Introdução
Diante da dor prolongada de um ente querido, muitos
se questionam sobre o sentido da vida e da morte. A ideia de abreviar a
existência através da eutanásia surge em debates, filmes e documentários,
muitas vezes como aparente solução para sofrimentos considerados incuráveis.
Mas será que a morte forçada é realmente um alívio?
À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan
Kardec, e em consonância com estudos complementares, compreendemos que a vida é
um bem sagrado, cuja duração obedece a uma lei superior: a lei de Deus. O
sofrimento, longe de ser um castigo, pode se converter em valiosa oportunidade
de renovação, aprendizado e transformação espiritual.
O Valor
do Tempo na Vida do Espírito
O episódio da senhora enferma, que transformou sua
rudeza em delicadeza e descobriu a riqueza dos laços afetivos nos últimos meses
de vida, mostra como cada minuto pode ser decisivo.
Em O Livro dos Espíritos, questão 957, os
Espíritos afirmam que “a morte voluntária é uma falta perante Deus, pois
interrompe sem necessidade a prova que deveria suportar”. Já na questão 922,
aprendemos que a verdadeira felicidade na Terra não está na ausência de dores,
mas no consolo da consciência tranquila e na fé no futuro.
Assim, mesmo nos quadros de doença incurável, a
vida não perde sentido. Um instante pode conter a oportunidade de
reconciliação, de gratidão, de pedir perdão ou simplesmente de despertar para
uma nova forma de enxergar a existência.
Sofrimento
e Transformação: a Lagarta e a Borboleta
A paciente que se mostrava intratável converteu seu
pânico em confiança quando recebeu atenção, diálogo e afeto. No contato com
médicos, enfermeiros, capelão e psiquiatra, encontrou uma nova família, que lhe
ofereceu não apenas cuidados, mas acolhimento humano.
Esse processo lembra a simbologia da lagarta que se
transforma em borboleta — metáfora também presente no Espiritismo. Kardec, em A
Gênese, capítulo XI, explica que a dor, sendo uma consequência natural das
imperfeições, impulsiona o Espírito à depuração. Assim, o sofrimento pode se
tornar “a grande alavanca do progresso moral”.
A paciente, em sua experiência terminal, pôde
finalmente dizer: “Vivi mais nos três últimos meses do que durante toda a minha
vida”. Eis a prova de que o tempo, quando vivido com consciência e amor, pode
condensar em dias a riqueza que décadas de indiferença não ofereceram.
O Sentido
da Vida e da Morte à Luz do Espiritismo
Segundo O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo V, “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”. A dor não é
um fim em si mesma, mas um instrumento de crescimento. A vida, por mais breve
que pareça, nunca é inútil: cada instante pode carregar uma semente de luz para
o Espírito imortal.
Quando se cogita a antecipação da morte, perde-se
de vista que os últimos momentos podem ser decisivos para a libertação
interior. Elisabeth Kübler-Ross, em seus estudos sobre pacientes terminais,
confirma que, muitas vezes, os instantes finais são aqueles em que a pessoa
encontra mais sentido, reconciliação e paz. O Espiritismo acrescenta: esses
instantes podem representar conquistas que o Espírito levará consigo para a
eternidade.
Conclusão
O tempo é um tesouro inestimável. Para o doente
incurável, cada minuto pode significar a possibilidade de transformar a dor em
esperança, o desespero em fé, a solidão em afeto. A Doutrina Espírita nos
mostra que não cabe ao homem abreviar a vida, mas sim aproveitá-la em todas as
suas etapas como oportunidade de evolução.
Assim como a lagarta se converte em borboleta,
também o Espírito, na escola da dor, pode alçar voo para novas dimensões de
consciência e amor.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. FEB.
- Revista Espírita (1858-1869), Allan Kardec.
- Momento Espírita. A transformação da lagarta. Disponível em:
https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7090&stat=0.
- KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Morte: estágio final da evolução.
Rio de Janeiro: Nova Era.
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