segunda-feira, 29 de setembro de 2025

A CÂMARA DE PASSE NA CASA ESPÍRITA:
ESPAÇO, SIMPLICIDADE E FINALIDADE DOUTRINÁRIA
- A Era do Espírito -

Introdução

O passe é uma das práticas mais conhecidas no ambiente espírita. Entendido como uma transfusão de energias espirituais e vitais, é um recurso de auxílio ao corpo e à alma, sempre associado à prece, à disciplina e à boa vontade do passista. Apesar de sua simplicidade, a organização do espaço destinado ao passe suscita dúvidas em muitos centros espíritas: qual deve ser o tamanho da sala? Como deve ser a iluminação? É correto utilizar perfumes ou incensos?

A Doutrina Espírita, conforme codificada por Allan Kardec, não prescreve rituais ou formalismos exteriores. No entanto, orienta quanto à necessidade de ordem, simplicidade e adequação dos ambientes às finalidades espirituais (cf. O Livro dos Médiuns, cap. XXIX). Nesse sentido, refletir sobre a chamada “câmara de passe” é refletir sobre a fidelidade aos princípios doutrinários e a importância de criar condições favoráveis para a assistência espiritual.

O Local do Passe: Função e Finalidade

Se possível, recomenda-se que a casa espírita disponha de um espaço específico para a aplicação dos passes, evitando-se o uso do ambiente para fins diversos. Isso favorece a concentração, o silêncio e a preparação mental de passistas e pacientes. Quando não é viável ter um local exclusivo, deve-se escolher o recinto mais adequado, zelando para que não haja circulação excessiva de pessoas ou armazenamento de objetos estranhos à atividade.

Dimensões e Organização do Espaço

Não há um tamanho ideal estabelecido para a câmara de passe. O que deve ser observado é a funcionalidade: a disposição dos assentos ou locais de atendimento deve permitir ao passista liberdade de movimento, respeitando-se pelo menos meio metro de distância entre os participantes. Essa organização simples já evita desconfortos físicos e garante fluidez no trabalho.

Iluminação e Ambiente

A luz excessivamente forte pode dispersar ou dificultar a harmonização do ambiente, enquanto a escuridão total pode gerar insegurança. Por isso, recomenda-se uma iluminação branda, geralmente com lâmpadas de baixa potência em tons suaves, criando um espaço acolhedor e equilibrado. O objetivo não é o efeito místico, mas a serenidade necessária para a tarefa espiritual.

Ventilação e Conforto

A ventilação adequada é essencial para evitar indisposições, sobretudo em atividades coletivas. Quando não houver janelas externas apropriadas, pode-se utilizar circuladores de ar ou aparelhos de ventilação silenciosos, que não interfiram na concentração. O conforto físico auxilia o paciente a manter-se receptivo e o passista a trabalhar com tranquilidade.

Aparelhos e Recursos Complementares

Aparelhos elétricos podem ser utilizados desde que atendam a finalidades práticas, como a ventilação ou a reprodução discreta de músicas suaves, voltadas à elevação espiritual. O Espiritismo não recomenda o uso de perfumes, incensos ou práticas exteriores de caráter místico, uma vez que a força do passe não reside em elementos materiais, mas na sintonia moral e espiritual do passista aliado à assistência dos benfeitores.

A Simplicidade como Essência

A prática do passe deve refletir a simplicidade evangélica e doutrinária. Sua eficácia não depende de aparatos externos ou da estrutura física em si, mas da preparação íntima do passista, da seriedade do ambiente e da receptividade do paciente. Como ensina a Doutrina Espírita: “a forma nada é, o pensamento é tudo” (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 28.).

Dessa forma, o cuidado com o espaço representa respeito e organização, favorecendo o recolhimento e a harmonia, mas nunca deve ser confundido com ritual ou superstição. O que realmente sustenta a prática do passe é a sintonia moral, a prece e a boa vontade de servir.

Conclusão

A câmara de passe é, antes de tudo, um espaço de serviço espiritual. Embora detalhes como iluminação, ventilação e organização física sejam importantes, eles devem sempre estar subordinados ao princípio maior do Espiritismo: a simplicidade e a ausência de práticas exteriores desnecessárias. Preparar o ambiente é preparar também a alma, lembrando que a verdadeira força do passe provém da boa vontade, da prece e da assistência espiritual que se faz presente quando o coração se abre para servir.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 63ª ed. FEB, 2017.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos volumes. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 103ª ed. FEB, 2019.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade. 52ª ed. FEB, 2015.

 

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