Introdução
Desde os primórdios, o ser humano busca compreender
a sua origem, a razão de sua existência e o seu destino futuro. A Doutrina
Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece respostas claras e racionais a
essas questões, baseando-se no ensino dos Espíritos superiores. Segundo essa
visão, todos os Espíritos foram criados simples e ignorantes, destinados ao
progresso intelectual e moral.
Esse desenvolvimento não ocorre de maneira uniforme
ou em uma só existência, mas por meio da pluralidade das vidas, onde o
Espírito, pela experiência, pela prova e pelo esforço de superação, conquista
gradualmente a sabedoria e a virtude. O progresso é, portanto, uma lei
universal: ninguém está condenado à estagnação e todos são chamados a
participar da marcha ascendente da humanidade rumo à perfeição.
A
infância espiritual e o estado natural
Em O Livro dos Espíritos, aprendemos que a
criação espiritual tem como ponto de partida a simplicidade e a ignorância (q.
115). Isso significa que nenhum Espírito foi criado perfeito: todos iniciam sua
trajetória como uma criança que precisa aprender a falar, andar e discernir. O
chamado “estado natural” é, portanto, a infância do Espírito, fase transitória
em que ele ainda não desenvolveu plenamente suas faculdades.
Assim como o homem não permanece na infância do
corpo, o Espírito não pode permanecer perpetuamente na infância da alma. O
desenvolvimento moral e intelectual é uma exigência da própria lei divina, que
impele todas as criaturas à perfeição (q. 776).
A lei do
progresso e a reencarnação
O progresso se realiza pela reencarnação, princípio
fundamental do Espiritismo. A cada nova existência, o Espírito dá um passo
adiante, adquirindo maior inteligência e melhores condições de distinguir entre
o bem e o mal (q. 166 e seguintes).
A pluralidade das existências revela a justiça
divina, pois assegura a todos as mesmas oportunidades. Sem essa lei, restaria
inexplicável a desigualdade das condições humanas, já que alguns pareceriam
nascer privilegiados, enquanto outros permaneceriam na ignorância ou no
sofrimento sem justa razão.
Na Revista Espírita, Kardec frequentemente
reforça essa ideia ao comentar os fenômenos sociais: o progresso dos povos, as
revoluções morais e até as transformações políticas não são frutos do acaso,
mas da lei de progresso que governa a humanidade. A cada geração, Espíritos
mais adiantados retornam para acelerar o desenvolvimento coletivo, enquanto os
menos adiantados encontram meios de reparar faltas passadas e aprender com
novas experiências.
Progresso
intelectual e moral
Embora caminhem juntos, o progresso intelectual e o
moral não se desenvolvem sempre no mesmo ritmo. O homem pode avançar na ciência
e permanecer atrasado moralmente. O orgulho e o egoísmo são apontados por
Kardec como os maiores obstáculos ao progresso espiritual (q. 785).
No entanto, o conhecimento adquirido jamais se
perde (q. 118). Mesmo que um Espírito permaneça estacionário por algum tempo,
ele não retrograda. A marcha ascendente é inexorável, pois faz parte dos
desígnios de Deus.
A perfeição moral, que é o objetivo último do
Espírito, encontra sua essência na caridade em sua mais ampla acepção. Como
destaca O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 2), a verdadeira
perfeição não está apenas em dominar más inclinações, mas sobretudo em ampliar
o amor ao próximo.
O papel
da consciência e da responsabilidade individual
Ao retornar ao mundo espiritual, o Espírito tem
plena consciência de suas faltas e percebe a justiça da lei divina (q. 392 e
seguintes). Busca, então, novas provas e expiações que o auxiliem a reparar os
erros e a fortalecer as virtudes.
Durante a encarnação, não conserva lembrança exata
do passado, mas carrega em si as tendências e a intuição moral. Essa intuição é
a voz da consciência, expressão da lei de Deus gravada em cada ser (q. 620).
Cabe ao Espírito o esforço de superar más
inclinações e de praticar o bem. Nenhum progresso é imposto de fora: a evolução
é obra de si mesmo, embora auxiliada pela lei de solidariedade, que faz com que
os mais adiantados ajudem os menos adiantados.
O
progresso da humanidade
O progresso individual reflete-se no progresso
coletivo. Os povos avançam gradualmente, e quando resistem à marcha natural, a
própria Providência suscita transformações, às vezes por meio de grandes
comoções sociais e revoluções (q. 783).
Essas crises, embora pareçam desordem momentânea,
são mecanismos de renovação, comparáveis à tempestade que purifica o ar. A
humanidade progride porque os Espíritos que a compõem se transformam e retornam
em condições melhores, trazendo experiências e conquistas de vidas anteriores.
Assim se explica por que povos outrora bárbaros se
tornam civilizados: são os mesmos Espíritos, reencarnados em novos contextos,
que aproveitam os frutos do progresso coletivo. Essa visão só é possível pela
doutrina da reencarnação. Sem ela, seria necessário admitir favoritismos
divinos e desigualdades irreconciliáveis.
Conclusão
O Espiritismo ensina que o progresso é lei universal.
Criados simples e ignorantes, todos os Espíritos têm diante de si o mesmo
destino: a perfeição. Nenhum será deserdado, e mesmo os mais atrasados
alcançarão, um dia, a felicidade suprema.
Esse progresso se realiza pela reencarnação, pela
luta contra as más inclinações e pela vivência da caridade. A humanidade, em
sua marcha, avança através dos indivíduos que se transformam, iluminando os
caminhos da coletividade.
Como ressalta Kardec, o verdadeiro sinal de
civilização não está apenas nas conquistas materiais, mas na moralidade, na
fraternidade e no respeito à justiça divina. Quando as leis humanas se
harmonizarem com a lei de Deus, então a Terra abrigará uma humanidade renovada,
onde a paz e a caridade serão a regra da convivência.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83ª ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1999.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 91ª ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2000.
- KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos
(1858-1869). Trad. FEB.
- XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois
Mundos. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 2003.
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