Introdução
O
chamado “cordão de prata” é um termo amplamente utilizado em correntes
espiritualistas para designar o elo fluídico que une o corpo físico ao perispírito
durante a encarnação. Frequentemente descrito por médiuns videntes como um fio
luminoso que se rompe na morte física, a expressão encontra eco em tradições
religiosas e filosóficas, mas também aparece em relatos espíritas. Surge então
a questão: é adequado empregar essa terminologia dentro da Doutrina Espírita
codificada por Allan Kardec? Para responder, é necessário recorrer ao método
espírita — observação, análise e confronto de informações — que caracteriza a
codificação.
Origem do Termo e Paralelos Espiritualistas
A
expressão “cordão de prata” tem origem bíblica, em Eclesiastes 12:6, onde
aparece como metáfora da fragilidade da vida. No campo espiritualista, foi
reinterpretada como o fio vital que liga o espírito encarnado ao corpo físico.
Essa imagem foi difundida em correntes esotéricas, teosóficas e projetivas,
adquirindo sentido técnico nessas tradições.
Na
Doutrina Espírita, contudo, Allan Kardec não utilizou essa expressão. Em suas
obras fundamentais, fala-se do “elo
fluídico” ou “laço que prende o
espírito ao corpo” (O Livro dos Espíritos, questões 136–154). O
termo “cordão de prata” foi assimilado por influência cultural posterior, mas
não integra a terminologia original da codificação.
O Laço Fluídico na Doutrina Espírita
Pela
análise das obras de Kardec, podemos identificar três aspectos essenciais:
- Natureza: O vínculo
corpo–espírito é explicado como uma ligação fluídica sustentada pelo
perispírito.
- Função: Esse laço é
responsável pela vitalidade do corpo e pela transmissão das sensações.
- Desligamento: O rompimento
gradual desses liames no processo da morte (chamado de desencarnação)
marca a libertação do espírito.
Kardec
destaca que esse processo não é instantâneo e varia conforme a condição moral e
fluídica do desencarnante (O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. 1).
O Problema Terminológico
A
expressão “cordão de prata” pode ser útil como metáfora, especialmente porque
remete a uma imagem visual de fácil assimilação. Contudo, do ponto de vista
doutrinário estrito, é mais adequado empregar termos utilizados por Kardec: “laço fluídico”, “elo perispiritual” ou “vínculo
vital”.
O uso
acrítico do termo pode levar à confusão entre Espiritismo e outras correntes
espiritualistas, obscurecendo a clareza conceitual que caracteriza a codificação.
O método espírita exige precisão vocabular para evitar interpretações místicas
ou simbólicas que não estejam fundamentadas na observação mediúnica e na
análise racional.
Considerações Atuais
Autores
espíritas posteriores, como André Luiz (pela psicografia de Chico Xavier),
descrevem a ligação corpo–perispírito de forma mais detalhada, aproximando-se
da imagem do cordão de prata. Em Evolução em Dois Mundos e Nosso Lar,
há descrições de fios luminosos que cumprem essa função. Ainda assim, mesmo
nesses relatos, prevalece a compreensão de que se trata de um fenômeno
fluídico, não de um objeto literal.
Portanto,
é possível usar o termo “cordão de prata” no contexto espírita, desde que se
esclareça que se trata de uma metáfora ou empréstimo de linguagem, e não de uma
expressão original da codificação. O rigor conceitual pede que se mantenha a
referência principal ao “laço fluídico”,
como proposto por Allan Kardec.
Conclusão
O
“cordão de prata” pode ser reconhecido como uma imagem simbólica útil para
explicar a ligação vital entre corpo e perispírito. Entretanto, no âmbito da
Doutrina Espírita, a terminologia correta é “elo fluídico” ou “laço
perispiritual”. A fidelidade à codificação espírita exige clareza
terminológica, distinguindo o Espiritismo de outras correntes espiritualistas.
Assim, o termo pode ser utilizado de forma didática, desde que acompanhado de
uma explicação racional que o enquadre no método espírita.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Céu e o Inferno. 1865.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858–1869).
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo espírito André Luiz). Nosso Lar. FEB, 1944.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo espírito André Luiz). Evolução em Dois Mundos. FEB,
1958.
- BÍBLIA SAGRADA.
Eclesiastes 12:6.
Nenhum comentário:
Postar um comentário