sábado, 20 de setembro de 2025

A REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA: 
UMA LEITURA À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A reencarnação é um dos princípios centrais da Doutrina Espírita, apresentada por Allan Kardec como Lei Natural, manifestação da justiça e da bondade de Deus. Longe de ser uma invenção moderna, a ideia da pluralidade das existências encontra respaldo tanto na razão quanto em registros milenares.

No campo religioso, especialmente no cristianismo, a reencarnação é frequentemente contestada, em grande parte devido a interpretações restritivas das Escrituras. Contudo, uma leitura cuidadosa da Bíblia, em diálogo com a lógica espírita, permite perceber que a reencarnação está implícita em diversos trechos, sendo a única explicação capaz de conciliar as aparentes desigualdades da vida com a justiça divina.

Este artigo analisa a presença da reencarnação na Bíblia, à luz da Doutrina Espírita codificada por Kardec, da Revista Espírita (1858-1869) e de obras complementares, buscando mostrar sua coerência lógica e moral.

1. A lógica da reencarnação

Sem a reencarnação, torna-se impossível atribuir justiça a Deus. Afinal, como explicar as desigualdades sociais, físicas e morais do mundo?

  • Por que uns nascem com saúde e outros doentes?
  • Por que uns têm facilidades intelectuais, enquanto outros enfrentam grandes dificuldades?
  • Por que uns morrem na infância e outros alcançam idade avançada?
  • Por que alguns vivem em lares de paz, enquanto outros nascem em ambientes de violência ou guerras?

Se admitíssemos apenas uma existência corpórea, Deus pareceria parcial, privilegiando uns e punindo outros sem causa justa. A reencarnação, porém, revela-se como mecanismo de igualdade e oportunidade, no qual cada Espírito, em sucessivas vidas, recolhe os frutos de suas escolhas e tem novas chances de progresso.

2. O testemunho bíblico

Embora a palavra reencarnação não apareça na Bíblia, a ideia está presente em diversos trechos.

2.1. “Nascer de novo”

Em diálogo com Nicodemos, Jesus afirmou:

“Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus.” (João 3:3)

A interpretação literal de Nicodemos (“pode, porventura, voltar ao ventre materno?”) é corrigida por Jesus, que esclarece a necessidade de um novo nascimento espiritual. A leitura espírita entende esse trecho como referência direta à reencarnação.

2.2. Elias e João Batista

O exemplo mais claro está na relação entre Elias e João Batista. Jesus afirmou explicitamente:

“E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 11:14-15)

Além disso, as semelhanças de missão, conduta e até destino (Elias matou profetas, João Batista foi decapitado) confirmam a lei de causa e efeito em ação.

2.3. Outras passagens

·         Jó 1:21: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá.” – referência ao retorno do Espírito ao plano espiritual.

·         Isaías 48:8: descreve alguém já como transgressor “desde o ventre”, o que só pode ser explicado pela existência anterior do Espírito.

3. Equívocos comuns: ressurreição x reencarnação

Muitos confundem os termos “ressurreição” e “reencarnação”. No tempo de Jesus, a crença popular era de que o Espírito retornaria ao mesmo corpo após a morte. Assim, os evangelistas usaram o termo “ressurreição”, quando, em verdade, a Doutrina Espírita esclarece que o Espírito volta em novo corpo, com nova identidade.

O próprio Cristo, ao dizer que ressurgiria ao terceiro dia, não se referia a uma reencarnação, mas a sua reaparição em corpo espiritual, fenômeno presenciado pelos discípulos.

4. O esquecimento do passado

A Bíblia registra que João Batista negou ser Elias (João 1:21). À primeira vista, pareceria uma contradição. Contudo, o Espiritismo explica: durante a encarnação, o Espírito passa pelo esquecimento temporário das vidas anteriores, mecanismo pedagógico que garante o mérito das conquistas atuais e protege contra o peso das culpas passadas.

Esse esquecimento não apaga, porém, as tendências, aptidões e habilidades adquiridas, visíveis em crianças que demonstram talentos precoces ou tendências morais desde cedo.

5. Atualidade do tema

A ciência moderna, sobretudo por meio dos estudos da psicologia e da psiquiatria (casos de lembranças espontâneas de vidas passadas, como documentados por Ian Stevenson), reforça a tese da reencarnação. Esses registros dialogam diretamente com a explicação espírita sobre memórias sutis da alma que sobrevivem ao tempo.

Diante das crises atuais — desigualdades sociais, guerras, preconceitos —, a reencarnação se apresenta como resposta lógica e consoladora, pois revela que ninguém está condenado eternamente, e todos caminham rumo à perfeição por meio da lei do progresso.

Conclusão

A Bíblia, quando lida de forma ampla e à luz da razão, oferece claros indícios da reencarnação. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, não apenas confirma essas passagens como lhes confere sentido lógico, mostrando que a pluralidade das existências é a única forma de conciliar a justiça, a bondade e a misericórdia de Deus com as aparentes desigualdades da vida.

Jesus ensinou que é preciso “nascer de novo” para alcançar o Reino de Deus. Esse renascimento é o processo da reencarnação — oportunidade bendita de reconstrução, aprendizado e progresso.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. FEB, 1939.
  • STEVENSON, Ian. Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. 1974.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A EDUCAÇÃO COMO CHAVE DA EVOLUÇÃO MORAL - A Era do Espírito - Introdução A questão “é possível evolução sem educação?” é uma indagação que...