A Ampulheta
No dia em que completou cinquenta
anos, um homem encontrou sobre sua cabeceira uma ampulheta com a mensagem: “Quem disse que a areia não pode parar?”.
Intrigado, tentou pará-la com meditação, orações e leituras, mas nada mudou.
Cansado da rotina de trabalho, foi surpreendido pela filha, que preparou um
piquenique especial. Entre flores e brinquedos, ela colocou a ampulheta
deitada, com a areia parada. Nesse instante, ele compreendeu a mensagem: o
tempo não para, mas pode ser suspenso em momentos de amor e presença
verdadeira.
Introdução
O
tempo é uma das experiências mais universais e, ao mesmo tempo, mais
enigmáticas da existência humana. A imagem de uma ampulheta — simples, mas
profundamente simbólica — nos recorda que cada grão de areia representa um
instante irreversível. Contudo, será que o tempo, em seu sentido mais profundo,
é realmente implacável? A narrativa da ampulheta sobre a cabeceira, acompanhada
da enigmática frase “Quem disse que a areia não pode parar?”, convida à
reflexão sobre como vivemos, e de que forma podemos transformar o ritmo
apressado da vida moderna em momentos de plenitude.
À luz
da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, a questão do tempo e do
aproveitamento da existência ganha novas dimensões. A imortalidade da alma, a
lei de progresso e a valorização do presente se entrelaçam com a simbologia
desse objeto aparentemente comum, mas capaz de revelar profundas lições
espirituais.
O Tempo e a Existência Humana
Na
perspectiva espírita, a vida corporal é apenas um capítulo dentro da trajetória
imortal do Espírito. Em O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta sobre a
finalidade da encarnação, e os Espíritos respondem que ela serve como meio de
expiação e, sobretudo, de progresso intelectual e moral (questão 132). Dessa
forma, cada “grão de areia” que cai na ampulheta da vida física representa
oportunidades valiosas de aprendizado.
O
personagem da narrativa tenta deter a areia por meio de meditação, oração e
leitura edificante. Todas práticas válidas, mas que não alteram o fluxo natural
do tempo. O ensinamento surge quando ele se permite viver um instante de amor,
ternura e simplicidade com sua filha. Nesse momento, a ampulheta é virada de
lado: não porque o tempo parou, mas porque o sentido da experiência se
transformou.
O Ritmo da Vida Moderna e a Pausa Necessária
Vivemos
em uma era marcada pela aceleração. Trabalho remoto, múltiplas demandas e a
cobrança incessante por produtividade criam a sensação de que o tempo nunca é
suficiente. Esse quadro dialoga com os alertas de Kardec na Revista Espírita,
onde já se discutia a necessidade de equilíbrio entre as atividades materiais e
espirituais. O homem que não se concede pausas corre o risco de perder-se em
“tarefas automáticas”, esquecendo-se daquilo que realmente o engrandece.
A cena
do piquenique improvisado pela filha simboliza um antídoto contra essa pressa:
a pausa consciente para viver o presente. O instante em família, permeado por
amor e espontaneidade, fez com que o pai compreendesse o enigma. Afinal, não é
a areia que para, mas a percepção humana que se eleva quando se aprende a estar
inteiro em cada momento.
A Mensagem Espírita do Enigma
A
frase “Quem disse que a areia não pode parar?” pode ser compreendida
como uma metáfora espiritual. O tempo cronológico — que rege o corpo físico —
segue seu curso. Mas o tempo da alma, o tempo da consciência, pode ser
experimentado de forma diferente. Quando o Espírito se conecta com valores
superiores, o instante presente adquire densidade e eternidade.
Esse
entendimento encontra ressonância nas palavras de Emmanuel, em A Caminho da
Luz, quando afirma que o amor é a força que transcende a marcha inexorável
da história humana. Do mesmo modo, no Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo IX, aprendemos que a verdadeira felicidade está na serenidade
interior, fruto do equilíbrio entre o dever e a ternura.
Conclusão
A
ampulheta da vida não cessa sua marcha. Contudo, a Doutrina Espírita nos ensina
que não basta contar os instantes — é preciso vivê-los com significado. O tempo
não pode ser detido, mas pode ser santificado pelo amor, pelo cuidado e pela
consciência de que a vida é uma oportunidade sagrada de crescimento.
Assim,
a lição do enigma não está em parar a areia, mas em aprender a transformar cada
instante em eternidade pela forma como o vivemos.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1ª ed. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita. (1858-1869). Diversos volumes.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. Federação
Espírita Brasileira, 1939.
- Momento Espírita. A ampulheta.
Disponível em: momento.com.br.
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