terça-feira, 2 de setembro de 2025


CURA DE UMA FRATURA PELA MAGNETIZAÇÃO ESPIRITUAL
UM ESTUDO COM BASE NA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

Entre os diversos relatos publicados na Revista Espírita por Allan Kardec (1858–1869), encontra-se um dos casos mais singulares e debatidos: a cura de uma fratura pela magnetização espiritual, ocorrido em Montauban, França, em 1865. O episódio, testemunhado por diversos adeptos, descreve a recuperação quase imediata da médium Sra. Maurel, após uma queda que lhe fraturou o antebraço.

Sob a assistência espiritual do doutor Demeure — médico falecido meses antes —, o tratamento teria sido conduzido por meio de passes, manipulações fluídicas e uma magnetização realizada em estado sonambúlico. O caso ganhou relevância não apenas pela rapidez da recuperação, mas também por ilustrar, de modo vívido, a tese espírita sobre a ação dos Espíritos sobre a matéria.

A Magnetização Espiritual no Contexto Espírita

Kardec, nas obras da Codificação, distingue o magnetismo humano da ação espiritual. Enquanto o primeiro decorre da transmissão de fluidos vitais do magnetizador para o paciente, o segundo envolve a intervenção direta dos Espíritos, que utilizam o perispírito como veículo de manipulação fluídica.

No caso da Sra. Maurel, a cura teria se processado pela conjugação de duas forças:

  1. A corrente fluídica dos encarnados presentes, formando a chamada “cadeia magnética”,
  2. A ação inteligente dos Espíritos, capazes de direcionar e potencializar os fluidos com maior precisão do que um magnetizador humano.

Esse entendimento ecoa passagens de O Livro dos Médiuns (1861), onde Kardec descreve a influência fluídica dos desencarnados, e de A Gênese (1868), que trata da interação entre perispírito, fluido universal e fenômenos de cura.

A Repercussão do Caso

A narrativa publicada em setembro de 1865 enfatiza a perplexidade da sociedade local diante do fenômeno. Enquanto alguns atribuíam a cura a causas naturais, outros recorriam à ideia de milagre ou intervenção diabólica. Para os espíritas, contudo, tratava-se da demonstração clara da aplicação de leis naturais ainda desconhecidas pela ciência oficial.

Kardec observa que a experiência não se explica por sugestão ou alucinação, já que:

  • A fratura fora constatada por testemunhas, inclusive médicos,
  • As dores físicas eram reais,
  • A recuperação funcional do braço se deu em prazo muito inferior ao esperado pela medicina da época.

Assim, o episódio se insere na lógica progressiva defendida pelo Espiritismo: não se trata de negar a ciência, mas de complementá-la, revelando novos aspectos das forças da natureza.

Considerações Finais

O relato da cura da Sra. Maurel não deve ser interpretado como um milagre, mas como um testemunho das possibilidades da ação espiritual aliada ao magnetismo humano. Para os estudiosos do Espiritismo, constitui um exemplo notável da interação entre mundo material e espiritual, bem como um convite a refletir sobre os limites atuais da ciência médica diante de fenômenos que desafiam paradigmas estabelecidos.

Mais do que um registro de época, a narrativa preservada na Revista Espírita simboliza a proposta espírita: integrar fé e razão, investigando os fatos de forma metódica, sem prescindir da dimensão espiritual da existência.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1ª ed. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1ª ed. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Ano VIII, setembro de 1865.
  • MACHADO, Carlos Imbassahy. O Espiritismo, a Medicina e o Magnetismo. FEB, 2001.
  • WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: A História do Codificador. FEB, 1979.

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