sábado, 6 de setembro de 2025

ESPIRITISMO E AUTISMO
UMA ABORDAGEM DOUTRINÁRIA
- A Era do Espírito -

Introdução

O autismo, condição que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento, ainda é objeto de intensas pesquisas pela ciência médica. A neurociência, a psiquiatria e a psicologia oferecem hipóteses e intervenções terapêuticas que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas dentro do espectro.

Entretanto, à luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, é possível ampliar a compreensão sobre essa realidade, considerando o ser humano não apenas em sua dimensão biológica, mas sobretudo espiritual. O Espírito imortal, em seu processo de evolução, pode manifestar em uma encarnação atual desafios oriundos de experiências pretéritas, inclusive dificuldades de adaptação ao renascimento.

Inspirado em reflexões do médico e pesquisador espírita Dr. Ricardo Di Bernardi, e apoiado em ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos, na Revista Espírita (1858–1869) e em obras complementares, este artigo busca examinar a relação entre Espiritismo e autismo, destacando a importância do olhar espiritual aliado ao acompanhamento médico e terapêutico.

1. O Autismo sob a Perspectiva Espírita

Segundo a Doutrina Espírita, nada acontece por acaso. Cada encarnação representa oportunidade de aprendizado e reajuste perante a Lei Divina. Nesse contexto:

  • O autismo pode refletir causas pretéritas, especialmente durante o período de erraticidade, em que determinadas posturas psíquicas dificultaram a aceitação do renascimento.
  • Em alguns casos, há a recusa persistente do Espírito em reencarnar, o que gera manifestações de aparente afastamento da realidade encarnatória.
  • Trata-se de uma situação transitória, pois, ao longo das existências, o Espírito supera suas resistências e progride.

Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 132 e 258), explica que a reencarnação é necessária ao progresso, e que o Espírito participa da escolha de suas provas. Dessa forma, o autismo pode ser compreendido como etapa específica no caminho evolutivo, tanto do encarnado quanto de seus familiares.

2. Orientações Espíritas no Acolhimento ao Autista

A contribuição da Doutrina Espírita não substitui a medicina, mas a complementa, oferecendo recursos de ordem moral e espiritual que podem beneficiar tanto o Espírito encarnado na condição de autista quanto sua família. Entre as práticas sugeridas:

2.1 Conversa durante o sono

No repouso físico, a alma se desprende parcialmente do corpo, facilitando a comunicação espiritual (O Livro dos Espíritos, q. 402–409). Conversas afetuosas, feitas com calma e amor, podem alcançar o Espírito, fortalecendo sua aceitação da encarnação.

2.2 Irradiação mental e fluídica

A Doutrina Espírita ensina que o Espírito, por meio do pensamento e da vontade, pode atuar sobre os fluidos, transmitindo-lhes qualidades benéficas (O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 176). Essa ação, conhecida como irradiação fluídica, pode ser direcionada com sentimentos de amor, paz e equilíbrio, alcançando o Espírito reencarnado na condição de autista.

Assim, os familiares podem mentalizar o ente querido envolto em luz serena e harmoniosa, associando pensamentos de acolhimento e encorajamento. Essa prática, somada à oração sincera, contribui para fortalecer o laço espiritual e auxiliar na adaptação do Espírito ao corpo físico..

2.3 Recursos espirituais

·         Passes magnéticos e água fluidificada auxiliam no equilíbrio energético.

·         Preces individuais favorecem a sintonia com os benfeitores espirituais.

·         Trabalhos de desobsessão, quando necessários, podem auxiliar casos de auto-obsessão, conforme alertado por Kardec na Revista Espírita.

2.4 Apoio familiar

A família desempenha papel essencial, devendo cultivar:

·         paciência e perseverança,

·         respeito e valorização da pessoa,

·         posturas cristãs de amor incondicional.

3. Integração entre Medicina e Espiritismo

O Espiritismo não descarta o acompanhamento médico. Ao contrário, recomenda-o insistentemente. Kardec adverte, na Revista Espírita (fev. 1865), que a ciência deve ser respeitada em seu campo de ação, e que o Espiritismo não vem substituí-la, mas iluminá-la sob nova ótica.

Assim, o tratamento integral do autismo deve unir:

  • abordagem médica e terapêutica, com acompanhamento psiquiátrico, psicológico e pedagógico;
  • apoio espiritual, por meio das práticas cristãs e espíritas de auxílio moral e energético.

 Conclusão

O autismo, visto pela ciência, é um desafio neuropsiquiátrico. Visto pela ótica espírita, é também oportunidade de evolução espiritual para o encarnado e sua família.

A Doutrina Espírita, ao esclarecer sobre a reencarnação e as causas anteriores das aflições, amplia a compreensão e sustenta a esperança. Ao mesmo tempo, convida à prática do amor, da paciência e da fé, recursos indispensáveis para o progresso espiritual.

A integração entre ciência e espiritualidade é o caminho mais seguro, pois une o tratamento clínico ao amparo moral e energético, em benefício do Espírito imortal.

Referências

  • BERNARDI, Ricardo Di. Gestação Sublime Intercâmbio. Florianópolis: Instituto de Cultura Espírita, 2000.
  • BERNARDI, Ricardo Di. Reencarnação e Evolução das Espécies. Florianópolis: Instituto de Cultura Espírita, 2002.
  • BERNARDI, Ricardo Di. Dos Faraós à Física Quântica. Florianópolis: Instituto de Cultura Espírita, 2006.
  • BERNARDI, Ricardo Di. Reencarnação em Xeque. Florianópolis: Instituto de Cultura Espírita, 2008.
  • BERNARDI, Ricardo Di. Voo Livre – Um estudo sobre reencarnação. Florianópolis: Instituto de Cultura Espírita, 2011.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido (André Luiz – Espírito). Evolução em Dois Mundos. Rio de Janeiro: FEB, 1958.
  • FRANCO, Divaldo Pereira (Joanna de Ângelis – Espírito). O Ser Consciente. Salvador: LEAL, 1993.

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