Introdução
A
violência, em suas múltiplas formas, tornou-se presença constante no cotidiano
da humanidade. Notícias de crimes, guerras e tragédias invadem nossos lares por
meio da televisão, da internet e das redes sociais, gerando medo, banalização e
até certa indiferença diante do sofrimento alheio. Contudo, à luz da O Livro
dos Espíritos, entendemos que a vida é um bem sagrado concedido por Deus, e sua
violação representa uma grave ofensa às Leis Divinas.
Na
questão 746 da obra, os Espíritos Superiores respondem de forma categórica:
“Sim,
um grande crime, pois aquele que tira a vida a um semelhante interrompe uma
vida de expiação ou de missão, e nisso está o mal.”
Essa
afirmativa reforça que não temos o direito de atentar contra a vida de ninguém
— nem mesmo a nossa — pois cada existência possui um propósito educativo e
redentor. Interromper esse processo é ferir a Lei de Deus.
A Banalização da Violência e Seus Efeitos
Nas
últimas décadas, vivenciamos um bombardeio de notícias violentas. Crimes são
apresentados de forma repetitiva e sensacionalista, muitas vezes explorando a
dor alheia como espetáculo. Essa exposição constante provoca um efeito
perigoso: a naturalização da violência.
Tal
como ocorreu durante a guerra civil no Líbano nos anos 1980 — quando muitos
habitantes de Beirute afirmavam ter “se acostumado” às bombas e tiros — também
nos acostumamos, pouco a pouco, com os atos violentos que ocorrem em nossas
cidades. Piadas sobre agressões, chacinas tratadas como mero entretenimento e
tragédias familiares transformadas em programas sensacionalistas revelam como o
valor da vida tem sido relativizado.
Segundo
o Espiritismo, essa indiferença não condiz com a Lei de Conservação, uma das
Leis Naturais descritas por Allan Kardec. A vida, seja em qualquer estágio,
deve ser respeitada e preservada, pois é instrumento de progresso espiritual.
Causas da Violência: Para Além da Miséria Material
Costuma-se
apontar a miséria e a desigualdade como as principais causas da violência. Sem
dúvida, tais fatores contribuem e precisam ser combatidos. No entanto, vemos
crimes também entre os mais ricos e instruídos. Isso revela que a raiz mais
profunda da violência está na degradação moral da humanidade.
Allan
Kardec já observava, na Revista Espírita, que o verdadeiro progresso da
civilização não está apenas nas conquistas materiais, mas principalmente no
aprimoramento moral dos indivíduos. Sem valores éticos, a inteligência se torna
instrumento de destruição.
A
violência nasce quando o egoísmo suplanta a fraternidade. Enquanto não
compreendermos que todos somos irmãos, filhos de um mesmo Pai, continuaremos
repetindo ciclos de ódio, vingança e sofrimento que se prolongam por várias
existências reencarnatórias.
Como Romper o Ciclo da Violência
Seguindo
os ensinamentos de Jesus Cristo — “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” —,
o Espiritismo nos propõe caminhos práticos para transformar a realidade
violenta:
- Educar para a paz: Promover o respeito
à vida desde a infância, ensinando valores de solidariedade, empatia e
responsabilidade.
- Evitar o consumo de
violência como entretenimento: Não assistir nem compartilhar
conteúdos que banalizem o sofrimento humano.
- Cultivar a oração e
a vigilância mental: Manter pensamentos elevados, confiando na
proteção divina e buscando irradiar sentimentos de paz onde estivermos.
- Praticar a caridade
ativa:
Amparar os que sofrem, sejam vítimas ou até mesmo agressores arrependidos,
pois ambos são espíritos necessitados de amor e renovação moral.
- Não revidar o mal
com o mal:
Em caso de violência sofrida, preservar a vida em primeiro lugar,
entregando os bens materiais sem resistência e mantendo a serenidade.
Longe
de representar alienação, essas atitudes revelam maturidade espiritual e
responsabilidade cristã diante do mundo em que vivemos.
Conclusão
A
violência não é apenas um problema social, mas sobretudo um desafio moral e
espiritual da humanidade. Enquanto não gravarmos em nossos corações o valor
sagrado da vida, continuaremos alimentando o ciclo do sofrimento.
A
Doutrina Espírita nos convida a enxergar cada ser humano como um Espírito em
processo de evolução, merecedor de respeito, compaixão e oportunidades de
regeneração. Ao cultivarmos a paz em nossos pensamentos, palavras e ações,
colaboramos com a obra de Deus e com a construção de um mundo mais justo e
fraterno.
Referências
- O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec, 1857.
- Revista Espírita
(coleção de 1858 a 1869) – Allan Kardec.
- O Evangelho segundo
o Espiritismo – Allan Kardec, 1864.
- A Gênese – Allan
Kardec, 1868.
- Giovanni Bruno –
“Antídoto para a Violência”, revista Alavanca (Campinas), ano 44,
n. 447, setembro/outubro de 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário