja na correria das tarefas ou na ociosidade que, longe de
proporcionar descanso, pode gerar distração e desequilíbrio.
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
enfatiza a importância da organização do tempo e da ocupação produtiva da mente
e das mãos. Como nos ensina O Livro dos Espíritos, o Espírito deve
buscar sempre o aprimoramento moral e intelectual, utilizando cada momento para
o bem (Questões 788 a 790). O exemplo do menino que corria à avó e ouvia
o conselho “É preciso ocupar bem o tempo” é emblemático: o ensinamento simples
da infância revela, à maturidade, uma profunda sabedoria espiritual.
O perigo
das horas vazias
Quando o tempo não é utilizado de forma consciente,
a mente tende a vagar sem direção, abrindo espaço para pensamentos inúteis,
preocupações desnecessárias e atitudes inadequadas. Kardec, em diversas
comunicações publicadas na Revista Espírita (1858-1869), alerta que o
Espírito desocupado corre riscos de desvios morais e de influências negativas,
uma vez que pensamentos ociosos podem atrair más companhias espirituais ou
despertar sentimentos inferiores.
As palavras psicografadas por Joanna de Ângelis
refletem essa mesma orientação: “Cabeça
ociosa é perigo à vista. Mãos desocupadas facultam o desequilíbrio que se
instala. Grandes males são maquinados quando se dispõe de espaço mental em
aberto.” A Doutrina Espírita reforça que a disciplina e a ocupação
construtiva são ferramentas essenciais para a evolução moral e intelectual.
Descanso
e alternância de atividades
O repouso físico é natural e necessário, pois o
corpo precisa recompor-se após esforço. No entanto, a Doutrina Espírita nos
lembra que o descanso também pode assumir outras formas. Podemos alternar
atividades mentais e físicas, combinando prazer e aprendizado. Por exemplo,
quando cansados do trabalho intelectual, podemos nos dedicar a tarefas manuais,
passear, cuidar de plantas ou brincar com animais. Quando cansados fisicamente,
atividades como leitura edificante, estudo de idiomas, prática de música ou
escrita oferecem descanso ao corpo e estímulo à mente.
A chave está em preencher o tempo de forma
positiva e significativa, garantindo que cada momento contribua para nossa
evolução.
O valor
do tempo em benefício do próximo
O Espiritismo enfatiza que a ocupação do tempo não
se restringe a atividades pessoais; ela se amplia quando oferecemos nosso tempo
em favor do próximo. Voluntariado, consolo a quem sofre, esclarecimento de
dúvidas, orientação moral ou simples companhia a quem se sente só são maneiras
de preencher as horas com amor e serviço. Allan Kardec explica que a caridade é
o caminho mais seguro para o progresso do Espírito (O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. XIX).
Transformar o tempo em serviço ao próximo é também
uma forma de proteger a mente das influências negativas, promovendo equilíbrio
emocional e moral.
Organização
e disciplina: construindo uma vida mais rica
Para aproveitar melhor o tempo, é útil planejar
nossas atividades, estabelecendo prioridades e metas. Criar uma lista do que
desejamos realizar — estudo, lazer, trabalho, serviço ao próximo — permite que
cada hora se transforme em oportunidade de crescimento. Assim, o tempo deixa de
ser um recurso desperdiçado e torna-se um instrumento de enriquecimento
interior, alegria e paz.
Kardec alerta que os males da humanidade muitas
vezes refletem o uso inadequado do tempo: pensamentos dispersos, hábitos
prejudiciais e falta de disciplina conduzem a desequilíbrios morais e
emocionais.
Conclusão
A vida é composta de momentos que podem ser transformados
em aprendizado e progresso espiritual. A Doutrina Espírita nos orienta a
valorizar o tempo, ocupando-o de maneira construtiva, equilibrada e solidária.
Cada hora aproveitada é um passo no caminho da
evolução, um estímulo à prática do bem e uma contribuição para a própria paz
interior. Como dizia a avó do menino, “Deus nos deu as mãos e a mente para que
as ocupássemos em coisas boas, o tempo todo.” Seguindo essa orientação,
construímos uma vida mais rica, plena de sentido e alinhada à lei de progresso
que rege a humanidade.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 788–790.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XIX –
Caridade.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869). Artigos sobre
disciplina, caridade e ocupação do tempo.
- JOANNA DE ÂNGELIS, psicografia de Divaldo Pereira Franco. Episódios
Diários, cap. 8.
- MOMENTO ESPÍRITA. Ante as horas vazias, momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4964&let=A&stat=0
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