Introdução
O
autismo, condição que afeta a comunicação, a interação social e o
comportamento, ainda é objeto de intensas pesquisas pela ciência médica. A
neurociência, a psiquiatria e a psicologia oferecem hipóteses e intervenções
terapêuticas que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas dentro do
espectro.
Entretanto,
à luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, é possível
ampliar a compreensão sobre essa realidade, considerando o ser humano não
apenas em sua dimensão biológica, mas sobretudo espiritual. O Espírito imortal,
em seu processo de evolução, pode manifestar em uma encarnação atual desafios
oriundos de experiências pretéritas, inclusive dificuldades de adaptação ao
renascimento.
Inspirado
em reflexões do médico e pesquisador espírita Dr. Ricardo Di Bernardi, e
apoiado em ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos, na Revista
Espírita (1858–1869) e em obras complementares, este artigo busca examinar
a relação entre Espiritismo e autismo, destacando a importância do olhar
espiritual aliado ao acompanhamento médico e terapêutico.
1. O Autismo sob a Perspectiva Espírita
Segundo
a Doutrina Espírita, nada acontece por acaso. Cada encarnação representa
oportunidade de aprendizado e reajuste perante a Lei Divina. Nesse contexto:
- O autismo pode
refletir causas pretéritas, especialmente durante o período de erraticidade,
em que determinadas posturas psíquicas dificultaram a aceitação do
renascimento.
- Em alguns casos, há
a recusa persistente do Espírito em reencarnar, o que gera
manifestações de aparente afastamento da realidade encarnatória.
- Trata-se de uma
situação transitória, pois, ao longo das existências, o Espírito
supera suas resistências e progride.
Kardec,
em O Livro dos Espíritos (questões 132 e 258), explica que a
reencarnação é necessária ao progresso, e que o Espírito participa da escolha
de suas provas. Dessa forma, o autismo pode ser compreendido como etapa
específica no caminho evolutivo, tanto do encarnado quanto de seus familiares.
2. Orientações Espíritas no Acolhimento ao Autista
A
contribuição da Doutrina Espírita não substitui a medicina, mas a complementa,
oferecendo recursos de ordem moral e espiritual que podem beneficiar tanto o
Espírito encarnado na condição de autista quanto sua família. Entre as práticas
sugeridas:
2.1 Conversa durante o sono
No repouso físico, a alma se desprende parcialmente
do corpo, facilitando a comunicação espiritual (O Livro dos Espíritos,
q. 402–409). Conversas afetuosas, feitas com calma e amor, podem alcançar o
Espírito, fortalecendo sua aceitação da encarnação.
2.2 Irradiação mental e fluídica
A Doutrina Espírita ensina que o Espírito, por meio
do pensamento e da vontade, pode atuar sobre os fluidos, transmitindo-lhes
qualidades benéficas (O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 176). Essa
ação, conhecida como irradiação fluídica, pode ser direcionada com
sentimentos de amor, paz e equilíbrio, alcançando o Espírito reencarnado na
condição de autista.
Assim, os familiares podem mentalizar o ente
querido envolto em luz serena e harmoniosa, associando pensamentos de
acolhimento e encorajamento. Essa prática, somada à oração sincera, contribui
para fortalecer o laço espiritual e auxiliar na adaptação do Espírito ao corpo
físico..
2.3 Recursos espirituais
·
Passes magnéticos e água fluidificada auxiliam no equilíbrio
energético.
·
Preces individuais favorecem a sintonia
com os benfeitores espirituais.
·
Trabalhos de desobsessão, quando necessários,
podem auxiliar casos de auto-obsessão, conforme alertado por Kardec na Revista
Espírita.
2.4 Apoio familiar
A família desempenha papel essencial, devendo
cultivar:
·
paciência e perseverança,
·
respeito e valorização da pessoa,
·
posturas cristãs de amor incondicional.
3. Integração entre Medicina e Espiritismo
O
Espiritismo não descarta o acompanhamento médico. Ao contrário, recomenda-o
insistentemente. Kardec adverte, na Revista Espírita (fev. 1865), que a
ciência deve ser respeitada em seu campo de ação, e que o Espiritismo não vem
substituí-la, mas iluminá-la sob nova ótica.
Assim,
o tratamento integral do autismo deve unir:
- abordagem médica e
terapêutica,
com acompanhamento psiquiátrico, psicológico e pedagógico;
- apoio espiritual, por meio das
práticas cristãs e espíritas de auxílio moral e energético.
O
autismo, visto pela ciência, é um desafio neuropsiquiátrico. Visto pela ótica
espírita, é também oportunidade de evolução espiritual para o encarnado e sua
família.
A
Doutrina Espírita, ao esclarecer sobre a reencarnação e as causas anteriores
das aflições, amplia a compreensão e sustenta a esperança. Ao mesmo tempo,
convida à prática do amor, da paciência e da fé, recursos indispensáveis para o
progresso espiritual.
A
integração entre ciência e espiritualidade é o caminho mais seguro, pois une o
tratamento clínico ao amparo moral e energético, em benefício do Espírito
imortal.
Referências
- BERNARDI, Ricardo
Di. Gestação Sublime Intercâmbio. Florianópolis: Instituto de
Cultura Espírita, 2000.
- BERNARDI, Ricardo
Di. Reencarnação e Evolução das Espécies. Florianópolis: Instituto
de Cultura Espírita, 2002.
- BERNARDI, Ricardo
Di. Dos Faraós à Física Quântica. Florianópolis: Instituto de
Cultura Espírita, 2006.
- BERNARDI, Ricardo
Di. Reencarnação em Xeque. Florianópolis: Instituto de Cultura
Espírita, 2008.
- BERNARDI, Ricardo
Di. Voo Livre – Um estudo sobre reencarnação. Florianópolis:
Instituto de Cultura Espírita, 2011.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858–1869).
- XAVIER, Francisco
Cândido (André Luiz – Espírito). Evolução em Dois Mundos. Rio de
Janeiro: FEB, 1958.
- FRANCO, Divaldo
Pereira (Joanna de Ângelis – Espírito). O Ser Consciente. Salvador:
LEAL, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário