Introdução
O
passe é uma das práticas mais conhecidas no ambiente espírita. Entendido como
uma transfusão de energias espirituais e vitais, é um recurso de auxílio ao
corpo e à alma, sempre associado à prece, à disciplina e à boa vontade do
passista. Apesar de sua simplicidade, a organização do espaço destinado ao
passe suscita dúvidas em muitos centros espíritas: qual deve ser o tamanho da
sala? Como deve ser a iluminação? É correto utilizar perfumes ou incensos?
A
Doutrina Espírita, conforme codificada por Allan Kardec, não prescreve rituais
ou formalismos exteriores. No entanto, orienta quanto à necessidade de ordem,
simplicidade e adequação dos ambientes às finalidades espirituais (cf. O
Livro dos Médiuns, cap. XXIX). Nesse sentido, refletir sobre a chamada
“câmara de passe” é refletir sobre a fidelidade aos princípios doutrinários e a
importância de criar condições favoráveis para a assistência espiritual.
O Local do Passe: Função e Finalidade
Se
possível, recomenda-se que a casa espírita disponha de um espaço específico
para a aplicação dos passes, evitando-se o uso do ambiente para fins diversos.
Isso favorece a concentração, o silêncio e a preparação mental de passistas e
pacientes. Quando não é viável ter um local exclusivo, deve-se escolher o
recinto mais adequado, zelando para que não haja circulação excessiva de
pessoas ou armazenamento de objetos estranhos à atividade.
Dimensões e Organização do Espaço
Não há
um tamanho ideal estabelecido para a câmara de passe. O que deve ser observado
é a funcionalidade: a disposição dos assentos ou locais de atendimento deve
permitir ao passista liberdade de movimento, respeitando-se pelo menos meio
metro de distância entre os participantes. Essa organização simples já evita
desconfortos físicos e garante fluidez no trabalho.
Iluminação e Ambiente
A luz
excessivamente forte pode dispersar ou dificultar a harmonização do ambiente,
enquanto a escuridão total pode gerar insegurança. Por isso, recomenda-se uma
iluminação branda, geralmente com lâmpadas de baixa potência em tons suaves,
criando um espaço acolhedor e equilibrado. O objetivo não é o efeito místico,
mas a serenidade necessária para a tarefa espiritual.
Ventilação e Conforto
A
ventilação adequada é essencial para evitar indisposições, sobretudo em
atividades coletivas. Quando não houver janelas externas apropriadas, pode-se
utilizar circuladores de ar ou aparelhos de ventilação silenciosos, que não interfiram
na concentração. O conforto físico auxilia o paciente a manter-se receptivo e o
passista a trabalhar com tranquilidade.
Aparelhos e Recursos Complementares
Aparelhos
elétricos podem ser utilizados desde que atendam a finalidades práticas, como a
ventilação ou a reprodução discreta de músicas suaves, voltadas à elevação
espiritual. O Espiritismo não recomenda o uso de perfumes, incensos ou práticas
exteriores de caráter místico, uma vez que a força do passe não reside em
elementos materiais, mas na sintonia moral e espiritual do passista aliado à
assistência dos benfeitores.
A Simplicidade como Essência
A
prática do passe deve refletir a simplicidade evangélica e doutrinária. Sua
eficácia não depende de aparatos externos ou da estrutura física em si, mas da
preparação íntima do passista, da seriedade do ambiente e da receptividade do
paciente. Como ensina a Doutrina Espírita: “a forma nada é, o pensamento é
tudo” (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 28.).
Dessa
forma, o cuidado com o espaço representa respeito e organização, favorecendo o
recolhimento e a harmonia, mas nunca deve ser confundido com ritual ou
superstição. O que realmente sustenta a prática do passe é a sintonia moral, a
prece e a boa vontade de servir.
Conclusão
A
câmara de passe é, antes de tudo, um espaço de serviço espiritual. Embora
detalhes como iluminação, ventilação e organização física sejam importantes,
eles devem sempre estar subordinados ao princípio maior do Espiritismo: a
simplicidade e a ausência de práticas exteriores desnecessárias. Preparar o
ambiente é preparar também a alma, lembrando que a verdadeira força do passe
provém da boa vontade, da prece e da assistência espiritual que se faz presente
quando o coração se abre para servir.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 63ª ed. FEB, 2017.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869). Diversos volumes. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 103ª ed. FEB, 2019.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nos Domínios da Mediunidade.
52ª ed. FEB, 2015.
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