Introdução
A assistência social, em sua dimensão histórica e
humana, sempre acompanhou o desenvolvimento das sociedades. Desde os
agrupamentos mais primitivos até os sistemas organizados de amparo aos
necessitados, o ser humano intuiu a necessidade de partilha e solidariedade
como condição de sobrevivência e convivência.
No entanto, a Doutrina Espírita, codificada por
Allan Kardec, amplia esse conceito ao fundamentá-lo na máxima evangélica que
lhe serve de norte: “Fora da caridade não há salvação” (O Evangelho
segundo o Espiritismo, cap. XV). Nesse sentido, o papel do espírita e das
instituições espíritas não se limita a suprir carências materiais, mas a
oferecer apoio integral, que inclui o alimento da alma, a luz da educação e a
esperança na vida futura.
A proposta do Espiritismo, portanto, é que a
assistência social seja vista não apenas como medida de amparo imediato, mas
como instrumento de transformação moral e social, onde o voluntário se torna um
agente ativo da regeneração humana.
Assistência
Social e Voluntariado: Perspectiva Humana e Espiritual
A definição contemporânea de assistência social
traz consigo um caráter político e comunitário: apoiar famílias, crianças,
idosos, pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade. O voluntário,
nesse processo, desempenha papel fundamental, oferecendo seu tempo e
capacidades em favor do bem coletivo.
Entretanto, a Doutrina Espírita acrescenta uma
dimensão mais profunda. O voluntariado espírita não é apenas ato cívico ou
humanitário, mas expressão da lei divina de amor, que ensina a “dar de graça o
que de graça se recebe” (Mateus 10:8). O trabalho social, à luz do Espiritismo,
deve ser exercido com desinteresse, fraternidade e responsabilidade moral,
evitando a dependência e estimulando a autonomia do assistido.
Na Revista Espírita (dezembro de 1861),
Kardec já advertia que a beneficência não deve se reduzir à esmola, pois esta,
muitas vezes, fere a dignidade e perpetua a miséria. A verdadeira assistência é
aquela que instrui, eleva e ajuda o indivíduo a conquistar sua independência
material e moral.
O Exemplo
de Jesus e a Caridade como Norma
Com Jesus, a assistência transcendeu os limites das
convenções humanas. Ele não apenas curava corpos, mas fortalecia almas. O
Evangelho revela esse sentido elevado de caridade em episódios como o do Bom
Samaritano (Lucas 10:25-37), onde se destaca o valor universal do amor sem
fronteiras de raça, credo ou posição social.
O Espiritismo resgata esse exemplo e o traduz em
ação:
- Não basta dar o pão – é necessário ensinar a
importância do trabalho e da responsabilidade.
- Não basta vestir o corpo – é necessário iluminar a
consciência com o esclarecimento espiritual.
- Não basta acolher na dor – é necessário indicar o
caminho da renovação interior, que leva ao equilíbrio duradouro.
A
Transformação Moral como Finalidade
Kardec, em A Gênese (cap. XVIII, item 25),
ensina que “a solução da questão social está toda no melhoramento moral dos indivíduos
e das massas”. Isso significa que, embora a assistência material seja
imprescindível, ela se torna insuficiente se não for acompanhada pela educação
espiritual.
Em O Livro dos Médiuns (cap. XXIX, item
350), ele reforça que o Espiritismo contribuirá para a regeneração humana pelo aperfeiçoamento
gradual dos indivíduos. Assim, a caridade, quando vivida em sua essência, é
escola de transformação para quem dá e para quem recebe.
Bezerra de Menezes, lembrado como o “Médico dos
Pobres”, sintetizou essa visão ao dizer que o Espiritismo deve manter-se fiel
às suas bases, sem se comprometer com interesses políticos ou personalistas,
mas focado na fraternidade prática e na elevação moral.
O Papel
do Centro Espírita
O Centro Espírita, célula básica da organização
doutrinária, é também espaço de vivência social. Seu dever não é apenas
promover estudos e reuniões, mas inspirar ações de caridade e solidariedade
dentro e fora de suas portas.
Por isso, a assistência espírita deve:
- Amparar materialmente os necessitados em caráter
emergencial.
- Educar pelo estudo, pelo esclarecimento evangélico e
pelo estímulo ao trabalho.
- Transformar pela vivência da fraternidade e pelo convite
à transformação íntima.
Nesse sentido, a ação social espírita deve ter por
base o voluntariado, livre e consciente, e deve buscar sempre a reintegração
social e a educação espiritual, de forma a dignificar o ser humano em sua
totalidade.
Considerações
Finais
A assistência social espírita não substitui as
políticas públicas nem as instituições de amparo social. Antes, complementa-as
com o diferencial espiritual que brota do Evangelho e da Doutrina Espírita. O
espírita é chamado a agir não apenas como benfeitor, mas como irmão solidário,
consciente de que cada gesto de amor e partilha é um passo no caminho da
própria evolução.
Assim, a missão social do Espiritismo se cumpre: transformar
o mundo pelo aperfeiçoamento moral de cada indivíduo, ajudando a construir
uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita.
- PASSOS, Victor Manuel Pereira de. Espiritismo: Visão da
Assistência Social.
- Federação Espírita Brasileira (FEB). Manual de Apoio para as
Atividades do Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita.
- Decreto de Lei (art.º 2.º da Lei n.º 71/98, de 3 de Novembro).
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