Introdução
O
passe espírita, também chamado de transfusão fluídica ou fluidoterapia, é uma
prática consolidada nos centros espíritas, aplicada de forma gratuita e com
base nos princípios evangélicos e doutrinários. Longe de ser um ritual místico,
trata-se de uma ação simples de doação de fluidos, em que o passista atua como
intermediário, canalizando recursos espirituais que auxiliam o equilíbrio
físico e psíquico do paciente.
Embora
ainda pouco explorado pela medicina acadêmica no Brasil, pesquisas realizadas
desde a década de 1980 demonstram que o passe pode produzir efeitos
significativos em quadros de distúrbios do sono e em condições emocionais que
afetam especialmente crianças. Estudos conduzidos por psicólogas da
Universidade de São Paulo (USP) com cerca de duas mil crianças mostraram que a
técnica reduzia sintomas como pesadelos, sonambulismo e insônia, indicando
benefícios clínicos e abrindo espaço para novas investigações científicas.
Passe Espírita e a Doutrina Codificada
Do
ponto de vista doutrinário, o passe é compreendido como um processo de intercâmbio
fluídico. Em O Livro dos Médiuns (Segunda Parte, cap. XIV), Allan
Kardec já explicava que os fluidos espirituais, combinados com os fluidos
humanos, podem produzir efeitos benéficos sobre o organismo. Na Revista
Espírita (fevereiro de 1865), o Codificador também ressaltou que “o pensamento e a vontade são para os
Espíritos o que a mão é para o homem”. Assim, no passe, é a vontade bem
direcionada, associada à assistência dos bons Espíritos, que dá eficácia ao
recurso.
A
Doutrina Espírita, portanto, afasta qualquer ideia de superstição ou de
automatismo. A eficácia não está em gestos ou fórmulas exteriores, mas na
qualidade moral do passista, na sintonia espiritual estabelecida e na
receptividade do paciente. O passe é uma extensão da caridade, fundamentada no
princípio evangélico de que “de graça
recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8).
O Passe e a Ciência Atual
Atualmente,
há um movimento crescente de integração entre espiritualidade e saúde.
Pesquisas em áreas como a psicologia transpessoal e a neurociência têm
reconhecido os efeitos positivos da fé, da oração e das práticas de cuidado
espiritual no bem-estar e na recuperação de pacientes. Ainda que o Espiritismo
não dependa da validação científica para existir, a comprovação de efeitos
benéficos do passe abre campo para diálogo construtivo com a medicina e para
estudos interdisciplinares que ampliem a compreensão da saúde integral do ser
humano.
Conclusão
O
passe espírita não substitui os tratamentos médicos, mas os complementa,
oferecendo recursos de ordem espiritual que contribuem para a harmonização do
corpo e da alma. É uma prática coerente com os princípios da Doutrina Espírita,
que valoriza a simplicidade, a gratuidade e o serviço ao próximo. Ao mesmo
tempo, constitui uma oportunidade de aproximação entre ciência e
espiritualidade, favorecendo uma visão mais ampla e humanizada da saúde.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. 2ª parte, cap. XIV.
- KARDEC, Allan. A
Revista Espírita (1858-1869).
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. A
Gênese.
- ANDRADE, Maria
Regina; CRUZ, Jacira Lopes Rodrigues da. Pesquisa sobre distúrbios do sono
em crianças e efeitos do passe. USP, 1989.
- SILVEIRA,
Jefferson. “Passe espírita comprovado por estudo”. Revista Contigo,
nº 630, 19/10/1987.
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