segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O DISCERNIMENTO NA PUBLICAÇÃO
DAS COMUNICAÇÕES MEDIÚNICAS
- A Era do Espírito -

Introdução

O Espiritismo, desde suas origens, sempre destacou a importância do critério e do estudo diante das manifestações espirituais. As comunicações recebidas pelos médiuns, embora preciosas como testemunhos da sobrevivência da alma e como meios de instrução moral, não podem ser aceitas sem análise. A Revista Espírita de Maio de 1863, dirigida por Allan Kardec, nos traz profundas reflexões sobre a necessidade de examinar cuidadosamente os textos mediúnicos, sobretudo quando destinados à publicidade.

Naquele tempo, Kardec recebeu milhares de mensagens de diferentes grupos e médiuns, mas nem todas eram publicáveis, ainda que muitas contivessem bons conselhos e ensinamentos morais. Essa constatação é atualíssima: hoje, assim como ontem, o movimento espírita é chamado à vigilância, ao estudo comparado e ao cuidado para que apenas comunicações sérias e instrutivas sejam difundidas.

A Multiplicidade das Comunicações

Kardec relata ter recebido mais de três mil e seiscentas mensagens de diferentes lugares, das quais apenas uma pequena parte tinha mérito suficiente para ser publicada. Isso demonstra que a abundância de comunicações não significa, por si só, qualidade doutrinária.

Essa realidade encontra fundamento em O Livro dos Médiuns (2ª parte, cap. XX, item 230), onde Kardec alerta que:

“Não é suficiente que uma comunicação seja assinada por um grande nome para que seja boa; é preciso, antes de tudo, que seja digna desse nome, e que o estilo nada tenha que desdiga da elevação do Espírito que se apresenta.”

Logo, a prudência no exame é indispensável, pois Espíritos mistificadores podem usar nomes venerados para induzir os encarnados em erro.

O Papel do Grupo Espírita no Controle da Comunicação

Outro ponto de destaque no texto é a observação de que as comunicações de qualidade duvidosa eram quase sempre oriundas de médiuns isolados. O isolamento favorece a fascinação, ao passo que o trabalho em grupo oferece um controle saudável, pela multiplicidade de opiniões e pelo estudo coletivo.

Em O Livro dos Médiuns (cap. XXVII, item 303), Kardec reforça:

“A melhor garantia de autenticidade das comunicações está no controle universal.”

Ou seja, as mensagens devem ser comparadas com outras recebidas em diferentes centros, verificando a concordância dos ensinos. Essa universalidade é um selo da autenticidade e uma defesa contra a influência de Espíritos mistificadores.

O Progresso do Ensino dos Espíritos

A Revista Espírita de 1863 também destaca que, com o tempo, a qualidade das comunicações evoluiu. O que antes era considerado notável, com o amadurecimento do movimento e dos médiuns, passou a ser visto como pueril. Esse progresso reflete a lei natural de evolução e a elevação gradual dos ensinos dos Espíritos conforme a humanidade se mostra preparada para recebê-los.

Esse ponto está em harmonia com o que A Gênese (cap. I, item 36) ensina sobre a revelação progressiva:

“O Espiritismo marcha com o progresso; nunca será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará.”

Portanto, é natural que mensagens que pareciam elevadas em um período percam seu valor instrutivo diante de novas luzes trazidas pelos Espíritos Superiores.

A Necessidade de Escolha e Oportunidade

Kardec adverte que nem todas as comunicações, ainda que boas em si mesmas, são dignas de publicidade. É necessário avaliar não apenas o conteúdo, mas também o momento oportuno da publicação, considerando os efeitos morais e a repercussão que poderão ter.

Em Obras Póstumas (Primeira Parte – item “Controle Universal do Ensino dos Espíritos”), Kardec ensina que a Doutrina Espírita deve se apoiar em uma base sólida de raciocínio e prudência, para não comprometer sua credibilidade com textos medíocres ou intempestivos.

Assim, publicar mensagens fracas ou confusas pode fazer mais mal do que bem, ao passo que selecionar com critério garante a seriedade e a autoridade moral da Doutrina.

O Perigo da Obsessão e da Presunção

Entre os manuscritos recebidos por Kardec, muitos apresentavam sinais claros de obsessão espiritual, especialmente quando acompanhados da insistência do Espírito em que fossem impressos. Esse é um critério fundamental de desconfiança: os bons Espíritos jamais impõem; aconselham, mas deixam aos encarnados a responsabilidade da decisão.

Em O Livro dos Médiuns (cap. XXIII, item 252), encontramos:

“Os bons Espíritos dão conselhos; os maus ordenam. O sábio não se impõe, aconselha.”

Portanto, a presunção, a vaidade e a falta de humildade são sempre indícios de influências inferiores, que devem ser reconhecidas e combatidas pelo estudo, pela prece e pelo trabalho coletivo.

Conclusão

O exame criterioso das comunicações mediúnicas é um dever de todo espírita sério. Kardec nos ensina que mais vale pecar por excesso de prudência do que expor a Doutrina ao ridículo ou à confusão.

A mediunidade é instrumento sagrado, mas deve ser iluminada pelo estudo, pelo discernimento e pela humildade. As comunicações que merecem ser difundidas não são aquelas que massageiam o orgulho humano, mas as que edificam, consolam e instruem, de acordo com a moral do Evangelho e com a universalidade dos ensinos dos Espíritos Superiores.

Assim, o Espiritismo preserva sua seriedade e sua missão de consolar e esclarecer a humanidade, mantendo-se fiel ao lema da codificação espírita: “Só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.”

Referências

  • KARDEC, Allan. Revista Espírita, Maio de 1863.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª parte, capítulos XX e XXVII.
  • KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Primeira Parte.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. Cap. I.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução.

 

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